Visões de hoje, de Isidoro Martins Júnior

Isabela Melim Borges

Visões de hoje

Isidoro Martins Júnior

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Publicado em 1881, Visões de Hoje é o livro de José Isidoro Martins Júnior[1] que inicia as discussões mais aprofundadas sobre a poesia científica brasileira, que, em conjunto com as poesias social, progressista, revolucionária, determinista, evolucionista e, obviamente, positivista, preenchia aquele ambiente literário carregado de ideias advindas da filosofia de Auguste Comte.

Filho da “Escola do Recife”, Isidoro Martins Júnior clama por uma renovação poética dita “científico-filosófica” e, na apresentação desse livro, que admite ser um ensaio de poesia moderna, define a poesia de inspiração positivista como expressão de uma “concepção filosófica do universo”, indicadora de “verdades gerais que decorrem da vida social”, no entanto, recapadas pelas “faculdades imaginativas, e nunca deixando de obedecer à emoção poética que dá nascimento à obra de arte”.

Para Martins Júnior, a poesia científica estaria apta a reconstruir “a fenomenalidade das coisas”. Ele pensava a poesia como mímese, estabelecendo que o universo poético recomporia e revelaria o mundo; ela, de fato, pensada sob o ponto de vista da filosofia positivista, estaria isenta de um gérmen sagrado ou de qualquer idealismo, o que apontaria, então, para um mundo concreto. Dessa forma, o poeta, para conseguir recriar o universo, deveria “conhecer e apreciar os fenômenos e suas relações constantes, que são as leis”. A poesia científico-filosófica, para Martins Júnior, não era decorrência apenas de uma inspiração individual (cabe lembrar que o coletivo, ou social, era condição sine qua non para a doutrina positivista). Sempre inserida, portanto, em seu contexto social e cultural (lugar onde ocorrem os fenômenos que devem interessar ao poeta), ela deveria ser capaz de restabelecer a feição “eminentemente útil, construtora e filosófica” da atividade poética.

Assim, em se tratando do livro propriamente dito, Martins Júnior escreve uma introdução em versos alexandrinos, cuja serventia também é apresentar a sua musa ao leitor: a Musa do Porvir, que segue o princípio evolutivo da humanidade. Em seguida, o livro se divide em quatro partes, ou seja, em quatro “visões”: a primeira é a síntese científica, a segunda é a síntese política, a terceira é a síntese religiosa e a quarta, a síntese artística.

José Isidoro Martins Júnior, com as suas “Visões”, nos presenteia, talvez, mais com um manifesto sobre a poesia científica do que com sua poética filosófico-científica, pois seus versos não podem ser colocados no mesmo patamar de muitos contemporâneos seus, como Carvalho Júnior, por exemplo, sobretudo porque sua dicção poética está evidentemente abaixo dos melhores de sua época. Um dos defeitos de sua poética é o didatismo que, mesmo negando, não deixou por vezes de empregar.

Entretanto, a falta de uma poética mais trabalhada e aprofundada não lhe retira o reconhecimento por parte da história da literatura, já que Martins Júnior, ao lado de Sílvio Romero e de Tobias Barreto, influenciou diretamente Augusto dos Anjos, este sim, um poeta que soube fazer muito bem realizar como poesia a… poesia científica.

 

[1] José Isidoro Martins Júnior estudou na Faculdade de Direito do Recife, onde sofreu a influência de Tobias Barreto. Viveu 44 anos, tendo nascido no Recife, em 24 de novembro de 1860, e falecido no Rio de Janeiro, em 22 de agosto de 1904.