Máscaras Imperiais

Julian Brzozowski

Uma máscara descansa, sem seu mascarado. Quem encara pelos buracos de seus olhos? Como podemos dizê-los, “olhos”, se não há corpo do lado de lá da máscara em descanso? O encarar resiste: a máscara encarna um rosto que não está lá e exige seu olhar, fita-nos em paciente indagação. Aqueles que chamamos de seus olhos são na verdade buracos vazios, são recortes: são marcas de passagem de um corpo que encarna e desencarna, veste e desveste, assume seu personagem e deixa-o ir. A primeira tentação frente a esse vazio, a melancolia da intangibilidade (pois o que o eterno encarar da máscara evidencia é que não há necessidade de um “lado de lá”), se acovarda frente a outra obviedade do buraco: o fato de que a força que nos colocou em movimento, o indagar da máscara e nossa troca de olhares, só começou pela pré-existência de um corpo que foi trazido em questão. Esse é o outro da máscara, quem encara pelos seus buracos-recorte. Não Um corpo, não corpus christi, mas antes a própria capacidade da máscara de fazer-se um lugar bem-vindo a esse corpo e àquele outro. O outro da máscara é sua instância de alteridade, seu ser e não ser, sua díspar disposição entre díspares corpos, sua invencível assimetria. O preço desse olhar, entretanto, é a intrusão, a resiliente inquietude da inapreensão completa: abrem-se, aqui, os portões do questionamento ético. O outro não se mantém no chiqueiro cuidadosamente perimetrado para sua contenção; o contido é o comum, heimliche, cliente da casa. O outro, que a máscara evoca em seu olhar, jamais encontra grilhão à sua estatura.

(Julian Brzozowski)

 


 

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