É a elisão a mais bela flor que nasce
No jardim da poesia, e não o amor.
A sinafia, então, pelo pudor,
Que tenho, não digo o que se parece.
A febre flamejante que aquece
O corpo nada tem de importante
E que se a considere, doravante,
Tão poética quanto um pé de alface.
O verso que é medido no extremo,
Minguado ou esticado a marteladas,
É o supra-sumo estético da arte
De ao verso, por força, por um termo,
No universo em que as malfadadas
Idéias são apenas uma parte.
***
Palavras vazias
De forma mui bela
Permitem que ditas
Sejam: é a estética.
Vale tanto a réplica
Quanto o artista
E arte já não resta
Que intacta resista
Ao ataque da arte
Pela arte, ferida
Fica a pobre arte,
A única vítima
Da luta empreendida
Em nome da arte.
***
SONETO SEM TÍTULO
A tempestade árida de idéias,
Tormenta febre fria que adormece
A consciência da ciência e sua prece
Sob o furor divino: a cefaléia.
Respira inspiração de toda espécie
O frágil peito tísico e dormente,
Ilhado do sentir de toda a gente,
De recitar o verso feito esquece.
Que me socorra a arte pela arte,
Tempo e templo em que contemplo o desastre:
O pulmão vazio de ar que sonorize
O tom apocalíptico, o deslize,
Conhecido vulgarmente por sentido,
Ou melhor, tudo o que é desconhecido.