NA ÍNTIMA aconteceu naturalmente parecendo até que já estava predestinada e digo o porquê: primeiramente, em decorrência dos trinta anos de amizade entre a fotógrafa e a curadora e pesquisadora do poeta Bernardino da Costa Lopes, o B. Lopes. As paixões e assuntos em comum sempre levaram Juliana e Isabela a crer que um dia fariam algo juntas. Algo que significasse para as duas.
Das linhas firmes
do teu vulto escapa
LOPES, B. excerto de “Magnícica”. Brasões, 1895.
Láctea,
da lactescência das opalas
LOPES, B. excerto de “Magnícica”. Brasões, 1895.
Pela curva do pé já se adivinha
A perna, o dorso, o colo, os braços…
LOPES, B. excerto de “Toda”. Sinhá Flor, 1899.
Vem tu, cantando e rindo, debruça-te
Nesta estrelada curva de sonetos.
LOPES, B. excerto de “Délia”. Brasões, 1895.
Penso, trêmulo e pálido, que assisto
À aparição bizarra de um cometa.
LOPES, B. excerto de “Acrobata”. Brasões, 1895.
Larva assombrosa, aérea e multiforme
Na apoteose brilhante de um par de asas,
Deixando a seda de um casulo enorme.
LOPES, B. excerto de “Miss Alma”. Brasões, 1895.
E não me arranca do infernal delírio
A surpresa que, doido, a todos causo…
LOPES, B. excerto de “Écuyére”. Brasões, 1895.
Da boca incorre-lhe o melífluo suco,
Sai-lhe dos olhos o ávido lampejo…
LOPES, B. excerto de “Cabocla”. Helenos, 1901.
A carne em flor,
carne insolente e herege
LOPES, B. excerto de “Acrobata”. Brasões, 1895.
Do pecado e do crime a apoteose,
Com toda pompa o nosso amor celebre;
Tem cheiro, este excitante, em alta dose
Que me desvaire e me alucine a febre.
LOPES, B. excerto de “Insolência da carne”. Brasões, 1895.
SOBRE
Isabela Melim Borges Sandoval é editora da revista Texto Digital, periódico científico; é também membro do NuPILL – núcleo de pesquisa em informática, literatura e linguística – ambos vinculados a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); e metranda em literatura, cujo objeto de pesquisa é o poeta Bernardino da Costa Lopes (B. Lopes).
Juliana é fotógrafa mas tem na bagagem mais de 10 anos no ofício de redatora e roteirista. Viajante curiosa, devoradora de imagens e apaixonada por textos, ela não teve dúvidas de que o diálogo entre as amigas – a fotografia e a literatura – poderia render frutos. Assim nasceu Revelando B. Lopes.
Bernardino da Costa Lopes, dono do pseudônimo em questão, foi um escritor e poeta que publicou no Rio de Janeiro entre 1881 e 1905, período conhecido como Belle Époque, tendo como contemporâneos e colegas Olavo Bilac, Cruz e Souza e Machado de Assis, só para citar aqui os mais conhecidos e tentar situar o leitor. Pois bem, B. Lopes foi um dos fundadores do movimento simbolista brasileiro. Mas você já ouviu falar dele? Acredito que não. E é isso que Isabela tenta entender. Qual a causa da sua invisibilidade? Muitos críticos da época o enalteciam. Seus versos eram declamados, copiados de norte a sul do Brasil. No entanto, hoje, seu nome é parcamente lembrado pelos historiadores da literatura.
Foi numa conversa na casa de Isabela, em Florianópolis, que ela apresentou o autor à amiga. Juliana em seguida lhe mostrou uma série de imagens que parecia dar sentido aos versos do autor, especialmente aos versos virtuosos de amor que B. Lopes dedicou a sua musa. Ou às suas musas. Empolgadas, elas decidiram criar algo que ajudasse a trazer à luz, novamente, o incrível repertório de B. Lopes. Um poeta que merece ter sua obra conhecida e reconhecida pela atual cena literária nacional. Justiça seja feita.
Obra poética: Cromos (1881), Pizzicatos (1886), Dona Carmen (1890), Brasões (1895), Sinhá Flor (1899), Val de Lírios (1900), Helenos (1901), Patrício (1904) e Plumário (1905).