Apresentação

Ana Paula Nunes de Sousa, Marcelo Antunes Netto

Prezados leitores e leitoras, é com enorme satisfação e felicidade que anunciamos a edição 40 da Revista Mafuá. Repleta de coisas boas e de grande qualidade, esta nova edição da revista conta com ensaios, entrevista e obra rara. Tais trabalhos, cujos temas são diversificados, certamente contribuirão para o enriquecimento e discussão dos estudos no âmbito literário.

A edição 40 conta com cinco ensaios, os quais apresentam temas bastante variados, quais sejam:

No ensaio O conjurar das vozes-poemas: reflexões sobre a metapoesia em poemas da recordação e outros movimentos, Emmanuele Amaral Santos discute o conceito de metapoesia e suas possíveis relações com o termo “escrevivência” e a subalternização de corpos femininos. Para isso, a autora se vale do livro Poemas da recordação e outros movimentos (2017), de Conceição Evaristo. De maneira geral, como sugere Emmanuele, a ideia do trabalho é “refletir sobre a utilização da voz como um artefato metapoético”, que é característico da obra de Evaristo, utilizando a análise do termo ‘conjuração’”, o qual é discutido por Segismundo Spina (2002), um dos teóricos utilizados no estudo.

Magnus Ferreira de Melo, no seu ensaio Hamlet e Senhora, da sanidade à decadente sede de vingança, trata da representação e do resultado da vingança na peça inglesa “A tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca”, de William Shakespeare, assim como do romance Senhora: perfil de mulher, de José de Alencar. O pesquisador divide o estudo em três partes: primeiro ele analisa a história de Hamlet, cujo intuito principal é vingar a morte de seu pai; depois, analisa e discute a personagem Aurélia, do romance Senhora, de José de Alencar, uma moça rica que, movida por um ressentimento do passado e sentimento de vingança, compra e se vinga do seu esposo Fernando Seixas. Na última parte, são realizadas as comparações das jornadas dessas duas personagens, isto é, de Hamlet e Aurélia.

De outra maneira, temos o ensaio Diário do hospício e o cemitério dos vivos, de Lima Barreto: uma leitura da relação entre testemunho e ficção. Nele, Cíntia Maria Vicente analisa as obras Diário do hospício e O cemitério dos vivos (1953), de Lima Barreto, recuperando aspectos da ficcionalidade e não ficcionalidade desses escritos. Conforme escreve a autora, o trabalho “busca contribuir com a construção de uma crítica literária da obra de Lima Barreto que não se prenda totalmente à visão do autor como autor confessional”. A ideia é analisar sua obra buscando “relacionar ficção e realidade sem determinismos e sem esquecer o valor estético para além da obra como constructo social”. Com esse intuito, ela usa como referencial teórico o que postula Antonio Candido em sua Literatura e sociedade (1965).

Em Testemunho travesti: as dores narradas por Fernanda Albuquerque, Catharina Viegas de Carvalho analisa A Princesa: depoimentos de um travesti brasileiro a um líder das brigadas vermelhas (1994), obra essa que, segundo ela escreve, se distancia do cânone trans literário feliz brasileiro. No estudo, Catharina adota uma abordagem qualitativa e exploratória, valendo-se, em grande medida, da teoria queer de Alós (2011; 2021), que, diz ela, “versa a respeito de gênero e performatividade e representação e autoria trans na narrativa brasileira”. Dentre os resultados conseguidos pela autora, verifica-se que, além de tratar de temas como transexualidade, gênero, sexualidade e seus desdobramentos durante a ditadura civil-militar brasileira, a obra de Fernanda Albuquerque “é um testemunho exemplar da dura realidade vivenciada por transexuais que não conseguem alcançar o canônico final feliz”.

Por fim, temos Marcos Vinicius Rodrigues e seu ensaio A denúncia pela literatura de Gloria Anzaldúa contra o preconceito e subalternização linguísticos: um diálogo com Bagno e Mignolo. Nesse estudo, Marcos apresenta a denúncia feita por Gloria Anzaldúa contra o preconceito, subalternização e silenciamento do espanhol chicano no contexto fronteiriço México / Estados Unidos da América. Segundo escreve o autor, tal denúncia ganha destaque no capítulo “How to Tame a Wild Tongue”, do romance Borderlands / la Frontera = The New Mestiza (1987). De mais e mais, esse capítulo dialoga com fragmentos do pensamento desenvolvido por Marcos Bagno (2007) em se tratando da temática, em seu livro Preconceito Linguístico: o que é, como se faz, bem como o conceito de bilinguajamento, o qual é tratado por Walter Mignolo (2003).

Como obra rara, temos Gritos bárbaros, de Moacyr de Almeida, apresentada por Alckmar Luiz dos Santos. Segundo informa Santos (2023), Gritos bárbaros, publicada em 1925, é uma obra póstuma, organizada pelo irmão de Moacyr, o também poeta e jornalista Pádua de Almeida. No que toca à sua classificação, embora Moacyr de Almeida tenha sido contemporâneo do chamado “Parnasianismo”, escreve Santos (2023) que ele “não se atém rigorosamente aos preceitos da escola”, do mesmo jeito que Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia, os três principais poetas da poesia parnasiana. Por esses e outros motivos, Santos diz ser Gritos bárbaros uma obra que vale muito a pena ser lida. Mesmo que Moacyr de Almeida tenha falecido bem jovem, teve ele a sorte de ser lido e digno de atenção pelos letrados da época em que viveu, o que fica evidente com a repercussão de seu nome na imprensa periódica do período.

A entrevista ficou por conta da Maysa Monteiro. Na ocasião, a pesquisadora entrevistou a escritora paulista Aline Bei, autora de O peso do pássaro morto (2017) e Pequena coreografia do adeus (2021), obras essas que renderam à Bei reconhecimento e prêmios. Com O peso do pássaro morto (2017), Aline concorreu e ganhou o Prêmio São Paulo de Literatura de 2018, na categoria melhor romance de autor com menos de 40 anos. Bom, de maneira geral, contamos, nesta edição, com uma entrevista que toca, que é carregada de sensibilidade e emoção, e que nos permite perceber a Literatura de outros modos.

Desse modo, desejamos a tod@s uma ótima leitura.

Até breve!