Dois poemas

Dennis Radünz

CIÊNCIA DE FICÇÃO

salvaguardo no guardado de salvados
      um chumaço dos curativos ao contrário
uns tufos de inchaços bem imêmores
      os invernos duma lágrima sem farmácia

conseqüência não me causa mais efeito
      (o princípio dessas margens de hipótese)
         (o sereno das sirenes sem alarme)
      (o espelho meu inteiro no grau máximo)

mas a chuva não me custa as horas mortas
      em procuras pelas águas prematuras –
eu dedilho dois tufões ainda filhotes
      deixo vago o meu lugar para tormentas

 


 

DESVIO PARA O DILÚVIO

En el centro incólume del aguacero un pájaro cantando
– josé kozer

o ar baldio da chuva, às vésperas de abril,
as vértebras vasculha, vibra então as vísceras,
os tímpanos e as têmporas e os hímens do vazio

(PRIMEIRA PROVISÃO)
o nado é urgentíssimo
na travessia do sinal

:

o sol sem serventia – ventanias
se esfoliam no escuro da água falsa
e a cegueira as desossa: lascas
da lua fria nos alvéolos dessa rocha

:

o ar bravio estronda e estira-se o estio
nos rasos do baixio da gávea de vigília:
eu, sem mais nenhum brevê de vida

(NENHUMA PROVISÃO)
o ninho às escondidas
no colo do temporal