Introdução
Contista, poeta, romancista e atriz, Vivienne Vermes dedica boa parte do seu tempo às leituras (em voz alta) dos seus trabalhos em vários países diferentes. Na Inglaterra, onde nasceu, e na França, onde mora há cerca de três décadas, é mais reconhecida pelo seu trabalho como poeta. De fato, ela recebeu em 1997 o célebre Picadilly Poet’s Award. Esse fator, somado ao hábito de ler seus trabalhos em voz alta, certamente influenciam muito o estilo da prosa da autora. No conto em questão, as belas imagens criadas e o trabalho com a linguagem por vezes dão ao texto um quê de poesia em prosa. Essa foi, inclusive, a questão central trabalhada na tradução.
A autora tem três volumes de poesia publicados, todos em edições bilíngues inglês-francês: Sand Woman (Rebus, 2000),Metamorphoses (Métamorphoses, 2003) e Passages (L’Harmattan, 2005), sendo os dois últimos em coautoria com Anne Mounic. Recentemente, ela concluiu seu primeiro romance, intitulado The Barefoot Road, ainda em processo de publicação. Atualmente, ela esté trabalhando em uma obra autobiográfica.
Como o projeto de tradução foi realizado em colaboração com a autora, foi possível entrevistá-la acerca do conto em questão. “Minha intenção foi expressar algo de dentro de mim que precisava sair”, afirma Vermes. Ela adiciona: “Uma vez encontrada a conexão entre a sensação de solidão e isolamento do narrador, de um lado, e sua angústia e sofrimento por conta do holocausto, do outro lado, percebi que a história merecia ser colocada no papel” (tradução Leal).
A primeira tradução do conto foi realizada em 2005, como parte do trabalho de conclusão do Bacharelado em Inglês e Português (com ênfase nos Estudos da Tradução) da tradutora na Universidade Federal do Paraná. Atualmente, Alice Leal faz doutorado também em Estudos da Tradução na Universidade de Viena, onde coordena o Departamento de Português e leciona língua portuguesa, cultura e literatura brasileira, teoria da tradução e tradução literária.
Os Espaços nas Casas
Viviene Vermes
Tradução de Alice Leal
Você sabe que há uma ratazana na casa porque você já a ouviu à noite, no quarto, nalgum lugar entre o telhado e o teto. O incansável cavoucar parece indicar que ela está tentando parir um caminho para dentro do seu espaço. Ele diz que é um camundongo, ou então um passarinho. Você sabe que é alguma coisa maior do que um camundongo, e você sabe que pássaros não cavoucam, eles farfalham. Mas porque ele diz essas coisas com aquela voz de sono, despreocupada, você se enrosca nele e volta a dormir, no meio da noite. Você está feliz o bastante porque suas peles — a sua e a dele — estão na mesma temperatura. É como se vocês tivessem a mesma pele, indistinguíveis. Ambas rosadas, claras e fresquinhas.
Está fazendo frio hoje. De repente ele pula da cama, desliza até o outro lado do quarto e veste o roupão atoalhado. De onde você está deitada, dá para escutar o barulho da água do chuveiro caindo, cheia de pressão, sobre o corpo dele, removendo os vestígios da transa de ontem à noite — que, aliás, não foi lá muito satisfatória para você, mas você não diz nada. Ele está sempre tagarelando à sua volta, no telefone ou então organizando a cozinha. Ele faz quase tudo muito bem, sempre com um sorriso no rosto, o que, para você, é raro num homem, e de fato muito satisfatório. Um dia desses, você pensa consigo mesma, você vai fazê-lo sentar, vai servir-lhe um bom uísque e vai dizer exatamente o que é que excita você. Você só precisa escolher a hora certa.
São oito horas da manhã. Estação 4 da rádio da BBC. Seis toques e o noticiário. Vocâ gosta desses locutores. Eles são familiares — suas vozes sérias, sua inteligência. Em Kosovo, há casas em chamas, e os moradores estão escondidos na floresta, olhando a fumaça subir. Elas devem estar com frio agora, essas mulheres (a maioria mulheres, e seus maridos, assassinados) no meio da floresta, no fim do inverno, sem casa.
Você se aninha entre os lençóis e puxa o edredom até o pescoço. Você olha lá para fora pela claraboia, um pequeno quadrado de janela recortado na parede inclinada que sobe até as terças. O vidro está salpicado de gotas de chuva. Sempre chove aqui, nesta cidadezinha, no meio da Inglaterra. Parece que você nunca acordou para nada que não fosse chuva. Seus pensamentos também vêm em chuviscos, feito a garoa… Como o café da manhã é sempre gostoso nesta casa, com iogurte de frutas fresco, café quente e pão integral crocante e quentinho, recém-tirado do forno. Vocês tomarão café juntos, e você pensará como você tem sorte de, pelo menos uma vez na vida, ter um homem cuja pele se mistura com a sua, cujos ombros carregam problemas sem reclamação; um homem que ri de si mesmo e que vai a sofisticadas festas à fantasia vestido de árvore. Você gosta disso tudo. Você gosta da cidadezinha também, com a fazenda de criação de trutas e as mesas brancas de ferro fundido espalhadas sob as ameixeiras, com seus salões de chá e a mansão Tudor e seus dois fantasmas. Agora, depois da cidade grande, você gosta disso tudo. Era hora de deixar a capital. Ela fora boa para você quando você chegou, anos atrás. Com o tempo, tornou-se amarga, as calçadas cheias de cocô de cachorro e vômito, os pedintes por todos os lados (e você nunca sabia direito quem era falso e quem era verdadeiro), mais a morte de três amigos, um em seguida do outro, e você segurando a mão de cada um deles quando eles lhe deixaram, completamente sem palavras.
Era a hora.
Você sai da cama e curte o espaço do quarto. O carpete grosso e limpinho, cor de mel. As vigas de madeira, o teto inclinado. A casa fica nos confins da cidadezinha. De um dos lados estendem-se campos, agora já com as primeiras ovelhinhas, arrepiadas de frio. Do outro lado, bem ali no fim da estrada — porém fora da vista — existe uma casa cujos habitantes você nunca viu, somente pedreiros indo e vindo, reformando, como eles sempre fazem aqui nesta região. Não há ninguém por perto que saiba o seu nome, nenhum vizinho. Essa privacidade toda lhe agrada. Você anda nua pelo quarto. Para na frente do amplo espelho e ensaia uma expressão. Não há dúvida de que você engordou um pouco desde que mudou para cá, mas não muito. Seu corpo ainda tem reentrâncias e saliências nos lugares certos, só que as saliências estão um pouco mais acentuadas do que antes. Talvez, você pensa, haja algumas linhas a mais no seu rosto — de uma, em especial, você não gosta: ela desce pela lateral do rosto, vai do nariz até a boca e segue adiante. Ela some quando você sorri, então você sorri. Você continua sorrindo até mesmo quando ouve, durante os intervalos da entrevista no rádio, o som persistente vindo daquele lugar entre o teto e o telhado. Você precisa falar com ele sobre isso, apesar de não saber de que adiantaria. O lugar é inacessível. Seria necessário destruir o gesso, ou então fazer um buraco no telhado para conseguir chegar até lá. E esta casa não é dele, nem sua. É alugada de um acionista da bolsa e sua esposa, que moram em Hong Kong. Então qual o objetivo, você pensa, de falar sobre a ratazana, que pode, afinal, ser apenas um camundongo ou um passarinho?
Ele está saindo do chuveiro agora e vocês se cruzam no corredor. Ele está avermelhado, a pele, esfregada. Você tem a sensação de estar pálida e suja, e ainda consegue sentir aquele grude na parte interna das coxas. Embora você provavelmente seja muito velha, pode ser que tenha concebido um bebê na noite anterior. Você sorri diante do turbilhão inusitado que isso causaria e beija-o rapidamente, na bochecha.
Você desce para a cozinha e percebe que ele já esteve lá. As xícaras estão sobre a mesa, e o rádio está ligado no último. Numa cidade na Lituânia, o prefeito está sendo julgado por crimes de guerra cometidos há cinquenta anos — a deportação de cinco mil judeus. Os moradores da cidade estão do lado do prefeito, defendendo sua inocência e dizendo que, seja como for, o passado é o passado. Uma judia é entrevistada. Ela é diretora de um museu na cidade que vem sendo negligenciado, recebe poucos visitantes. Ela diz que vai continuar a dirigi-lo enquanto viver, em memória dos setenta e quatro amigos e parentes que morreram nos campos de concentração. Ela é a única sobrevivente. Diz que as casas da cidade são como muitos rostos vazios.
Você põe os pãezinhos no forno, liga a chaleira e senta-se na ampla cozinha, com seu lindo chão de pedra e lajotas de granito, caríssimas, importadas da Itália.
Ele desce as escadas com ar de frescor, todo bem vestido e agitado. Você está chorando, mas está de costas para ele. Então se inclina como que para ver o forno e, ao abri-lo, o calor enrubesce seu rosto; agora ele já não poderá mais ver as lágrimas. Mas tudo bem, elas já se foram mesmo.
Você toma seu iogurte de frutas, passa mel no pãozinho e ele fala. Ele diz que odeia fazer negócios com os japoneses. Ele é direto, filho de fazendeiro, criado no Canadá. Não gosta das ‘táticas’ dos japoneses. Ele fala que está querendo instalar um sistema de videoconferência, o que significa que ele não teria de viajar tanto. Seu queixo cai. Dá para sentir aquela ruga voltando para o lugar, e você está braba consigo mesma. Você vive resmungando que quer que ele fique em casa, que fique com você. Afinal, você deixou a cidade para ficar com ele. E agora você está de queixo caído. Para ser sincera, você gosta da ausência dele, você aprendeu a gostar do silêncio da casa, até mesmo à noite, sozinha, se não fosse pelo ruído naquele lugar entre o teto e o telhado.
Agora a casa está em silêncio. Ele foi trabalhar. Você colocou os pratos na lava-louças. Dá para ouvir o seu bate-bate de onde você está sentada, no quarto, sua mesa em frente a dois janelões — a luz fria de comecinho de primavera reluz na sua caneta, na sua página. É difícil escrever, os pensamentos se amontoam uns por cima os outros, uma confusão — são eles que bloqueiam você, não a página em branco, fria e primaveral, mas os incontáveis pequenos fantasmas de pensamentos, todos sussurrando ao mesmo tempo, urgentes e simultâneos. Você anda pelo quarto. Seus pés, descalços, raspam no carpete.
Você pensa no seu pai. Você gostaria que ele não fosse tão velho. Gostaria que ele tivesse lhe contado mais sobre seus segredos, sobre a família que desapareceu. Há uma espécie de trauma aí, no desvio dos trens. Você viu isso tudo nos olhos dele e, com a sensação de proibido típica de uma criança, você permaneceu em silêncio. Até que uma vez, insistente, você o fez mostrar fotos velhas. Você o fez guiá-la pela cidadezinha dele, indo de porta em porta, primo por primo. Você se imaginou seguindo-o, atrás de suas costas curvadas, pensando se isso era cruel ou gentil, essa abertura de portas para velhos corredores, outrora cheios de riso, forrados de retratos e diplomas, cheirando a gulache e bolinhos. Ele jamais retornara lá. Para ele, as casas eram agora muitos rostos vazios.
A casa está em silêncio. Faz sol, depois chuva, depois sol novamente, tudo passando pelos janelões, e a luz do dia por entre as lâminas das venezianas. Você anda e anda. Talvez ande quase um quilômetro pelo quarto, com o tempo mudando, com os pés raspando no carpete.
Aí você ouve o ruído. Primeiro débil, depois mais forte. Quando você anda, quando você se mexe, ele para. Então você para também. Você fica absolutamente imóvel em frente ao amplo espelho e espera. Você é paciente. Você poderia ficar aí, então, o dia todo. A luz matinal bate forte em você. Você consegue ver aquela ruga, entalhada mais e mais profundamente. Consegue ver-se como uma velhinha agora, com muitas outras rugas para combinar. Quando você fica de pé, assim, com a casa em silêncio, você consegue ouvi-lo claramente. Está cavando seu caminho, persistente, aproximando-se do gesso. O gesso está sucumbindo agora, fácil, sob suas garras. Ele é bem-equipado, sabe lidar com essas frágeis estruturas construídas por pedreiros. Já pariu caminhos pela terra, paredes e túneis.
Você permanece imóvel. Você poderia ir pegar o telefone lá no canto do quarto e ligar para ele. Vocâ sempre consegue falar com ele. O celular fica ligado a qualquer hora do dia. Mas você não liga. Você permanece imóvel.
O gesso está se despedaçando. Pequenos flocos caem sobre o carpete, como o princípio de uma nevasca. Depois mais depressa, o gesso quebra-se em pedaços, facilmente, feito serragem, feito lenha sendo serrada por uma pequena serraria de garras firmes.
Um buraco agora, do tamanho do seu punho. Se você se mexer agora, se fizer barulho, você interromperia. O bicho recuaria, voltaria para o espaço dele, e deixaria vocâ no seu. Você poderia ligar para ele, ainda daria para você ligar para ele; ou então chamar um dos pedreiros estrada abaixo, para que um deles viesse rapidamente e fechasse o buraco, colocasse outra camada de gesso ali; poderia chamar o dedetizador, jogar veneno lá dentro, interromper o processo.
Mas não. Você quer, acima de tudo, mais do que a proximidade com a pele dele, mais do que aquele grude entre as coxas e o possível bebê, você quer ver o que foi que viveu e entocou-se ali, naquele lugar entre o teto e o telhado.
Está chovendo forte, agora, contra a claraboia; gotas insistentes pingando, golpeando o vidro, pequenas entidades exigindo entrada.
Até que, através do buraco, ele se estatela no chão, no carpete. Permanece completamente imóvel, assim como você está imóvel, e vocês se encaram, um de cada lado do carpete limpo.
É uma ratazana — grande, cinza, e seus olhos marrons encaram você. Ela não parece estar com medo, assim como você também não está com medo, só absolutamente imóvel. Se você for em sua direção, você não sabe para que lado ela irá, assim como ela não sabe para que lado você irá. Então vocês duas permanecem imóveis.
Você vê que suas orelhas reagem a cada novo som. A chuva no vidro, o bate-bate da lava-louças na cozinha. Você não gosta de tê-la aqui, no seu espaço, no seu lugar. Mas ela está aqui.
Você começa a ficar ofegante. Talvez sua imobilidade esteja sucumbindo também, como o gesso, fácil, partindo-se. A ratazana sabe disso. É rápida, essa ratazana. Ela dispara pelo carpete, tão depressa que você não tem tempo nem de sair da frente, ela já passou por você e deslizou pela porta do quarto afora, avançando pelo espaço da casa. Ela cruzou por você tão rapidamente, e você está aliviada por ela ter ido embora, um flash cinza, tão depressa. Ainda assim você teve tempo de notar uma coisa, numa fração de segundo, sobre a barriga da ratazana, que estava grande e inchada e resvalou no chão enquanto ela corria. Você fecha a porta e ouve a chuva.
Você pode ligar agora, pegar o telefone e dizer a ele que ele estava errado. Não era um passarinho, não era um camundongo. Era uma ratazana. Você poderia dizer a ele, triunfante. Mas algo faz com que você hesite. É o tamanho da barriga da ratazana.
Então você não liga. Você senta-se à mesa e pensa no que dirá a ele hoje à noite.
Afinal, ele perceberá o buraco.
De repente você pode dizer que foi um passarinho, ou um camundongo, e decidir para qual pedreiro ligar, para reparar o estrago.
The Spaces in Houses
Viviene Vermes
You know there is a rat in the house because you have heard it at night, somewhere between the roof and the bedroom ceiling. Its persistent burrowing makes you think it is trying to bore its way through to your living quarters. He says it is a mouse, or a bird. You know it is something bigger than a mouse, and you know that birds do not burrow, they rustle. But, because he says these things in his drowsy, light hearted voice, you curl up next to him and go back to sleep in the dawn. You are happy enough because your skins — his and yours — are the same temperature. As if you have the same skin, indistinguishable. Both pink and white and cool.
The day is cold. He jumps out of bed and races across the bedroom to put on a towelling dressing gown. From where you lie, you hear the splash of shower sounds, sharp water cleaning away the small liquids of your late-night lovemaking. This, by the way, is unsatisfactory to you, but you have not said anything. He is always bounding around, on the phone or clearing up the kitchen. He does most things well, and laughs while he does them which, to your mind, is rare in a man, and very satisfactory. One of these days, you think, you will sit him down and pour him a Scotch and say exactly what would turn you on. You just have to choose the right time.
It is eight o’clock. BBC Radio 4. Six beeps and the news. You like these presenters. They are familiar to you — their grave voices, their intelligence. In Kosovo, houses are burning and the villagers are hiding in the woods, watching the smoke rise. They must be cold now, these women (most of them women, their husbands shot) up in the woods, in late winter, with no houses.
You nestle down between the sheets and draw the duvet up to your neck. You look out of the skylight, a small square of window cut into the slope of the wall where it rises up to the rafters. The glass is spattered with raindrops. It always rains here, in this village, in the middle of England. It seems that you have never woken up to anything but rain. You have thoughts as pitty-pat as the drizzle… how good breakfast is, always, in this house, with fresh fruit yoghurt and hot coffee and brown bread taken crispy and hot from the Aga. You will eat breakfast opposite him, and you will think how lucky you are, for once in your life, to have a man whose skin blends with yours, who has shoulders that carry problems without complaint, who laughs at himself and goes to fancy dress parties as a tree. You like all that. You like the village, too, with its trout farm and white wrought-iron tables spread under the plum trees, with its tea-rooms and Tudor mansion and its two ghosts. You like all this, after the city. It had been time to leave the capital. It had been good to you when you arrived, years ago. Of late, it had turned sour, the pavements all dog-shit and vomit, the beggars everywhere (and you never knew who was fake and who was real) and three friends dying in quick succession, and you holding each one’s hand in turn, with no words at all, as they left you.
It had been time.
You get out of bed and enjoy the space of the room. A thick clean carpet, the colour of honey. The wood beams, the slanting ceiling. The house is on the edge of the village. On one side there are fields with the first tiny lambs fluffy with the cold. On the other side, just down the road, but sheltered from view, is a house, but you have never seen its inhabitants, only builders coming and going, converting, as they are always doing in this part of the country. There is no one nearby who knows your name, no neighbour. You like this privacy. You walk around the room naked. You stop in front of the full-length mirror, and pull a face. Your body has undoubtedly got fatter since you moved here, but not displeasingly so. It still goes in and out at the right places, it is just that the ‘out’ is further out than before. Maybe, you think, there are a few more lines on your face — one, especially, you don’t like: it goes down the side of your face from your nose to your mouth and beyond. It disappears when you smile, so you smile. You keep smiling even when you hear, in the pauses in the radio interview, the persistent sound coming from that space between the ceiling and the roof. You must speak to him about it, although you don’t know what good it would do. That place is inaccessible. You would have to knock out the plaster or drill a hole in the roof to get at it. And this is not his house, or yours. It is rented from a stockbroker and his wife who live in Hong Kong. So what is the point, you think, of talking about the rat, which may, after all, be a mouse or a bird.
He is coming out of the shower and you cross on the landing. He is red and clean-rubbed. You are pale and unwashed and can still feel his stickiness on the inside of your thighs. Although you are probably too old, you may have made a baby the night before. You smile at the unexpected havoc it would cause, and you kiss him quickly, on the cheek.
You go down into the kitchen and find he has already been there. The cups are on the table and the radio is on loud. In a town in Lithuania, the mayor is on trial, fifty years on, for war crimes, the deportation of five thousand Jews. The people of the town are behind their mayor, protesting his innocence, and saying that, anyway, the past is the past. A Jewish woman is interviewed. She runs a museum in the town that is neglected and receives few visitors. She says she will run it as long as she lives, in memory of the seventy-four friends and members of her family who died in the camps. She is the only survivor. She says the houses in the town are like so many empty faces.
You put the brown rolls in the oven, you turn on the kettle, you sit in the big kitchen with its beautiful stone floor with marbled slabs imported, at great expense, from Italy.
He comes downstairs fresh and well-dressed and bustling. You are crying, but you have your back to him. You lean over the Aga as you open the oven so the heat makes your face red and he won’t see the tears. They have gone by now, anyway.
You eat your fruit yoghurt and pour clear honey on your roll and he talks. He hates doing business with the Japanese, he says. He is straightforward, a farmer’s son, brought up in Canada. He doesn’t like Japanese ‘tactics’. He is talking of setting up a system of video-conferencing, which means he won’t have to travel so much. Your mouth goes down. You can feel the wrinkle slide back into place, and you are cross with yourself. You are always nagging him to stay at home, to be with you. After all, you gave up the city to be with him. And now your mouth is going down. If you admit it, you enjoy his absences, you have grown to like the silence of the house, even at night, alone, if it weren’t for the sound in the space between the ceiling and the roof.
Now the house is quiet. He has gone to work. You have put the dishes in the dish-washer. You can hear its hum and chum from where you sit in the bedroom, your table facing two floor-length windows, so the cold, early spring light shines on your pen, your page. It is hard to write, thoughts crowd in on top of each other, a jumble — they block you, not the blank cold spring page, but the many little ghosts of thoughts all whispering at once, urgent and together. You walk around the room. Your feet, bare, rasp against the carpet.
You think of your father. You wish he were not so old. You wish he had told you more about his secrets, about the family that disappeared. There is a horror there, and the shunting of trains. You have seen it in his eyes, and, with a child’s sense of the hidden, you have kept silent. Once, insistent, you made him take you through old photos. You made him guide you around his village, going from door to door, cousin to cousin. You imagined you were following his stooped back, wondering if this were cruel or kind, this opening of doors on to old corridors, full of laughter, once, and hung with portraits and diplomas, and smelling of goulash and dumplings. He has never been back. For him, the houses now are so many empty faces.
This house is quiet. There is sun, then rain, then sun again, passing across the floor-length windows and the slat of the skylight. You walk and walk. Maybe you walk half a mile around the room, with the weather changing, with your feet rasping against the carpet.
Then you hear it. Faint, at first, then louder. When you walk, when you move, it stops. So you stop. You stand very still, opposite the full-length mirror, and you wait. You are patient. You could stand here, so, all day. The morning light is bright on you. You can see your wrinkle etched deeper, deeper. You can see yourself as a little old lady, so, with lines all over to match. When you stand, so, with the house quiet, you can hear it quite clearly. It is boring its way through, persistent, coming closer to the plaster. The plaster is flaking, easy, under its claws. It is equipped, it can deal with these builders’ fragile surfaces. It has burrowed through earth and walls and tunnels.
You stand quite still. You could go and pick up the phone in the corner of the room and call him. You can always reach him. His mobile is switched on at any time of the day. But you don’t call. You stand quite still.
The plaster is crumbling. Small flakes fall on the carpet, like an early snowfall. Then more quickly, the plaster breaks off in chunks, easily, like sawdust, light wood, cut away from behind by the steady little sawmills of claws.
A hole now, as big as your fist. If you move now, make a noise, you could stop it. It would retreat, go back to its quarters, and leave you to yours. You could phone him, even now you could phone him, or call one of the builders down the road, have one of them come quickly and seal up the hole, put another layer of plaster there, get the ratman in, put the poison down, stop up the process.
But you don’t. You want more than anything, more than the closeness of his skin, more than the sticky stuff between your legs and the maybe baby, you want to see what has lived and burrowed up in that space between the ceiling and the roof.
It is raining now, hard, against the skylight, insistent drops pattering, beating against the square of glass, little entities demanding entry.
And then, through the hole, it plops on to the floor, on to the carpet. It remains utterly still, as you are still, and you stare at each other across the clean carpet.
It is a rat — large, grey, and its brown eyes stare at you. It does not look afraid, as you are not afraid, yet utterly immobile. If you move towards it, you do not know which way it will go, as it does not know which you will go. So you both stay very still.
You see its ears are twitching at new sounds. The rain on glass, the hum of the dish-washing machine from the kitchen. You do not like it in your space, in your quarters. But it is here.
Your breathing is fast. Maybe your immobility is caving in like the plaster, easy, cracking. The rat knows this. It is quick, this rat. It flashes across the carpet, so quick that you do not have time to get out of the way, it has already streaked past you and out of the bedroom door and into the living quarters of the house beyond. It has rushed past you, and you are relieved it has gone, a grey flash, so quickly. Still you have had time to notice something, in a split second, about the rat’s belly, that was big and swollen and slithered under it as it sped across the floor. You close the door and listen to the rain.
You can call now, take the phone and tell him he was wrong. It was not a bird, it was not a mouse. It was a rat. You could tell him with satisfaction. But something makes you hesitate. It is the bigness of the rat’s belly.
So you don’t call. You sit down at your table and think of what you will say to him tonight.
He will, after all, notice the hole.
Then you might say it was a bird, or a mouse, and decide which builder to call, to repair the damage.