4 poemas

Renata Requião

O nome a morte a sorte como acaso

o nome,
a morte,
a sorte como acaso (14)

peshawar
islamabad
lahore

rawalpindi
islamabad

peshawar
hyderabad
lahore

em vão experimento nomes
ouvindo na minha língua
significados que desconheço

war
bad
la
islam

hyde
pesh
war
la
hore
hore
hore

war is terrorism
war is terror

peshawar
lahore

peshawar
kashimir
hyderabad

nomes de cidades
invisíveis
nomes de mulheres
invisíveis
nomes
invisíveis

quetta
karachi
sibi
okara

benazir

morta
em nome do pai
dos filhos
e do filho
também

ao Sul
no amplo V
por entre
o
mar da arábia
e a
baía de bengala
funda geografias:
terras tribais
punjabis burocratas
pastores sindis

ao Norte
a cashemira indiana de um paquistão sem fonteiras

lugares como homens
– “não há lugares, só há homens” –
etnias atividades técnicas

em oxford
em harvard
benazir aprendeu
em língua que não a sua
“jamais fomos modernos”

em vão expõe
seu corpo físico
e o butto nome
ao sacrifício
do clandestino

como mantra
como saga
como rito reza eco

em sortilégio
retorna

é mulher
e escuta

tão longe tão perto:

peshawar
harvard
oxford
hyderabad
lahore

o clã bhutto perdera  o pai
os dois filhos
e a filha
também

peshawar
hyderabad
cachemire

que males escondem aí
que levas meu nome contigo
que me fazes ser selvagem

 


 

assim a casa

dia após dia
arrumar a casa
varrer com mão segura
a poeira acumulada
em cada canto
tirar as sobras dos partos
substituir pouco a pouco
o alumínio das panelas
pelo barro ancestral
separar temperos e sementes
congelar carnes
e as verduras nas gavetas
mais baixas
guardadas secas
para longa duração

a mulher assim refaz
em sua faina diária
quase insana e solitária
a história da humanidade

 


 

assim as portas

(em tempos extensos)
o homem projeta
a voz – gutural
a via – pública
ensina ao filho
a distância
uma quadra um quarteirão
um acre
o verde
o amarelo
o vermelho.

do motor a mensuração
do valor o mapa.

e o mar.

em cotidiano invisível,
e homem assim, este
refaz quase insana
e coletivamente
a mesma história
da mesma e humana gente

(ou nada.)

 


 

assim a cidade

a cidade construída:
planificada
em [sua] exata arquitetura.

lugares eternos – onde
entrem o homem
e a mulher também.

vinculados
mobilizados
pelo exato do afeto:
pura paixão, razão incerta.