Apresentação e editorial

Gabriel Esteves

Querida leitora, querido leitor,

Vamos ao ponto, sem delay. Acaba de publicar-se o número 38 desta sua Mafuá, revista dedicada (já tem quase duas décadas!) à publicação de produções graduandas.

O ano foi de Clarice Lispector. Dos sete ensaios que compõem esta edição, três são dedicados a ela. Quanto aos outros quatro, vão da pedregosa Minas de Drummond às distopias futuristas de George Orwell e Terry Gilliam. Vejamos.

Em Uma maldição que salva: a experiência de escrita em Clarice Lispector, Natália da Natividade mergulha na análise de Água Viva, A Hora da Estrela e Um Sopro de Vida para extrair dessas obras os procedimentos empregados por Clarice em suas tentativas de inscrever a palavra no “instante-já” e traduzir o “silêncio”, o “it”, o “atrás do pensamento”.

Em A descoberta do mundo mudo: corporalidade e política em A paixão segundo G.H., Thais Carvalho Azevedo busca compreender, amparando-se nas ideias de Candido, Derrida e Massumi, a criação literária como experimentação da corporalidade no mundo, contrapondo-se às noções tradicionais de criatividade como sublimação espiritual.

Viviane dos Santos Cardoso, no ensaio Comicidade em Clarice Lispector, procura identificar e descrever, com a ajuda de Bergson, Freud e Jolles, as funções da comicidade em dois contos da autora ucraíno-brasileira: “Melhor do que arder” e “Mas vai chover”.

Em Manifesto Antropófago: o nacionalismo como movimento dialógico da diferença, Aline Milena Borges da Silva Dias e Thalyta Reis de Souza revisitam o texto clássico de Oswald de Andrade com o objetivo de analisar as suas principais contribuições para a formação de nossa literatura nacional.

Ana Beatriz Alves Cucaroli e Alice Brandão Azevedo Alves, no ensaio O desenlace amoroso feminino: entre aprisionamentos e pulsões de liberdade, investigam as possíveis relações entre os poemas de Florbela Espanca e as canções Maysa, dando especial atenção ao tema da perda ou da ausência do objeto amado.

Katielle Barbosa dos Santos, em A figura paterna e a construção do patriarcado na poética de Carlos Drummond de Andrade: análise dos poemas “Viagem na família”, “Como um presente” e “Encontro”, propõe, apoiando-se nas ideias de Freud e Candido, uma análise dessas três composições enfatizando a relação conflituosa do eu lírico com seu pai.

Ricardo Barros de Oliveira, por sua vez, no ensaio Nineteen Eighty-Four (1949) e Brazil (1985): uma análise comparativista de narrativas distópicas, pretende identificar, partindo das ideias de Gregory Claeys, Lyman Sargent, Fátima Vieira e Peter Fitting, os elementos propriamente distópicos presentes nessas duas obras e analisar de que forma elas se relacionam.

Na sessão de entrevistas desta 38ª edição, contamos com o texto Memória, identidade e resistência na literatura latino-americana, entrevista feita (e generosamente cedida à nossa revista) por Rayanne Soares da Paz com a escritora cubana Teresa Cárdenas, tratando de temas como processo criativo, infância e racismo.

Por fim, na sessão de obras raras, Leandro Scarabelot traz à lume um importante mas pouquíssimo conhecido volume de versos: os Gritos da Carne (1875), de José Leão — elo perdido, pode-se dizer, entre a poesia byroniana e o baudelairianismo fin-de-siècle.

Eis o resumo. Agora, meus amigos, é rolar as folhas digitais da nossa Mafuá.
Uma boa leitura a todos!