Apresentação e editorial

Ana Paula Nunes, Anne Gularte, Lívia Vieira, Lucas Michels, Magnus Melo

Mais uma vez, o silêncio é interrompido. Sem rodeios e com o vigor de sempre, estamos no ar. Entregamos aos senhores e às senhoras, caros leitores, a Edição 44 da Mafuá. E o convite é simples: leiam!

Iniciamos essa jornada encarando o abismo. Marco Antonio Remuzzi de Oliveira abre nossa seção de ensaios explorando a angústia existencial na poética de Fagundes Varela, no trabalho denominado A angústia existencial na poética de Fagundes Varela. Nele, o autor demonstra como é possível ampliar a interpretação e a crítica da poética de Fagundes Varela, assim como de outros escritores que fizeram parte do Romantismo, os quais também apresentam esse mesmo eixo temático em suas obras, isto é, “o lúgubre, o grotesco e a aflição”.

Caroline Dias dos Santos também compõe a edição, com o ensaio A terra vista pela primeira vez: um paralelo entre a “Carta” de Pero Vaz de Caminha e a Música “Terra” de Caetano Veloso. Nesse seu estudo, a autora apresenta as correlações e os contrastes existentes nos diferentes Brasis. Segundo ela expõe, isso ocorre a partir das distintas perspectivas identitárias de nacionalidade e do contexto de inserção de Pero Vaz de Caminha e Caetano Veloso.

Em seguida, a graduanda Ana Kylza Pereira Soares nos apresenta seu trabalho chamado Entre a musa e a herdeira: representação feminina e crítica social em Marília de Dirceu e Senhora, em que compara a representação do amor, da figura da mulher e da sociedade a partir de duas obras da literatura brasileira: Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga, e Senhora, de José de Alencar. Dessa forma, a autora demonstra, alicerçada principalmente no pensamento de Schwarz (1977) e de Pereira e Gillies (2018), como essas representações podem revelar os valores de uma determinada época e como podem ser feitas de maneiras diferentes: ora a partir da repetição, ora a partir da ruptura, evidenciando assim a riqueza da tradição literária brasileira.

Ainda na seção de ensaios, Júlia de Andrade Fernandes Francisco destrincha a semiótica dos constituintes vernáculos presentes em La Bandera de Chile (1991), de Elvira Hernández. Partindo dos símbolos nacionais da bandeira chilena sob a ditadura militar, o artigo La resignificación de símbolos nacionales en La Bandera de Chile ressalta os marcos eclipsados da violência política nos poemas de Hernández, sobrepostos ao maior representante da materialidade ufanista: a bandeira. Francisco busca, na subjetividade simbólica da catástrofe humanitária praticada pelo Estado autoritário, pensar como os ícones de exposição estatal tendem a subverter o caráter nacionalista diante da repressão intrínseca do formato de governança.

Finalizando a seção, Tarcio Pereira Aragão e Rute Lima Andrade, em O papel dos elementos narrativos na construção do medo da personagem-criança em “O Homem de Areia”, analisam como a coesão dos elementos narrativos na construção do espaço – e daqueles inseridos nele – gera o pavor na personagem infantil de “O Homem da Areia” (2010). Para tal, operam a coerência dos argumentos a partir dos conceitos de Carrol (1999), Borges Filho (2007), entre outros estudiosos da construção de narrativa.

Na seção de criações, contamos com o conto “O Vagão”, de Jessica Pereira Cordeiro, que relata a história de Marina, através de uma carta escrita por ela mesma, endereçada à sua irmã mais nova, Sophia. Marina foi capturada junto à mãe e levada para um lugar obscuro, chamado por ela de “inferno”. Lá, elas passaram por situações de muita aflição e sofrimento. Na tentativa de evitar que levassem Sophia também, Marina a escondeu. Anos se passaram e o que restou, então, foi o amor que ainda sentia pela irmã e a esperança de encontrá-la novamente, por meio da carta.

De outra forma, Anna Júlia Barroso Souza apresenta “O homem que corrigia placas”, uma história que retrata a jornada de um homem obcecado em corrigir erros gramaticais, acreditando que essa era a maneira certa de estabilizar a realidade. Um dia, ao se deparar com uma placa de expressão diferenciada, ele se vê forçado a um conflito interno. O conto nos faz refletir sobre a vida, através do pensar a linguagem em suas diversas formas de expressão, pois, afinal: “às vezes, a linguagem falha porque o mundo também falha. E há dores às quais nem a gramática conserta”.

Nessa mesma seção, temos o trabalho de Laís Mazzucco, intitulado “Minha infância de amanhã”, sendo ele uma prosa poética, que é composta de fragmentos de memória, futuro e fantasia. O leitor do texto de Mazzucco, sem dúvida alguma, ficará encantado e agradecido por tamanha sensibilidade.

Por fim, nesta edição, a escritora Ana Cristina Braga Martes, autora dos romances A origem da água (Confraria do vento, 2019) e Sobre o que não falamos (Editora 34, 2023), é entrevistada por Magnus Ferreira de Melo. Martes nos conta um bocado sobre o seu processo de escrita, a influência da Sociologia em suas obras e, também, os seus planos para a escrita de um futuro livro.

Boa leitura!