Crítica e imaginário na Literatura Sul-rio Grandense: uma análise de Pequenas Epifanias, de Caio Fernando Abreu

Simone Damasceno Guardalupe

RESUMO: Os estudos de Durand sobre a Teoria do Imaginário possibilitam a percepção das ideias nucleares sobre as quais constelam as imagens, permitindo o agrupamento dos diversos símbolos que há nos textos em torno dos núcleos centrais, orientando no caminho de acesso às suas significações. É com base nesses estudos que o presente trabalho tem como objetivo analisar sete crônicas do livro Pequenas Epifanias, de Caio Fernando Abreu.

PALAVRAS-CHAVE: literatura sul-rio-grandense; crônicas; análise simbólica.

ABSTRACT: Durand’s study on the Theory of Imaginary unfold the perception of nuclear ideas central to images. That clusters symbols in the text around a core and guide the access to their meanings. This is the standpoint from which the present paper aims to analyse seven narratives by Caio Fernando Abreu in this Pequenas Epifanias.

KEYWORDS: literature sul-rio-grandense; narratives; symbolic analysis.

 

Na linguagem humana muitas vezes o uso de sinais ou imagens não possui função exclusivamente descritiva. Em muitos casos, a palavra ou a imagem utilizada é simbólica, pois implica algo além do seu significado imediato. Uma das ocorrências mais comuns do uso da imagem simbólica se manifesta na literatura.

No texto literário, as palavras são escolhidas propositalmente para dar um sentido de recriação da realidade. Encontramos palavras ou imagens que podem evocar diversos significados, o que chamamos de linguagem figurada. Como explica Durand:

na linguagem, se a escolha do signo é insignificante porque este último é arbitrário, já não acontece o mesmo no domínio da imaginação em que a imagem – por mais degradada que possa ser concebida – é ela mesma portadora de um sentido que não deve ser procurado fora da significação imaginária”  (DURAND, 2002, p. 29)

Os estudos de Gilbert Durand sobre o imaginário nos permitem compreender melhor como o processo de construção de imagens se estabelece nos textos literários. O pesquisador propõe uma nova linha de pesquisa sobre os símbolos utilizados pelo homem – o “trajeto antropológico do imaginário” – que considera  os símbolos como o produto das interações do meio sociocultural, psicológico e biológico do homem.

O presente trabalho está inserido dentro do projeto “Crítica e Imaginário na Literatura Sul-rio-grandense Contemporânea” que tem como um de seus objetivos verificar como se estabelece a relação entre o imaginário simbólico e a literatura produzida no Rio Grande do Sul. A análise das obras literárias tem como referencial teórico os estudos sobre o imaginário realizados por Durand.

A proposta deste trabalho é uma discussão sobre as imagens simbólicas presentes nas crônicas reunidas no livro Pequenas Epifanias, do escritor gaúcho Caio Fernando Abreu. Sete textos foram selecionados: “Zero grau de Libra”, crônica publicada em setembro de 1986, no jornal O Estado de S.Paulo; “A morte dos girassóis”, publicada em março de 1995, no jornal Zero Hora; “Aos deuses de tudo que existe”, publicada em setembro de 1995, no jornal O Estado de S.Paulo e as quatro “Cartas para além do muro” escritas por Caio F.[i] entre abril de 1994 e dezembro de 1995, para o jornal O Estado de S. Paulo.

As sete crônicas, como se pode observar, foram publicadas em diferentes épocas da vida de Caio Fernando Abreu. A cronologia, bem como a temática e a utilização das imagens simbólicas, foram fatores importantes para a escolha dos textos.

A obra Pequenas Epifanias é composta de imagens simbólicas, cujo narrador vale-se delas ora para expor sentimentos, ora para fazer uma crítica a alguém ou a uma determinada situação. Por isso, para a análise dos textos de Caio Fernando Abreu, é interessante levar em conta também os temas abordados e o contexto em que as crônicas foram produzidas.

Caio Fernando Abreu e suas pequenas epifanias

Caio Fernando Abreu foi um jornalista e escritor de intensa atividade durante os anos de 1980 e 1990, e sua obra é constituída por temáticas urbanas e contemporâneas. Nas crônicas reunidas no livro Pequenas Epifanias pode-se observar o olhar do seu autor sobre diversas temáticas, como a situação política e econômica do país, a AIDS, o desencantamento do homem moderno com o mundo, a solidão e o caos das grandes cidades.

Pode-se notar também uma mudança na literatura produzida pelo escritor sul-rio-grandense em diversas épocas, poisPequenas Epifanias reúne crônicas publicadas entre os anos de 1985 e 1995, período em que a vida de Caio Fernando Abreu sofreu grandes mudanças. Em crônicas escritas nos anos de 1980, como “Zero grau de Libra” estão presentes a preocupação com a situação política do país, a desilusão com o mundo e com Deus e o olhar crítico com a situação do homem moderno que vive isolado em grandes centros urbanos:

e principalmente porque Deus, se é que existe, anda distraído demais, resolvi chamar a atenção dele para algumas coisas. Não que isso possa acordá-lo de seu imenso sono divino, enfastiado de humanos, mas para exercitar a fé – e para pedir, mesmo em vão, porque pedir não só é bom, mas às vezes é o que se pode fazer quando tudo vai mal. (ABREU, 2006, p. 40)

Ilumina o cotidiano dos funcionários públicos ou daqueles que, como funcionários públicos, cruzam-se nos corredores sem ao menos se verem – naqueles lugares onde um outro ser humano vai-se tornando aos poucos tão humano quanto uma mesa. (ABREU, 2006, p. 40)

Nesses trechos de “Zero grau de Libra” observam-se dois exemplos de temáticas citadas acima, como a desilusão com o mundo e com Deus e a crítica ao homem moderno.

Caio Fernando Abreu após descobrir ser portador do vírus HIV em 1994 publica crônicas com um olhar menos crítico e mais esperançoso sobre o mundo. Em textos como “A morte dos girassóis”, “Aos deuses de tudo que existe”, bem como nas crônicas intituladas como “Carta para além dos muros” a figura de Deus e a esperança aparecem de forma diferente dos textos da década de 80:

Então eu agradeço, eu tenho medo e espanto e terror e ao mesmo tempo maravilhamento e outras coisas com e sem nome, mas agradeço. Aos deuses dos jardins, aos deuses dos homens, aos deuses do tempo e até aos
das ervas daninhas que nos fazem lutar feito tigres feridos fundo no peito, sim eu agradeço. (ABREU, 2006, p. 109)

Façamos um brinde a todas as coisas que o senhor pôs na Terra para nosso deleite e terror. Brindemos à Vida- talvez seja esse o nome daquele cara, e não o que você imaginou. Embora sejam iguais. Sinônimos, indissociáveis. Feliz, feliz Natal. Merecemos. (ABREU, 2006, p. 196)

Observa-se que a partir da crônica “Segunda carta pra além dos muros”, publicada em 1994, a dúvida sobre a existência de Deus não está tão presente quanto em crônicas anteriores, como em “Zero grau de Libra”. A figura de Deus nas duas últimas citações está relacionada com a esperança, com a medicina e com a cura, ou pelo menos com o alívio dos sintomas da AIDS. Nos delírios relatados nas quatro “Cartas para além dos muros”, a figura dos enfermeiros e dos médicos muitas vezes é confundida com seres celestiais, e até mesmo com uma figura de Deus, que trazem ao paciente um pouco de alento.

Ler a obra de Caio Fernando Abreu, principalmente Pequenas Epifanias, nos permite conhecer suas impressões acerca do universo em que está inserido, bem como alguns de seus hábitos, pois o jornalista e escritor parte de experiências pessoais para a construção de sua obra literária, levando à criação de um mundo imaginário repleto de valores simbólicos. Um exemplo disso é a presença de temas ligados à jardinagem, como na crônica “A Morte dos Girassóis”. Essa crônica toma como inspiração o fato de Caio cultivar flores em sua casa: ”Mudando de assunto sem mudar propriamente, tenho aprendido muito com o jardim. Os girassóis, por exemplo, que vistos assim de fora parecem flores simples, fáceis, até um pouco brutas.” (ABREU, 2006, p. 145).

Ao recriar literariamente as experiências vividas, o autor constrói um universo novo que permite novas vivências e leituras. Muito do que a primeira vista parece relatar uma experiência pessoal, na verdade pode esconder uma mensagem que transcende os fatos que deram origem ao texto literário.

Um fator de Equilíbrio em Zero grau de Libra

A crônica “Zero grau de Libra”, publicada em setembro de 1986, um ano após o fim da ditadura militar[ii], traz ao mesmo tempo um retrato da sociedade moderna e uma crítica ao sistema político e econômico do Brasil mostrando principalmente como os sujeitos são afetados:

Deita teu perdão sobre os grupos de terapia e suas elaborações de vida, sobre as moças desempregadas em seus pequenos apartamentos na Bela Vista (…). Sobre o descaramento, a sede e a humildade, sobre todos os que de alguma forma não deram certo (porque, nesse esquema, é sujo dar- certo), sobre todos os que continuam tentando por razão nenhuma – sobre esses que sobrevivem a cada dia ao naufrágio de uma por uma das ilusões. (ABREU, 2006, p. 42)

Ao ler a crônica percebe-se que ela se assemelha com uma oração ou com um pedido, embora a existência de Deus seja também colocada em prova logo no início do texto:

Neste Zero Grau de Libra, queria pedir a isso que chamamos de Deus um olho sobre o planeta Terra, e especialmente sobre a cidade de São Paulo. Um olho quente sobre o mendigo gelado que acabei de ver sob a marquise do cine Majestic; um olho generoso sobre a noiva radiosa mais acima.  (ABREU, 2006, p. 40)

No trecho acima, observa-se que, além do rebaixamento da figura de Deus, há ainda a crítica à sociedade contemporânea e à desigualdade social e econômica quando o narrador faz um contraponto entre o mendigo e a noiva, a primeira figuração representando a miséria e o abandono e o segundo representando o luxo e a ostentação.

As diversas críticas relacionadas a temas sociais presentes ao longo do texto estão ligadas ao pedido de justiça que o narrador faz, mesmo sem esperança, a Deus. O próprio título da crônica faz referência a esse pedido de Justiça, “Zero grau de Libra”, ou seja, um ponto de equilíbrio e de estabilidade entre o bem e o mal.

Assim como no título, no primeiro parágrafo da crônica o narrador refere-se a um período astrológico do ano, que é representado pelo signo da Balança – ou Libra. Este período pode ser considerado como um período de equilíbrio ou de recomeço:

O Sol entrou ontem em Libra. E porque tudo é ritual, porque fé quando não se tem, se inventa, porque Libra é a regência  máxima de Vênus, o afeto, porque Libra é o outro (quando se olha e se vê o outro, e de alguma forma tenta-se entrar em alguma espécie de harmonia com ele). (ABREU, 2006, p. 40)

As imagens da balança e da espada utilizadas na crônica fazem referência aos símbolos de ascensão e de purificação. Libra, representada pela balança, assim como a espada, relaciona-se com a noção de justiça. Em determinadas colocações do narrador, o significado atribuído à espada torna-se diretamente expresso pela ideia de justiça social: “Deus, afia tua espada. Que no Zero grau de Libra, a balança pese exata na medida do aço frio da espada da justiça.” (ABREU, 2006, p. 42).

Durand (2002, p. 158) associa as armas cortantes, como a espada, aos símbolos diairéticos[iii], nos quais a ascensão é imaginada contra a queda e a luz contra as trevas. A arma de que o herói se mune é, ao mesmo tempo, símbolo de potência e de pureza. A intenção do pedido do narrador em “Zero grau de Libra” é de que haja uma purificação, uma maior justiça social e que no novo período astrológico comece também um novo tempo para a sociedade.

Cartas para além dos muros

Nas crônicas escritas entre agosto de 1994 e dezembro de 1995, período em que Caio Fernando Abreu descobre que é portador de vírus HIV, observa-se que há a descrição de um ambiente hospitalar, cujo narrador expressa suas percepções sobre o ambiente e sobre o que está sentindo:

Agora vejo construções brancas e frias, além de grades deste lugar onde me encontro. Não sei o que virá depois deste agora que é um momento após a Coisa Estranha, a turvação que desabou sobre mim. (…) Minha única preocupação é conseguir escrever estas palavras – e elas, doem, uma por uma, para depois passá-las, disfarçando, para o bolso de  um desses que costumam vir no meio da tarde. Acho que serão capazes de levar esta carta até depois dos muros que vejo a separar as grades de onde estou daquelas construções brancas e frias. (ABREU, 2006, p.107)

Várias imagens simbólicas aparecem ao longo das quatro crônicas, como os muros que separam o hospital do cemitério. O muro é o símbolo da separação e da defesa. Além dos muros do hospital está a cidade, mas também está o cemitério, está a vida, mas também a morte.

E quando sozinho, depois, tentando ver os púrpuras do crepúsculo além dos ciprestes do cemitério atrás dos muros – mas o ângulo não favorece, e contemplo então a fúria dos viadutos e de qualquer maneira, feio e belo, tudo se equivale em vida e movimento. (ABREU, 2006, p. 109)

A cor branca aparece ao longo dos textos sempre associada ao ambiente hospitalar, nas paredes ou nos muros que separam o hospital do cemitério. Segundo Chevalier (1991, p. 141), o branco é o símbolo daquele que ressurge e daquele que renasce ao sair vitorioso de uma prova. Em muitas passagens, a situação em que se encontra o enfermo é vista como uma prova de resistência:

Dói muito, mas eu não vou parar. A minha não – desistência é o que melhor posso oferecer a você e a mim neste momento. Pois isso, saiba, isso que poderá me matar, eu sei é a única coisa que poderá me salvar. (ABREU, 2006, p. 106)

A antítese apresentada no terceiro parágrafo na primeira crônica já é uma pista sobre o assunto que o narrador viria a desenvolver no texto, o pavor da doença e do ambiente hospitalar. Essa situação de enfermidade é, ao mesmo tempo, um momento de dor, mas também de esperança.

A esperança é o lado positivo que surge a partir do momento em que a enfermidade se manifesta. Durand (2002, p. 203) explica que o positivo muitas vezes pode ser constituído através de um ato negativo, esse fator está atribuído aos símbolos de inversão, como se pode observar na citação acima, na qual o narrador fala que a única coisa que poderá lhe matar também poderá lhe salvar.

Na crônica “Segunda carta para além dos muros”, o narrador continua relatando as situações vivenciadas no hospital. Nesta segunda carta, ainda prevalece o sentimento de angústia e de esperança:

No caminho do inferno encontrei tantos anjos. Bandos, revoadas, falanges. Gordos querubins barrocos com as bundinhas de fora; serafins agudos de rosto pálido e asas de cetim; arcanjos severos a espada em riste para enfrentar o mal. Que no caminho do inferno encontrei, naturalmente, também demônios. E a hierarquia inteira dos servidores celestiais armada contra eles. Armas do bem, armas da luz: no pasarán! (ABREU, 2006, p. 109)

A esperança e a cura estão ligadas a figuras religiosas. Os funcionários do hospital, assim como os amigos do narrador, estão representados pela figura de anjos. Já o mal e a doença estão relacionados a imagens do inferno.

A espada, bem como a figura de Deus, é apresentada nas quatro crônicas de forma diferente da crônica “Zero grau de Libra”, pois a espada, que antes era o símbolo de justiça, agora está associada mais diretamente com a noção de luta; e a figura de Deus, que antes era relacionada à incerteza, agora está ligada à esperança.

Na crônica “Última carta para além dos muros”, o narrador revela que é portador do vírus HIV, esta nova realidade desenvolve no enfermo uma força interior para lutar contra os efeitos de sua doença. “De alguma forma absurda, nunca estive tão bem, armado com a espada de Jorge.” (ABREU, 2006, p. 113).

São Jorge é referenciado pelo narrador na terceira crônica; seu mito está associado, segundo Durand (2002, p. 162), ao mito de Perseu[iv], pois o santo cristão também liberta uma moça de ser devorada por um monstro, matando-o com uma espada. São Jorge é o herói solar do qual Durand fala no capítulo sobre os símbolos diairéticos, pois o herói solar desobedece ou rompe juramentos em razão da busca por um caráter superior, por uma excelência; Jorge da Capadócia foi capaz de abandonar sua vida de soldado romano por sua fé no cristianismo para lutar contra as injustiças de sua época.

O santo cristão também é sincretizado na cultura afro-brasileira na forma de Ogum. A tradição diz que as manchas apresentadas pela lua representam São Jorge, com seu cavalo e sua espada prontos para defender aqueles que buscam sua ajuda. A devoção ao santo guerreiro se espalhou por todo o mundo, pois ele é o símbolo da luta contra o mal e contra as injustiças. O narrador relaciona sua luta contra a enfermidade à luta de São Jorge contra o mal.

Na crônica “Mais uma carta para além dos muros”, publicada um ano após as três primeiras cartas, o narrador relata mais uma situação vivenciada no hospital:

Nas pupilas dela, desmesurados buracos negros que qualquer segundo poderiam me sugar para sempre, (…) nas pupilas dela vejo meu próprio horror refletido. Eu porco sangrando em gritos desafinados, faca afiada entre o ventre, entre convulsões e calafrios indignos. Eu gritava Senhor de Toda a Luz e de Tudo que Existe, dai-me força, Fé e Luz. (ABREU, 2006, p. 199–-200).

Nesta última crônica, o narrador começa falando sobre a experiência de quase morte, como podemos observar na citação acima. Mesmo com todas as circunstâncias negativas, o narrador termina sua carta demonstrando força e esperança, como ocorrido nas três primeiras cartas: “Amanhã à meia-noite volto a nascer. Você também. Que seja suave, perfumado nosso parto entre as ervas na manjedoura. Que sejamos doces com nossa mãe Gaia, que anda morrendo de morte matada por nós.” (ABREU, 2006, p. 201).

O narrador não vê a morte como um fim, mas como um recomeço. Segundo Durand (2002, p. 236), em muitas culturas, os mortos são enterrados na postura fetal, pois acreditam no “retrocesso” da vida, em uma segunda infância a partir da morte. Essa esperança em uma nova vida é que traz alento ao narrador diante de sua enfermidade.

Se a obra de Caio Fernando Abreu reflete muitas vezes aspectos de sua vida, as “Cartas para além dos muros” podem ser consideradas os melhores exemplos. Além da revelação de sua doença[v], Caio também mostrou em suas crônicas um narrador otimista, ao contrário do ânimo pessimista que acompanhava muitas de suas obras anteriores, como ocorre com o narrador de “Zero grau de Libra”.

Um jardim cheio de rosas cor-de-rosa e girassóis

Da mesma forma que as quatro “Cartas para além dos muros”, as crônicas “A morte dos girassóis” e “ Aos deuses de tudo que existem” também apresentam imagens simbólicas ligadas a conceitos como regeneração, esperança ou renascimento.

Quando retornou para Porto Alegre após descobrir que era soropositivo, Caio Fernando Abreu começou a cultivar flores e esse novo hábito é outro aspecto que o assemelha aos narradores de sua obra.

Em reportagem especial na época do falecimento de Caio, Lygia Fagundes Telles publicou no jornal O Estado de S. Pauloque o escritor, ao não poder escrever devido ao avanço de sua enfermidade, buscava alento no cultivo de rosas: “Como se, sabendo da proximidade da morte, tentasse provocar a vida”[vi].

Essa citação tirada do texto de Lygia Fagundes Teles também pode ser estendida aos narradores das crônicas “A morte dos girassóis” e “Aos deuses de tudo que existem”, pois desafiam a morte e lutam para que suas flores sobrevivam a pragas, acidentes ou invernos rigorosos. Além disso, ambos os narradores vêem a morte de uma planta como a possibilidade de um retorno a uma nova vida.

A visão da morte como um recomeço já foi exposta na análise das crônicas “cartas para além dos muros”. No caso das crônicas “A morte dos girassóis” e “Aos deuses que tudo existem” o recomeço está expresso através da ideia de que ao morrer e retornar à terra, a flor poderá servir de adubo para uma nova planta. Durand, no capítulo que trata dos símbolos da intimidade fala sobre o “complexo de regresso à mãe”, no qual há uma inversão do sentido natural da morte, pois a terra torna–se o berço mágico e benfazejo porque é o lugar do último repouso. A morte em algumas culturas, segundo Durand, é considerada como um retorno a casa, ou à terra, por isso há tantos rituais de sepultamento dos mortos:

Durou pouco, girassol dura pouco, uns três dias. Então peguei e joguei-o pétala por pétala, depois o talo e a corola entre as alamandas da sacada, para que caíssem no canteiro lá embaixo e voltasse a ser pó, húmus misturado à terra, depois não sei ao certo, voltasse à tona fazendo parte de uma rosa, palma –  de – santa – Rita, lírio ou azaleia, vai saber que tramas armam as raízes lá embaixo no escuro, em segredo. (ABREU, 2006, p. 147)

Nesta citação da crônica “A morte dos girassóis”, podemos perceber como está constituída a relação morte-renascimento que Durand discute no capítulo de seu livro. O jardineiro tentou salvar seu girassol, mas, como a maioria das plantas, a flor durou pouco tempo e, ao ver que sua planta havia sucumbido, o jardineiro prepara todo um ritual de enterramento – jogar pétala por pétala, depois o talo e por último a corola. Esse ritual que o jardineiro faz para que sua flor volte à terra é visto como uma despedida e como uma possibilidade de recomeço, pois ao servir de adubo a planta poderia voltar à vida.

A mesma questão sobre morte-renascimento pode ser vista na crônica “Aos deuses de tudo que existe”. Um exemplo é a passagem em que o jardineiro maravilha-se com o renascimento de sua flor:

E teve Amarílis, que em junho dei por perdida. Semana passada, arrancando os baldes de ervas – daninhas de nojentas raízes brancas estranguladoras, a alegria: como uma ponta de espada brotando da terra, miniexcalibur. Ao contrário, lá estava a Amarílis nascendo outra vez. Limpei mais, adorei, conversei, bravo, é isso aí, minha filha, não se entrega não. Happy end? (ABREU, 2006, p. 185)

A propriedade de regeneração também foi um tema exposto nas duas crônicas de Caio Fernando Abreu. Em “A morte dos girassóis” temos como exemplo a recuperação de um girassol e na crônica “Aos deuses de tudo que existem”, entre outros, temos a regeneração da árvore da fortuna e da felicidade.

Mas lutamos, eu também dizia. E olho agora para trás e vejo na estante às minhas costas, bem à frente de um livro de reproduções de Egon Schiele, aquela árvore japonesa da fortuna e da felicidade, quando percebi que não suportaria o inverno, transplantei-a do jardim para o meu quarto. Era um resto negro calcinado pela geada. E quase invisível, um pontinho verde de vida na base. Fui até lá agora e medi: está com mais de meio palmo de altura empinadíssima, viva. (ABREU, 2006, p. 185-186)

Em ambas as crônicas, a resistência das plantas é posta em jogo através do inverno rigoroso, das pragas e até mesmo de acidentes. O principal inimigo do jardineiro são as pragas que assolam seu jardim:

Porque existem as pragas, Ah, se existem. E bem mais que as sete bíblicas. Fora os agostos, formigas-cortadeiras, caracóis, lesmas. Pulgões, ácaros, cochonilhas e falanges do mal de nome ainda mais esquisito que este último. Armados até os dentes, lutamos. Todo santo dia. Guerra sem tréguas, Bósnia. (ABREU, 2006, p. 184)

O mês de agosto é considerado pelo narrador uma época de desafios à vida, tanto para as pessoas que enfrentam os dias de inverno no sul do país quanto para os demais seres vivos:

Não, os jardins não morrem no inverno, como os animais ou as pessoas, principalmente as mais velhas, apenas sofrem um pouco mais fundo do que de costume. Alguns, verdade, sucumbem. Minha vó Corruíra, por exemplo, costumava dizer: “Acho que deste agosto não passo”. E houve um do qual realmente não passou. Mas isso talvez fosse o destino, ou morre-se mais fácil no inverno? Sobretudo invernos gaúchos, quando o minuano vara frestas e fendas para cortar a pele feito navalha gelada. (ABREU, 2006, p. 184)

O mês de agosto é como um ciclo, cujo tempo é marcado como uma provação aos seres vivos. Nessa época do ano, como explica o jardineiro, muitas plantas sucumbem ao inverno rigoroso do sul, mas ao fim desse ciclo ou do mês de agosto elas se regeneram.

A relação entre a passagem do tempo e a regeneração periódica das plantas é uma das características dos símbolos lunares. O caracol, uma das pragas que arrasam o jardim também faz parte dos símbolos lunares. Segundo Durand (2002, p. 314), a concha espiralada do caracol é o signo do equilíbrio no desequilíbrio, da permanência do ser através das flutuações da mudança. Apesar de toda negatividade atribuída, tanto ao mês de agosto quanto às pragas do jardim, há uma possibilidade de regeneração ou de renascimento, pois as plantas que não resistirem ao inverno ou às pragas podem retornar à terra para servir como húmus.

Além da regeneração periódica das flores em relação ao ambiente, o narrador das crônicas fala, também, sobre a regeneração que elas podem ter após acidentes:

Viajei por quase um mês no verão, quando voltei, a casa tinha sido pintada, muro inclusive, e vários girassóis estavam quebrados. Fiquei uma fera. Gritei com o pintor: “Mas o senhor não sabe que as plantas sentem dor como a gente?” (…) e fui cuidar do que restava, que é sempre o que se deve fazer. (ABREU, 2006, p. 146)

Em “A morte dos girassóis”, o narrador se espanta com a resistência de um dos girassóis que foram quebrados durante a pintura de um muro. O girassol quando parecia estar se recuperando da quebra de seu talo sofre novamente outro acidente, mas mesmo assim consegue se regenerar e sobreviver por mais três dias:

Alguns amarrei com cordões em estacas, mas havia um alquebrado que nem dei muita atenção, parecia não valer a pena. Só apoiei-o numa espada-de-são-jorge com jeito, entreguei a Deus. Pois no dia seguinte, lá estava ele rodo meio empinado de novo, tortíssimo, mas dispensando o apoio da espada (…) Quando parecia quase bom, crau! Veio uma chuva medonha e deitou-o por terra (…) cortei-o com cuidado e coloquei-o aos pés de Buda chinês de mãos quebradas que herdei de Vicente Pereira. (ABREU, 2006, p. 146).

O girassol é o símbolo da eternidade. Chevalier (1991, p.470)  explica que o girassol é usado na iconografia cristã para caracterizar pessoas divinas, como a Virgem Maria, os anjos, os profetas, os apóstolos e os santos. A propriedade que o girassol tem, segundo o pesquisador, de mover-se constantemente para acompanhar a evolução do Sol simboliza a atitude do amante, da alma que volta continuamente seu olhar e seu pensamento para o ser amado e a perfeição sempre dirigida para uma presença contemplativa e de união.

A contemplação, um dos símbolos do girassol, também pode ser observada em algumas passagens, principalmente quando ao se regenerar pela última vez o girassol volta-se para a estátua do Buda. A imagem que o narrador descreve é que a flor estaria contemplando esta estátua:

A flor ficava assim meio de cabeça baixa e de costas para o Buda. Não havia como endireitá-lo. Na Manhã seguinte, juro, ele havia feito completo, sobre o próprio eixo e estava com a corola o da aberta, iluminada, voltada exatamente para o sorriso do Buda. Os dois pareciam sorrir um para o outro. (ABREU, 2006, p. 146-147)

A palavra Buda significa “despertar” e é o que o girassol fez ao regenerar-se, esse “despertar” também o faz admirar a imagem que simboliza uma categoria de seres que conseguiram a iluminação espiritual.

Um dado importante a ser observado nas crônicas “A morte dos girassóis” e “Aos deuses de Tudo que existe” é que o jardineiro sempre fala das rosas de modo especial. Caio Fernando Abreu cultivava roseiras e nomeou algumas delas com o nome de suas amigas, como Odete Lara e Lygia Fagundes Telles. Nas crônicas podemos observar que o narrador também nomeia suas roseiras com os mesmos nomes das amigas de Caio:

É verdade, morri sim. Isso que você está vendo é uma aparição, voltei porque não consigo me libertar do jardim, vou ficar aqui vagando feito Egum até desabrochar aquela rosa amarela plantada no dia de Oxum. (ABREU, 2006, p. 145)

As roseiras se revelaram inesperadamente fortes. A branca Lygia certos dias chegou a render nada menos que seis rosas. Todas abertas ao mesmo tempo, numa apoteose a Oxalá (sugestão para fantasia carnavalesca). O belo fica ainda mais belo, quando também é forte? Pois é. (ABREU, 2006, p. 185)

A rosa adquiriu inúmeras simbologias no decorrer da história cristã. Segundo Chevalier (2002, p. 788-789), a rosa possui uma relação com o sangue derramado e está ligada ao renascimento místico. A rosa também é o símbolo de regeneração, o que faz com que, desde a Antiguidade, se coloquem rosas sobre as tumbas. A regeneração e o renascimento, simbolizados em algumas culturas pela rosa, são dois temas recorrentes nas crônicas “A morte dos girassóis” e “Aos deuses de tudo que existem”. No entanto, nas crônicas esses temas não são ligados somente às rosas, mas também às demais flores do jardim.

A crença na alma e no retorno à vida estava presente, também, na vida de Caio Fernando Abreu, como explica Lygia Fagundes Telles em um artigo para o jornal O Estado de São Paulo, publicado em 1996:  “Por que, se ele não viveria para ver a flor? Porque ele tinha essa vontade do amor e da vida, a certeza da eternidade, a certeza da permanência, não apenas da palavra, mas da alma, também.”

As flores, de acordo com Chevalier (2002, p. 439), muitas vezes são apresentadas como símbolos da alma. É nesse sentido que o narrador se assemelha ao escritor, pois expressa a opinião de que a morte das plantas não é o fim, mas a possibilidade de uma continuação e de um recomeço.

Considerações finais

Caio Fernando Abreu, como apontamos ao longo deste artigo, possui uma obra de grande relevância e de temáticas abrangentes. Ler a obra desse escritor nos permite conhecer um pouco suas impressões sobre a vida, como vimos na análise das crônicas “cartas para além dos muros” e nas crônicas sobre jardinagem. Além disso, permite-nos conhecer o contexto histórico-social em que o autor viveu, como observamos em “Zero Grau de Libra”.

Além de conter temáticas contemporâneas e relacionadas com a vida do escritor, as sete crônicas analisadas apresentam o modo como o escritor e jornalista utilizou-se de imagens simbólicas para recriar suas percepções sobre o mundo. A perspectiva simbólica nos revela, também, as múltiplas leituras suscitadas pelas imagens literárias, que transcendem os limites histórico-sociais.

O narrador de “Zero Grau de Libra” reflete sobre a desigualdade social, sobre a situação política de um país recém-saído de uma ditadura, sobre o isolamento e a angústia do homem moderno nas grandes cidades, que gostariam de viver uma outra vida. Essas reflexões são apresentadas pelo narrador em forma de um pedido ou de uma oração – embora a figura de Deus seja rebaixada ou simplesmente posta em dúvida. Os pedidos são a expressão do contexto vivenciado pelos brasileiros na década de 1980.

O pedido que o narrador de “Zero grau de Libra” faz tem relação com o início de um tempo astrológico do ano e que simboliza a busca pelo equilíbrio ou pelo recomeço. Esse equilíbrio que o signo de Libra representa está associado aos símbolos diairéticos da espada e da balança, pois o narrador busca a transcendência e a separação entre o bem e o mal.

As “cartas para além dos muros” também são uma expressão do que muitos brasileiros vivenciavam, por que relatam a angústia de um homem soropositivo. As situações descritas pelo narrador das “quatro cartas para além dos muros” são muitas vezes interpretadas como a narrativa de situações vividas pelo escritor. Mas essas crônicas podem ser entendidas como uma reflexão do que muitas pessoas vivenciaram entre os anos de 1980 e 1990, a descoberta de uma doença sem cura, que gerava muitos preconceitos.

O símbolo diairético da espada também está presente nas quatro crônicas, mas relacionado à luta de um homem contra sua enfermidade. Desta mesma forma é que estão apresentados os símbolos de inversão e de intimidade nos quais a esperança do narrador e a vontade de viver se constituem a partir do surgimento da enfermidade.

O pessimismo diante da situação da sociedade moderna, o descontentamento e as críticas expressadas em “Zero grau de Libra”, bem como o rebaixamento de Deus são temáticas que Caio Fernando Abreu apresentava em suas obras, principalmente nos anos de 1980. A partir de 1994, podemos observar que seu olhar sobre a vida e sobre a sociedade ficou menos desiludido, principalmente nas crônicas publicadas nesse período. E a esperança em uma vida melhor e a fé em Deus são temas recorrentes nas crônicas “Cartas para além dos muros”, “A morte dos girassóis” e a “Aos deuses de tudo que existem”.

Lya Luft em reportagem no Jornal Zero Hora na época do lançamento de Pequenas Epifanias declarou que este livro “é a obra de um ser humano muito especial: grande e pequeno, forte e frágil, belo e terrível, que se amava e se destruía, que se valorizava e se botava para fora, que pedia colo e saía correndo ao mesmo tempo.” Este comentário de Lya Luft pode ser considerado como a síntese de uma obra que partiu de experiências e sentimentos de seu autor para recriar literariamente a realidade. Talvez seja por isso que os narradores de Pequenas Epifanias sejam tão humanos, pois possuem defeitos e virtudes, medo e esperança, desapontamento e alegria.

Referências

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TELLES, Lygia Fagundes. Doente buscava a vida cuidando de rosas. O Estado de São Paulo. São Paulo, 26 Fev. 1996.

 

[i] Caio F. ou simplesmente Caio são usualmente empregadas pela crítica e em trabalhos científicos para designar o escritor Caio Fernando Abreu.

[ii] Embora em 1974 o então Presidente Ernesto Geisel tenha começado a promover uma “abertura política” do Regime Militar, o ditadura só chegou ao fim, segundo Teixeira da Silva (2012, p. 389), em 15 de janeiro de 1985, quando o Colégio Eleitoral elege Tancredo Neves presidente com 480 votos.

[iii] Os símbolos diairéticos referem-se à separação cortante entre o bem e o mal. Desse modo, a luz tem tendência para se tornar raio ou gládio e a ascensão para espezinhar um adversário vencido. Tais símbolos envolvem rituais de purificação em que o herói, na busca da transcendência, purifica-se pelo batismo na água ou no fogo e pelo corte de lâmina.

[iv] Perseu , segundo a mitologia grega, era um homem forte, ambicioso e corajoso, pois era um semideus – filho de Zeus com a princesa Dânae. O mito sobre Perseu possui variantes. Uma das versões é que o rei Polidectes, levado pelo temor de que Perseu usurpasse o seu trono, desafiou o herói a capturar a cabeça da Medusa. A segunda versão é que Perseu ofereceu trazer a cabeça de presente para o rei durante uma festa.  Durante a jornada em busca da cabeça da Medusa o herói conhece Andrômeda, uma princesa que seria dada em sacrifício ao monstro Ceto. Perseu promete salvar a moça e, neste mesmo instante, o monstro marinho aparece, o herói consegue matar o monstro Ceto e salvar Andrômeda.

[v] Na reportagem “O escritor se defende com a palavra”, publicada no Jornal Zero Hora de 07 de jan. de 1995, seu autor explica que Caio revelou a seus leitores que é portador de HIV através de crônicas escritas para o jornal O Estado de São Paulo. Segundo ele, Caio “fez da doença um tema, brandindo contra ela a arma que melhor maneja, a palavra”.

[vi] TELLES, Lygia Fagundes. Doente buscava a vida cuidando de rosas. O Estado de São Paulo.  São Paulo, 26 fev. 1996.