Kate Chopin foi uma romancista que nasceu nos Estados Unidos, no dia 8 de fevereiro de 1850, na cidade de Saint Louis, Missouri[1]. E assim como todas as mulheres que buscaram deixar sua marca nas artes literárias no século XIX, teve uma carreira dificultosa (EBLE, 2005). Devido à abordagem de temas ousados em seus contos (como, por exemplo, o alcoolismo, o divórcio e preconceitos raciais e religiosos) e sua escrita madura e elaborada, Chopin impõe sua afronta à visão androcentrista de sua época, mudando a perspectiva das personagens femininas de “objeto” para “sujeito” e criticando a moral estabelecida ao construir mulheres fortes que se distanciam do padrão social de fragilidade e irrelevância imposto a elas, evidenciando o desejo feminino por independência (EBLE, 2005). Seu primeiro romance At Fault (1890) pode não ter atraído atenção, mas The Awakening (1899) não só foi reconhecido, como também repudiado pelos críticos, que o caracterizaram como vulgar, mórbido e desagradável[2]. No período entre essas duas obras, escreveu diversos contos que foram publicados em revistas estadunidenses respeitadas, sendo “The Story of an Hour” (1894) e “A pair of silk stockings” (1896) alguns de seus títulos mais conhecidos[3]. Kate Chopin faleceu em 22 de agosto de 1904[4], contudo, o fim de sua vida não se estendeu para suas obras ou sua relevância histórica no percurso do reconhecimento da mulher pela sociedade, sendo lembrada por muitos, até os dias de hoje, como uma representante do feminismo, uma vez que a autora articula sua visão pessoal da vida da mulher e “subverte a própria tradição francesa masculina em que ela mesma atua, ‘feministizando’ em vez de simplesmente feminizar o modelo de forma e estilo masculinos” (MARQUAND, 1996).
O conto “A pair of silk stockings” não lida com tabus tão facilmente observáveis como preconceito ou conteúdo sexual, mas é justo em sua narrativa leve para todas as idades que a autora sutilmente articula sua perspectiva de poder e autossuficiência feminina proveniente de uma simples situação diária na vida de uma mulher. A personagem Srta. Sommers, mãe e esposa de uma família pobre, se encontra presa em dois papeis distintos ao se deparar com a oportunidade de gastar uma grande quantia em dinheiro para comprar roupas novas para seus filhos e, durante o processo longo e cansativo de barganhas em lojas de promoção, colocar as mãos em uma luxuosa meia de seda que instiga um sentimento de poder e relevância adormecido em si mesma. Chopin produz com excelência o retrato de uma batalha constante na vida de uma mulher que jamais abandonaria sua família, mas ao mesmo tempo, não tem a intenção de diminuir sua própria identidade.
Referências
BIOGRAPHY. Disponível em: <http://www.katechopin.org/biography/>. Acesso em: 7 out. 2016.
CHOPIN, K. A pair of silk stockings. In: CHOPIN, K. The awakening and selected short stories. Project Gutenberg, 1994. (Conto originalmente publicado em 1897). Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/gu000160.pdf>. Acesso em: 16 mai. 2016.
EBLE, L. J. Uma mulher, muitas barreiras. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104026X2006000100019>. Acesso em: 7 out. 2016.
MARQUAND, J. L. Kate Chopin as Feminist: Subverting the French Androcentric Influence. 1996. Disponível em: <http://www.otago.ac.nz/deepsouth/vol2no3/chopin.html>. Acesso em: 7 out. 2016.
[1] <http://www.katechopin.org/biography/>
[2] <http://www.katechopin.org/biography/>
[3] <http://www.katechopin.org/biography/>
[4] <http://www.katechopin.org/biography/>
Uma Meia de Seda
Kate Chopin
Tradução de Henrique Tozzi
Certo dia, a pequena Srta. Sommers se tornou detentora inesperada de quinze dólares. Pareceu-lhe uma quantia bastante apreciável, e a maneira que encheu e estufou seu porta-moedas antigo e desgastado bastou para gerar uma sensação de magnitude que não havia experienciado há anos.
Sua preocupação com o investimento pairou sobre ela. Por dois dias, pareceu caminhar em um constante estado de transe e, ao mesmo tempo, absorvida em especulações e cálculos meticulosos. Não desejou agir de forma impensada e acabar por se arrepender mais tarde. Mas foi nas horas silenciosas da noite, quando se deitou desperta, retomando planos em sua mente, que começou a enxergar um caminho justo e sensato para a aplicação do dinheiro.
Um ou dois dólares devem ser adicionados à quantia gasta para os sapatos de Janie, o que irá garantir que eles tenham uma duração maior e considerável do que costumam ter. Deve também comprar trouxas e trouxas de percal para blusas novas tanto para os meninos como para Janie e Mag. Ela pretendia mandar os mais velhos fazerem-nas com bons remendos. Mag deveria ter outro vestido. Havia visto modelos lindos, verdadeiras barganhas pelas vitrines das lojas. E ainda sobraria o suficiente para meias novas – dois pares de cada – e quanta cerzidura isso economizaria por um tempo! Compraria boinas para os meninos e chapéus de marinheira para as garotas. A visão de sua pequena ninhada em um visual novo, moderno e refinado pela primeira vez em suas vidas a enchia de ansiedade, o que lhe fez sentir insônia e inquietude com tamanha antecipação.
Às vezes, seus vizinhos conversavam sobre os “dias melhores” que a pequena Srta. Sommers conheceu antes de sequer ter pensado em ser Srta. Sommers. Ela própria não se entregou a tal retrospecção mórbida. Não tinha tempo algum, nem mesmo um segundo, para consagrar o passado. As necessidades do presente absorviam toda sua competência. Uma visão de um futuro como um monstro vago e desolado, certas vezes a amedronta, mas com sorte, o amanhã jamais chegará.
Srta. Sommers conhecia, de fato, o valor das promoções; podia ficar por horas abrindo seu caminho centímetro por centímetro em busca do objeto desejado sendo vendido abaixo do preço original. Poderia abrir um caminho com seus cotovelos se fosse necessário; aprendeu a agarrar um item e segurá-lo com persistência e determinação até que chegasse sua vez de ser atendida, não importando quanto tempo levasse.
Mas, naquele dia, estava um tanto abatida e cansada. Seu almoço foi leve, não. Na verdade, quando parou para pensar, entre alimentar as crianças e ajeitar o lar, e se preparar para as compras e disputas, percebeu que havia esquecido de comer alguma coisa sequer.
Sentou-se em um banco giratório ao lado de uma bancada que estava um tanto deserta, tentando juntar força e coragem para enfrentar uma multidão impaciente que cercava as trincheiras de vestimentas. Um sentimento de leveza tomou conta dela, que acabou por descansar sua mão em qualquer local da bancada. Não estava usando nenhum par de luvas. Pouco a pouco, passou a perceber que sua mão havia encostado em algo deveras macio, muito agradável de se tocar. Olhou para baixo e observou que sua mão acabara de tocar em uma pilha de meias de seda. Um letreiro próximo anunciava que estavam com um desconto, abaixando seu preço de dois dólares e cinquenta centavos para um dólar e noventa e oito centavos. Uma jovem detrás da bancada perguntou à Srta Sommers se gostaria de examinar a sua linha de meias de seda. Ela sorri, como se tivesse sido convidada a inspecionar uma tiara de diamantes com a maior das intenções de comprá-la. Mas continuou a sentir a meia longa macia e luxuosa – agora com ambas as mãos, levantando-a da bancada para observar seu brilho, e sentir a leveza do tecido ao deslizar por entre seus dedos como uma serpente.
De repente, duas manchas avermelhadas surgem em suas bochechas pálidas e olhou para a garota.
“Você acha que tem alguma tamanho médio entre essas aqui?
Havia sim alguma tamanho médio. De fato, havia mais desse tamanho que qualquer outro. Havia um par azul claro; alguns pares de cor lavanda; alguns pretos por inteiro e vários tons de bronze e cinza. A Srta. Sommers escolheu um par de meias pretas e tomou seu tempo para observá-las com muita atenção. Fingiu examinar a textura delas, a qual a balconista garantiu ser excelente.
“Um dólar e noventa e oito centavos”, pensou alto. “Bom, levarei este par.” Entregou à garota uma nota de cinco dólares e aguardou por seu troco e seu pacote. Mas que pacote bem pequeno era! Pareceu estar perdido nos confins de sua bolsa de compras velha e medíocre.
Depois disso, Srta. Sommers não se direcionou até a bancada das promoções. Pegou o elevador, que a levou até um andar mais alto no local onde se encontravam as salas de espera e sanitários femininos. Aqui, em um canto recluso, ela trocou suas meias de algodão pelas novas meias de seda que acabara de comprar.
Não estava em um processo mental perspicaz ou racional consigo mesma, tampouco pretendendo explicar à sua satisfação o motivo de suas ações. Ela não pensava em nada sequer. Pareceu, no momento, estar descansando um pouco daquela função árdua e cansativa, e abandonou a si mesma em algum impulso mecânico que direcionou suas ações e a libertou de suas responsabilidades.
Como era bom o toque da seda crua em sua pele! Sentiu-se como se encostasse suas costas em uma cadeira acolchoada e aproveitasse, por um tempo, a luxúria de tal ato. Permaneceu assim por alguns minutos. E então trocou seus sapatos, enrolou suas meias de algodão e enfiou-as em sua bolsa. Depois disso, foi direto ao departamento de sapatos e se sentou para ser atendida.
Ela foi exigente. O vendedor não conseguia decifrá-la; falhava em reconciliar seus sapatos com as meias, e ela não se satisfazia de maneira fácil. Ela segurou suas saias e virou seus pés para um lado e sua cabeça para outro, enquanto olhava para as botas pontiagudas elegantes. Seu pé e tornozelo estavam muito bonitos. Ela não acreditava que pertenciam a ela, que eram uma parte de si mesma. Disse ao jovem que a servia que desejava um modelo excelente e estiloso, e que não se importava com a diferença de um dólar ou dois no preço desde que ela encontrasse o que queria.
Já fazia muito tempo desde que Srta. Sommers usou um par de luvas. Nas raras ocasiões em que havia comprado, eram pares “promocionais”, tão baratos que seria absurdo e insensato ter esperado que servisse em suas mãos.
Agora ela descansou seu cotovelo no estofado da bancada de luvas, e uma bela criatura jovem, agradável, delicada e hábil com o toque, sacou uma luva longa de couro kid e colocou na mão da Srta. Sommers. Estendeu-a com delicadeza até o fim de seu pulso e abotoou engenhosamente, e ambas perderam-se, por um ou dois segundos, em total contemplação e admiração da pequena mão enluvada e simétrica. Mas havia outros lugares em que o dinheiro precisava ser gasto.
Livros e revistas empilhavam-se na vitrine de uma banca apenas algumas lojas em direção ao fim da rua. Srta. Sommers comprou duas revistas caras iguais as que era acostumada a ler nos dias em que foi acostumada a coisas agradáveis. Carregou-as sem embrulho. E também como podia, levantava suas saias, da melhor maneira possível, ao cruzar as ruas. Suas meias e botas, como suas luvas bem ajustadas, realizaram maravilhas em seu comportamento. Davam a ela um sentimento de segurança, uma sensação de pertencer à multidão dos bem vestidos.
Estava deveras faminta. Em qualquer outro momento, ela teria cessado seus desejos por comida até chegar em seu lar, onde teria lhe preparado uma xícara de chá e apanhado um aperitivo qualquer que estivesse disponível. Mas o impulso que a guiava não permitiu que pudesse cogitar tal plano.
Um restaurante encontrava-se logo na esquina. Nunca entrou por entre suas portas; de fora, às vezes, dava curtas olhadelas e vislumbrava damascos sem uma mancha sequer, cristais brilhosos e garçons de passos silenciosos servindo a clientela repleta de estilo.
Ao entrar, sua aparência não gerou surpresa ou abalo, como havia temido ocorrer. Sentou-se à uma pequena mesa sozinha, e um garçom atencioso aproximou-se de imediato para ouvir seu pedido. Ela não procurou abundância; gostaria de uma bela e deliciosa mordidela – uma meia dúzia de ostras, uma costeleta carnuda com agrião e algum doce, um frapê de creme, por exemplo; uma taça de vinho Reno, e após tudo aquilo, uma xícara pequena de café preto.
Enquanto aguardava por seu pedido, removeu suas luvas com calma e colocou-as ao seu lado. Depois pegou uma de suas revistas e olhou por entre as páginas, cortando-as com a parte sem corte de sua faca. Estava tudo muito agradável. O damasco era mais impecável do que aparentou olhando de fora pela janela, e o cristal ainda mais brilhoso. Havia senhoritas e cavalheiros silenciosos que não a notaram, tendo suas refeições em pequenas mesas como a dela. Podia se ouvir o tocar suave e agradável de música, e uma leve brisa soprava pela janela. Ela provou uma mordida, e leu uma palavra ou duas, bebeu o vinho âmbar e mexeu seus dedos dos pés nas meias de seda. O preço de tudo não tinha importância. Ela contou o dinheiro na presença do garçom e deixou uma moeda a mais em sua bandeja. O mesmo curvou-se a ela como se o fizesse para uma princesa de sangue real.
Ainda tinha dinheiro em sua bolsa, e sua próxima tentação se materializou na forma de um pôster da matinê.
Já era um pouco mais tarde quando a Srta. Sommers entrou no teatro, a peça havia começado e o salão aparentou estar lotado, para ela. Mas havia assentos vagos aqui e ali, e em um deles foi introduzida, entre mulheres vestidas de maneira magnífica, que foram ali para passar o tempo, comer doces e exibir seus trajes espalhafatosos. Havia vários outros que ali estavam apenas pela peça e pelas atuações. Pode-se dizer que não havia ninguém presente tendo a mesma atitude que a Srta. Sommers teve com o que a rodeava. Ela acumulou tudo – o palco, os atores e a plateia – em uma ampla impressão, e a absorveu e aproveitou. Ela riu da comédia e chorou – ela e a mulher espalhafatosa a seu lado choraram com a tragédia. Ambas ainda conversaram juntas um pouco sobre isso. E a mulher limpou seus olhos e assoou seu nariz em um pequeno pano quadrado de rendas perfumado e passou à Srta. Sommers sua caixa de doces.
A peça havia chegado ao fim, a música cessou e a plateia deixava o recinto. Era como se um sonho tivesse acabado. Pessoas espalhavam-se por todas as direções. Srta. Sommers foi à esquina e aguardou o teleférico.
Um homem com olhos penetrantes, sentando-se ao lado oposto dela, parecia gostar do retrato de seu rosto pálido e pequeno. Para ele, foi confuso decifrar o que observava ali. Na verdade, ele viu coisa alguma – a não ser que fosse soberbo o suficiente para detectar um desejo pungente, um anseio extraordinário de que o teleférico jamais parasse em qualquer lugar, mas que continuasse em frente, indo e indo com ela, para todo o sempre.
A Pair of Silk Stockings
Kate Chopin
Little Mrs. Sommers one day found herself the unexpected possessor of fifteen dollars. It seemed to her a very large amount of money, and the way in which it stuffed and bulged her worn old porte-monnaie gave her a feeling of importance such as she had not enjoyed for years.
The question of investment was one that occupied her greatly. For a day or two she walked about apparently in a dreamy state, but really absorbed in speculation and calculation. She did not wish to act hastily, to do anything she might afterward regret. But it was during the still hours of the night when she lay awake revolving plans in her mind that she seemed to see her way clearly toward a proper and judicious use of the money.
A dollar or two should be added to the price usually paid for Janie’s shoes, which would insure their lasting an appreciable time longer than they usually did. She would buy so and so many yards of percale for new shirt waists for the boys and Janie and Mag. She had intended to make the old ones do by skilful patching. Mag should have another gown. She had seen some beautiful patterns, veritable bargains in the shop windows. And still there would be left enough for new stockings–two pairs apiece–and what darning that would save for a while! She would get caps for the boys and sailor-hats for the girls. The vision of her little brood looking fresh and dainty and new for once in their lives excited her and made her restless and wakeful with anticipation.
The neighbors sometimes talked of certain “better days” that little Mrs. Sommers had known before she had ever thought of being Mrs. Sommers. She herself indulged in no such morbid retrospection. She had no time–no second of time to devote to the past. The needs of the present absorbed her every faculty. A vision of the future like some dim, gaunt monster sometimes appalled her, but luckily to-morrow never comes.
Mrs. Sommers was one who knew the value of bargains; who could stand for hours making her way inch by inch toward the desired object that was selling below cost. She could elbow her way if need be; she had learned to clutch a piece of goods and hold it and stick to it with persistence and determination till her turn came to be served, no matter when it came.
But that day she was a little faint and tired. She had swallowed a light luncheon–no! when she came to think of it, between getting the children fed and the place righted, and preparing herself for the shopping bout, she had actually forgotten to eat any luncheon at all!
She sat herself upon a revolving stool before a counter that was comparatively deserted, trying to gather strength and courage to charge through an eager multitude that was besieging breastworks of shirting and figured lawn. An all-gone limp feeling had come over her and she rested her hand aimlessly upon the counter. She wore no gloves. By degrees she grew aware that her hand had encountered something very soothing, very pleasant to touch. She looked down to see that her hand lay upon a pile of silk stockings. A placard near by announced that they had been reduced in price from two dollars and fifty cents to one dollar and ninety-eight cents; and a young girl who stood behind the counter asked her if she wished to examine their line of silk hosiery. She smiled, just as if she had been asked to inspect a tiara of diamonds with the ultimate view of purchasing it. But she went on feeling the soft, sheeny luxurious things–with both hands now, holding them up to see them glisten, and to feel them glide serpent-like through her fingers.
Two hectic blotches came suddenly into her pale cheeks. She looked up at the girl.
“Do you think there are any eights-and-a-half among these?”
There were any number of eights-and-a-half. In fact, there were more of that size than any other. Here was a light-blue pair; there were some lavender, some all black and various shades of tan and gray. Mrs. Sommers selected a black pair and looked at them very long and closely. She pretended to be examining their texture, which the clerk assured her was excellent.
“A dollar and ninety-eight cents,” she mused aloud. “Well, I’ll take this pair.” She handed the girl a five-dollar bill and waited for her change and for her parcel. What a very small parcel it was! It seemed lost in the depths of her shabby old shopping-bag.
Mrs. Sommers after that did not move in the direction of the bargain counter. She took the elevator, which carried her to an upper floor into the region of the ladies’ waiting-rooms. Here, in a retired corner, she exchanged her cotton stockings for the new silk ones which she had just bought. She was not going through any acute mental process or reasoning with herself, nor was she striving to explain to her satisfaction the motive of her action. She was not thinking at all. She seemed for the time to be taking a rest from that laborious and fatiguing function and to have abandoned herself to some mechanical impulse that directed her actions and freed her of responsibility.
How good was the touch of the raw silk to her flesh! She felt like lying back in the cushioned chair and reveling for a while in the luxury of it. She did for a little while. Then she replaced her shoes, rolled the cotton stockings together and thrust them into her bag. After doing this she crossed straight over to the shoe department and took her seat to be fitted.
She was fastidious. The clerk could not make her out; he could not reconcile her shoes with her stockings, and she was not too easily pleased. She held back her skirts and turned her feet one way and her head another way as she glanced down at the polished, pointed-tipped boots. Her foot and ankle looked very pretty. She could not realize that they belonged to her and were a part of herself. She wanted an excellent and stylish fit, she told the young fellow who served her, and she did not mind the difference of a dollar or two more in the price so long as she got what she desired.
It was a long time since Mrs. Sommers had been fitted with gloves. On rare occasions when she had bought a pair they were always “bargains,” so cheap that it would have been preposterous and unreasonable to have expected them to be fitted to the hand.
Now she rested her elbow on the cushion of the glove counter, and a pretty, pleasant young creature, delicate and deft of touch, drew a long-wristed “kid” over Mrs. Sommers’s hand. She smoothed it down over the wrist and buttoned it neatly, and both lost themselves for a second or two in admiring contemplation of the little symmetrical gloved hand. But there were other places where money might be spent.
There were books and magazines piled up in the window of a stall a few paces down the street. Mrs. Sommers bought two high-priced magazines such as she had been accustomed to read in the days when she had been accustomed to other pleasant things. She carried them without wrapping. As well as she could she lifted her skirts at the crossings. Her stockings and boots and well fitting gloves had worked marvels in her bearing–had given her a feeling of assurance, a sense of belonging to the well-dressed multitude.
She was very hungry. Another time she would have stilled the cravings for food until reaching her own home, where she would have brewed herself a cup of tea and taken a snack of anything that was available. But the impulse that was guiding her would not suffer her to entertain any such thought.
There was a restaurant at the corner. She had never entered its doors; from the outside she had sometimes caught glimpses of spotless damask and shining crystal, and soft-stepping waiters serving people of fashion.
When she entered her appearance created no surprise, no consternation, as she had half feared it might. She seated herself at a small table alone, and an attentive waiter at once approached to take her order. She did not want a profusion; she craved a nice and tasty bite–a half dozen blue-points, a plump chop with cress, a something sweet–a creme-frappee, for instance; a glass of Rhine wine, and after all a small cup of black coffee.
While waiting to be served she removed her gloves very leisurely and laid them beside her. Then she picked up a magazine and glanced through it, cutting the pages with a blunt edge of her knife. It was all very agreeable. The damask was even more spotless than it had seemed through the window, and the crystal more sparkling. There were quiet ladies and gentlemen, who did not notice her, lunching at the small tables like her own. A soft, pleasing strain of music could be heard, and a gentle breeze, was blowing through the window. She tasted a bite, and she read a word or two, and she sipped the amber wine and wiggled her toes in the silk stockings. The price of it made no difference. She counted the money out to the waiter and left an extra coin on his tray, whereupon he bowed before her as before a princess of royal blood.
There was still money in her purse, and her next temptation presented itself in the shape of a matinee poster.
It was a little later when she entered the theatre, the play had begun and the house seemed to her to be packed. But there were vacant seats here and there, and into one of them she was ushered, between brilliantly dressed women who had gone there to kill time and eat candy and display their gaudy attire. There were many others who were there solely for the play and acting. It is safe to say there was no one present who bore quite the attitude which Mrs. Sommers did to her surroundings. She gathered in the whole–stage and players and people in one wide impression, and absorbed it and enjoyed it. She laughed at the comedy and wept–she and the gaudy woman next to her wept over the tragedy. And they talked a little together over it. And the gaudy woman wiped her eyes and sniffled on a tiny square of filmy, perfumed lace and passed little Mrs. Sommers her box of candy.
The play was over, the music ceased, the crowd filed out. It was like a dream ended. People scattered in all directions. Mrs. Sommers went to the corner and waited for the cable car.
A man with keen eyes, who sat opposite to her, seemed to like the study of her small, pale face. It puzzled him to decipher what he saw there. In truth, he saw nothing-unless he were wizard enough to detect a poignant wish, a powerful longing that the cable car would never stop anywhere, but go on and on with her forever.