Fragmento da Odisseia de Nikos Kazantzakis

Silvio Somer

PALAVRAS-CHAVE: Filosofia; Literatura; Grécia; Século 20.

KEYWORDS: Philosophy; Literature; Greece; 20th century.

 

Apresentação

Em 1938 Nikos Kazantzakis publicou sua Odisseia, um poema épico baseado no modelo da Odisseia de Homero, composta por um total de 33.333 versos iâmbicos de 17 sílabas não rimadas divididos em 24 livros (um para cada letra do alfabeto grego). Por sua versificação tão incomum Kazantzakis foi criticado, mas muito mais por ter usado léxico e gramática simplificados, ligados à “escrita popular” (demótico) em oposição ao formato “purista” (katharevousa), oficial na época.

O aparecimento desta Odisseia teve impacto, na Grécia, comparável à publicação de Ulisses, de James Joyce, no Reino Unido. Para este projeto, Kazantzakis trabalhou por treze anos em sete rascunhos antes da forma final. O poema começa com o retorno de Ulisses a Ítaca e representa um herói errante insatisfeito, tentando conquistar a inalcançável “liberdade plena”, em que a virtude última é a própria luta.

Kazantzakis queria escrever um hino à glória do homem, à sua frágil majestade, o resultado é a saga do homem moderno, tanto mais visceral quanto mais existencial do que o que Homero nos legou. A paixão pela vida que transbordava no protagonista de Zorba o Grego na Odisseia ultrapassa o carpe diem, a cada linha somos conduzidos ao questionamento de nossos impulsos, nossa natureza mais profunda, passando pela busca da independência e da liberdade.

A apreciação de Kazantzakis por Nietzsche e Bergson fica aparente na exposição da mentalidade contemplativa de Odisseu, tornado num ascético super-homem com laivos de budista. O percurso do protagonista é tanto espiritual quanto físico, nele Odisseu vai a Esparta, segue a Creta onde seu rei é destronado pelo povo. O mesmo acontece em sua próxima parada, Egito. Uma Cidade Ideal por ele fundada é destruída por um terremoto, no qual morrem seus companheiros, depois disso o que se segue é uma vida ascética.

Ao pregar sua própria religião Odisseu conhece algumas personalidades que deixaram sua marca no mundo, dentre eles Buda, Jesus, Dom Quixote e Fausto. Em sua viagem final, à Antártica, ele percebe a aproximação da morte em meio a região tão inóspita e diferente da mediterrânea Grécia. Sua apoteose é uma forma de renascimento, no qual se tornará uno com o universo.

A passagem aqui traduzida (do verso 861 ao verso 941 do livro XXIII – Ψ) é a terceira de um total de cinco despedidas dos elementos: Terra, Água, Fogo, Ar e Mente. Tanto o número 3 quanto o fogo são muito importantes na significação do poema, o primeiro por estar ligado à expressão matemática da progressão dialética, começando pela tese, passando pela antítese e terminando na síntese. O apolíneo fogo une as forças opostas da criação e da destruição.

O autor

Nikos Kazantzakis (Νίκος Καζαντζάκις) nasceu na cidade de Iráklio, Creta, em 1883 e morreu em Friburgo, Alemanha, em 1957. Sua educação básica foi recebida em sua cidade natal e em Naxos, na Universidade de Atenas se graduou em Direito, depois disso passou cinco anos viajando pela Europa, situação em que aprendeu cinco línguas modernas. Em 1907 mudou-se para Paris onde estudou filosofia. Ao longo de sua vida ele viajou extensivamente pelo mundo. Em 1946, por pouco tempo, foi Ministro da Educação e em 1947 foi apontado Diretor de Traduções de Clássicos para a UNESCO, cargo em que ficou por apenas um ano. A maior parte de sua vida foi dedicada à literatura, da qual tirou subsistência.

Observação: Nesta tradução o objetivo principal foi o de ser o mais literal possível, assim o esquema rítmico não foi preservado.

 


 

Fragmento da Odisseia de Nikos Kazantzakis

Quando suas palmas se esvaziaram ele se virou para seu terceiro amigo,
para seu terceiro elemento interior e despediu-se:
“Ó galgo ganancioso, Ó meu coração de leopardo, Ó Fogo,
você que desdenha tanto terra quanto água, que lambe penhascos
e depois salta aos picos gêmeos de meu desespero e força,
ouça-me, Ó fogo, mãe, filha, ouça e obedeça!
Meus ossos antigos agora estão vazios e assoviam como caniços,
minha espinha dorsal transborda no mar a gotas lentas,
a terra me deixou com indiferença, tornou-se barro novamente,
e velhaca água infiel uma vez mais flui para o mar;
você apenas permaneceu fiel em meio à minha fronte
Ó Fogo, Ó nobre dançarino, chama adoradora da dança
que procura novas formas de inflamar para que o mundo não se desvaneça!
Para raspar alegria de suas horas tristes e posses sem amor,
os prudentes senhorios da terra com seus cérebros gordos
fofocam furtivamente com virtudes entorpecidas e afiadas
ou possuem as chaves do poder e liberam cada opróbrio
ou acariciam alguma garota sedutora em uma cama macia,
mas eu escolho apenas você, Ó Fogo, com sua coifa alta!
Ah, pintalgado a leopardo, todos brincamos bem juntos, penetramos
através de castelos, invadimos corações e lançamos faíscas ardentes
até que tudo – pedras, madeira e corações – cederam sua floração final!
Ó Fogo, você sabe o segredo que tem abrasado meu coração:
‘Eu não amo o homem, apenas amo a chama que o devora!’
Quando como leão perambulei pelos lares do homem,
não me apressei a salvar um único corpo ou alma
pois minha mente desdenha a brasa e escória que você abandona
e com pavor o medo caça apenas você, Ó chama mística!
Você oscilou sobre minha cabeça audaz como uma bandeira esfarrapada,
você gritou e eu também gritei, e suas línguas saltaram;
as fundações da terra e do coração tombaram e deixaram
apenas cinzas cálidas lentamente soltando cinzas em minhas mãos vazias.
Você não se inclinou à terra para acumular riquezas rústicas,
nem sentiu uma alegria preguiçosa nos acenos de sim e não,
mas correu adiante e soube bem onde havia mirado sua seta:
para incendiar cidades e corações, para queimar também seu mestre.
Você chamuscou e purificou a terra para fender novos campos sulcados
até que novos semeadores venham e a alma floresça novamente.
Ó Fogo, o lobo é o seu pastor, a raposa guarda seus vinhedos,
você espalha riquezas aos quatro ventos e a todos grita:
‘Venham, eu sou o senhorio, tomem minhas riquezas e bens, comam, bebam,
pois tudo é meu, cidades e cérebros, e nada quero, sufoco!’
Por isto te amei, leopardo, com sua calda em pé!
Bem temos brincado e queimado juntos ao longo de nossas vidas
quando suas garras fizeram meu corpo sangrar ou partiram minha mente,
quando durante a noite toda, em meu sono, ouvi suas línguas cacarejantes
queimarem minha pele e despirem meus cérebros de carne.
Andei em chuvas e explosões solares da terra miserável
sozinho, sem cão, crianças, amigos, sem deuses, sem esperanças,
e lutei sozinho com você, Ó Fogo, apenas para te ultrapassar;
mas você saltou sobre as ferozes batalhas da mente
e me fixou com a chama faminta de seus olhos firmes
pois você bem sabia quão saborosa a carne do mestre pode ser.
Ascenda, devore seu pai, Fogo, para que possamos morrer juntos!
Ira e compaixão sufocam meu coração, agora não brincarei,
minha alma salta como um hálito fogoso de galho em galho,
agarra e rasga cabeça após cabeça à noite e grita:
‘Ó Fogo, aniquile a terra traficante de prostitutas,
meus filhos e minhas filhas me envergonharam e os obliterarei!’
Eu observo o fio rubro que lentamente se acumula na terra,
o sangrento fósforo turvo de pirilampos que rastejam
e se contorcem com luxúria e se acasalam na lama, depois desvanecem
na rotina umedecida de chuva da imaginação do homem;
eu observo e desprezo brincar aqui nesta terra indecente!
Alma, pátria, homens e terra, deuses, tristezas, alegrias e pensamentos
são fantasmas feitos de água, barro e espuma da mente,
bons apenas para aqueles palpitantes corações que tem esperanças
e medo e aqueles cérebros prenhes de ar que arrotam seus filhos ao nascer.
Nossos intestinos tremulantes gemem: ‘De onde, e por quê, e onde?’
nossas cabeças gemem também, ressoando na noite sem fronteiras,
e agora uma voz dentro de mim pula em resposta ousada:
‘O fogo algum dia certamente virá para purificar a terra,
o fogo algum dia certamente virá para transformar minha mente em cinzas,
o destino é uma língua fogosa que devora a terra e o céu!’
O útero da vida é o fogo, e fogo é o último túmulo,
e lá entre duas chamas majestosas nós dançamos e choramos;
neste meu clarão de relâmpago azul onde minha vida queima,
todo o tempo e todo o espaço desaparecem e a mente desmorona,
e onde tudo – corações, pássaros, cérebro e barro – começa a dançar,
embora não seja dança agora, pois eles ardem, desvanecem e giram,
subitamente são liberados para não mais existirem, nem tem eles vivido!”

Texto original

Καὶ σύντας πιὰ τὰ χέρια του ἄδειασαν, στὸν τρίτο μέγα βλάμη,
στὸ τρίτο μέσα του στοιχειό, γυρνάει κι ἀργὰ ποχαιρετᾶ το:
«Φωτιά, λιμάρα λαγωνίκα μου, λιοπάρδαλη καρδιά μου,
ποὺ χῶμα καὶ νερὸ καταφρονᾶς καὶ τοὺς γκρεμοὺς ἀγλείφεις
καὶ στὴν κορφὴ πηδᾶς τῆς δύναμης καὶ τῆς ἀπελπισιᾶς μου,
φωτιά, μητέρα, θυγατέρα μου, φωνάζω, ἐπάκουσέ με!
᾿Αδειάσαν τὰ γερά μου κόκαλα, σφυρίζουν σὰν καλάμια,
χύνεται στάζοντας στὴ θάλασσα τὸ ραχοκόκαλό μου·
τὸ χῶμα ἀνέγνοιο μὲ παράτησε, ξαναγυρνάει στὸ χῶμα,
καὶ τὸ ἄπιστο μαριόλικο νερὸ ξαναχιμάει στὸ χὺμα·
μονάχα ἐσύ μοῦ ἀπόμεινες πιστὴ στὰ μεσομέλιγγά μου,
φωτιά μου, ἀρχόντισσα χορευταρού, πολὺ ὁ χορὸς σοῦ ἀρέσει
κι ὅλο καινούρια προσαψίδια θές, ὁ κόσμος νὰ μὴ σβήσει!
Οἱ φρόνιμοι μὲ τὰ παχιὰ μυαλὰ τῆς γῆς νοικοκυραῖοι,
γιὰ νὰ χαροῦν τὴν ἄχαρη ὥρα τους καὶ τ᾿ ἄπλανα ἀγαθά τους,
μὲ τὴ φαρμακομύταν ἀρετὴ κρουφὰ κουτσομπολεύουν,
γιά τὰ κλειδιὰ τῆς ἐξουσιᾶς κρατοῦν καὶ τὶς ντροπὲς ἀνοίγουν,
γιά κανακίζουν στὴ βαθιὰ στρωμνὴ μιὰ χνουδωτὴ γυναίκα·
μὰ ἐγώ, φωτιά μου, ἐσένα διάλεξα μέ τὸ ἀψηλὸ σκουφί σου!
Πῶς παίξαμε μαζί, λιοπάρδαλη, πῶς μπήκαμε στὰ κάστρα,
πῶς μπήκαμε, φωτιά, καὶ στὶς καρδιὲς καὶ ρίξαμε τὴ σπίθα,
κι ὅλα, πέτρες καὶ ξύλα καὶ καρδιές, ἐδῶκαν τὸν ἀνθό τους!
Κατέχεις το, φωτιά, τὸ μυστικὸ ποὺ μοῦ ἔκαιγε τὰ σπλάχνα:
“Δὲν ἀγαπῶ τὸν ἄνθρωπο, ἀγαπῶ τὴ φλόγα ποὺ τὸν τρώει!”
Κι ὅντας σὰ λιόντας ἐμπαινόβγαινα στὰ σπίπια τῶν ἀνθρώπων,
μήτε ψυχὲς ἐγὼ μήτε κορμιὰ χιμοῦσα νὰ λυτρώσω –
ὅλα ᾿ναι στάχτη κι ἀποστάχτι σου καὶ δὲν τὰ θέλει ὁ νοῦς μου,
μονάχα ἐσένα, φλόγα μυστικιά, μὲ τρόμο κυνηγοῦσα!
Σκισμένο φλάμπουρο κυμάτιζες στὴν κεφαλή μου ἀπάνω,
ἐφώναζες, ἐφώναζα κι ἐγώ, καὶ χύνουνταν οἱ γλόγες,
τρίζαν, γκρεμίζουνταν τὰ θέμελα γῆς καὶ καρδιᾶς, κι ἡ στάχτη
ζεστὴ καὶ λιγοστὴ σιγάχνιζε μὲς στὶς βαθιές μου φοῦχτες.
Δὲ σώριαζες χωριάτικα ἀγαθὰ σκυμμένη ἐσὺ στὸ χῶμα
κι οὐδὲ καὶ χαίρουσουν ὀκνὰ τὸ ναὶ καὶ τ᾿ ὄχι τοῦ κυμάτου,
παρὰ χιμοῦσες μπρὸς καὶ κάτεχες τὸ κατὰ μοῦ ξαμώνεις –
νὰ φᾶς τὰ κάστρα, τὶς καρδιές, νὰ φᾶς καὶ τὸ ἔρμο ἀφεντικό σου.
Καψάλιζες, καθάριζες τὴ γῆς γιὰ ν᾿ ἀνοιχτοῦν τ᾿ αὐλάκια,
γιὰ ν᾿ ἀνοιχτεῖ ἡ ψυχὴ κι ἄλλος νὰ ᾿ρθεῖ καλύτερος νὰ σπείρει.
Φωτιά, τὸ λὺκο βάνεις πιστικό, τὴν ἀλεποὺ δραγάτη,
κι ὅλα ἀνεμοσκορπίζεις τ᾿ ἀγαθὰ καὶ τοὺς διαβάτες κράζεις:
“Ἐλᾶτε, φᾶτε, πιέτε, ἁρπάξετε, κι ἐγώ ᾿μαι ὁ νοικοκύρης·
ὅλα δικά μου, κάστρα καὶ μυαλά, πλαντῶ καὶ δὲν τὰ θέλω!”
γι᾿ αὐτὸ καὶ σὲ ἀγαποῦσα, λιόπαρδη μὲ τὴν οὐρὰν ὁλόρθη.
Πῶς ἔπαιζα μαζί σου ὁλοζωῆς, πῶς καίγουμουν μὲ σένα,
τὰ νύχια σου αἱματῶναν τὸ κορμί, χαράζαν τὸ μυαλό μου,
κι ὁλονυχτοῦ στὸν ὕπνο μου ἄκουγα τὴ γλώσσα σου ν᾿ ἀγλείφει,
νὰ ξεδερμάει τραχιὰ τὴ χέρα μου, νὰ ξεδερμάει τὸ νοῦ μου.
Περπάτουν στὶς βροχές, στὰ λιόβορα τῆς μαύρης γῆς μονάχως,
χωρὶς παιδιά, σκυλιὰ καὶ σύντροφους, χωρὶς θεοὺς κι ἐλπίδες –
μὲ σένα μόνο, καὶ παράβγαινα, φωτιά, νὰ σὲ περάσω.
Καὶ σύ, λιμάζοντας, τοῦ κεφαλιοῦ τὶς ἄγριες πολεμίστρες
πηδοῦσες καὶ μὲ βίγλιζες στηλὰ μὲ τὰ φλογάτα μάτια,
τὶ νόστιμο πολύ, κατέχεις το, τοῦ ἀφεντικοῦ τὸ κρέας·
σήκω, φωτιά, τὸν κύρη σου νὰ φᾶς καὶ νὰ χαθεῖς μαζί του!
Σπλάχνος κι ὀργὴ πλακῶσαν τὴν καρδιά, δὲ θέλω πιὰ νὰ παίζω·
σὰν πνέμα πύρινο ἡ ψυχή μου ὁρμάει κλαρὶ κλαρὶ καὶ πάει,
κεφάλι τὸ κεφάλι ἀκρανυχάει μεσάνυχτα καὶ κράζει:
“Φωτιά! νὰ καθαρίσει ἡ κούρβα γῆς, μὲ ντρόπιασαν οἱ γιοί μου,
μὲ ντρόπιασαν οἱ θυγατέρες μου καὶ θὰ τοὺς ἀφανίσω!”
Θωρῶ τὴν κόκκινη γραμμὴ μοὺ ἀργὰ τὸ χῶμα ἀνηφορίζει,
τὸ αἱματερὸ θαμπὸ φωσφόρισμα ποὺ σούρνεται καὶ σβήνει
μιᾶς λαμπηδόνας ποὺ ἐρωτεύεται καὶ λασποζευγαρώνει
μὲς στὶς ἀποβροχάρες αὐλακιὲς τῆς φαντασιᾶς τοῦ ἀνθρώπου·
θωρῶ, καὶ πιὰ δὲν καταδέχουμαι στὴ γῆς αὐτὴ νὰ παίζω!
Ψυχή, πατρίδα κι ἄνθρωποι καὶ γῆς, θεοί, χαρές, ιδέες,
φαντάσματα ἀπὸ χῶμα καὶ νερὸ καὶ νοῦν ἀνεραδιάρη,
καλὰ γιὰ τὶς τρεμάμενες καρδιὲς ποὺ ἐλπίζουν καὶ φοβοῦνται
καὶ γιὰ τ᾿ ἀνεμογκάστρωτα μυαλὰ ποὺ ξεφυσοῦν τὸ γιό τους.
Ποῦθε, γιατί καὶ κατὰ ποῦ; βογκοῦν τὰ σπλάχνα μας καὶ τρέμουν·
βογκοῦν κι οἱ κεφαλὲς κι ἀντιβογκοῦν μὲς στὴ μεγάλη νύχτα·
καὶ τώρα μέσα μου φωνὴ κινάει κι ἀπηλογιὰ θὰ δώσει:
Θὰ ᾿ρθεῖ μιὰ μέρα σίγουρα ἡ φωτιὰ τὴ γῆς νὰ καθαρίσει,
θὰ ᾿ρθεῖ μιὰ μέρα σίγουρα ἡ φωτιὰ τὸ νοῦ νὰ κάμει στάχτη·
μιὰ γλώσσα ἡ μοίρα πύρινη, χιμάει γῆς κι οὐρανοῦ, καὶ τρώει.
Φωτιά ᾿ναι ἡ μήτρα τῆς ζωῆς, φωτιὰ καὶ τὸ στερνὸ μνημούρι·
ἀνάμεσα σὲ δυὸ ἀψηλὲς φωτιὲς χορεύουμε καὶ κλαῖμε·
καὶ στὴ γαλάζια ἐτούτη μου ἀστραπὴ ποὺ καίγεται ἡ ζωή μου,
καιρὸς καὶ τόπος ἀφανίζουνται καὶ τὸ μυαλὸ βουλιάζει,
κι ὅλα, καρδιές, βουερὰ μυαλά, θεριὰ καὶ χώματα, χορεύουν·
δὲν εῖναι πιὰ χορός, ἀνάβουν, σβηοῦν, ζαλίζουνται, καὶ ξάφνου
λυτρώνουνται καὶ δὲν ὑπάρχουν πιά, δὲν ἔζησαν ποτέ τους!”