A infância míope de Miguilim em Campo Geral

Manuela Quadra de Medeiros

RESUMO: Ao abordar a temática infantil em seus livros, Guimarães Rosa parece conseguir emocionar e cativar o leitor sem se tornar piegas e sem nem mesmo beirar o clichê. Talvez seja porque seus personagens infantis têm sempre um lado fantástico e até mesmo espiritual, que acaba elevando-os a um nível quase sagrado. Como é o caso do personagem Miguilim, de Campo Geral, que tem a travessia de sua infância analisada neste ensaio através da própria visão do personagem — que, muitas vezes, recorre à visão de seu irmão Ditinho — e baseada em teorias como a da visão-com, de Jean Pouillon, e nos conceitos de infância de Jeanne-Marie Gagnebin e Walter Benjamin. Por ser uma criança míope, Miguilim não conseguia ver — e, por isso, não conseguia também compreender — o mundo como era visto pelos adultos, identificando-se mais com o mundo mítico e fantástico do que com o mundo real e prático dos adultos. Para compreender as coisas que seu olhar não dava, Miguilim recorre à imaginação e à potencia das coisas, sempre com uma percepção sensível e até poética do sertão. E sempre, também, nos mostrando a importância e o poder que as palavras têm. É pelo olhar de Miguilim, então, que percebemos a sutileza que é deixar de ser criança, e é, ainda, com os olhos de Miguilim, mesmo míopes, que conseguimos enxergar beleza onde muitos adultos não conseguem ver.

PALAVRAS-CHAVE: Guimarães Rosa; Campo Geral; sertão; infância.

ABSTRACT: Addressing the children’s theme in his books, Guimarães Rosa seems to manage to excite and captivate the reader without being mushy and not even bordering on the cliché. Maybe it’s because his children characters always have a fantastic and even spiritual facet, which end up elevating them to an almost sacred level. As in the case of the character Miguilim, from Campo Geral, which has the crossing of his childhood analyzed in this essay through the character’s own view – which often resorted to the sight of his brother Ditinho – and based on theories such as “vision-with”, from Jean Pouillon, and the concepts of childhood from Jeanne-Marie Gagnebin and Walter Benjamin. Being a nearsighted child, Miguilim couldn’t see – and therefore also couldn’t understand – the world as seen by adults; identifying himself more with the and mythic and fantastic world than the real and practical world of adults. To understand the things that his eyes could not, Miguilim appeals to his imagination and the power of things, always with a sensitive and even poetic awareness of the wild wastes. And always showing us the importance and power that words have. It is through the eyes of Miguilim, then, that we realize the subtetly of stop being a child, and is still with the eyes of Miguilim, even myopic, that we can see beauty where many adults could not.

KEYWORDS: Guimarães Rosa; Campo Geral; wild wastes; childhood.

 

A vantagem dos míopes é enxergar
onde as grandes vistas não pegam.
Machado de Assis

O olhar deseja sempre mais do que o que lhe é dado a ver.
Adauto Novaes

Campo Geral, de 1956, um romance assim classificado pelo autor Guimarães Rosa, é mais conhecido pelo nome de seu protagonista Miguilim, pois é quase impossível não criar uma empatia imediata com esse menino míope de oito anos, que, por ser míope, não se identifica com o mundo da realidade, mas com o mundo do mito, do fantástico. Miguilim via a magia das coisas e queria ver mais coisas, todas, que o olhar dele não dava, recorrendo assim à imaginação, à potência das coisas. Miguilim tem sua infância contada na obra – com toda a secura, violência e desamparo do sertão, mas que, apesar disso, é uma infância alegre e cheia de aprendizado. Um certo Miguilim, nascido em Pau-Roxo, mas que morava no Mutum com seu pai, Nhô Bernardo, sua mãe Nhanina, seus irmãos – Drelina, Dito, Tomézinho e Chica –, sua tia-avó Izidra, seu tio Têrez e mais os empregados da casa e da fazenda – Rosa, Mãitina, Maria Pretinha, vaqueiro Jé, vaqueiro Saluz – e, ainda, os animais, entre cães, gatos, passarinhos e papagaio. Há também outros personagens, como Seu Aristeo, Seu Deográcias, Patori, Grivo, Liovaldo – irmão de Miguilim que vive na cidade –, Dr. Lourenço, Siarlinda, dentre outros que aparecem de passagem na estória.

Apesar de ser contada em terceira pessoa, a estória tem como foco narrativo o menino Miguilim, o seu olhar, a sua percepção, as suas sensações, seus pensamentos, seus medos, angústias, sua visão do mundo e sua relação com o mundo dos adultos, com as outras crianças, com os animais e com a natureza do Mutum, caracterizando assim uma onisciência seletiva[i]do narrador, em que há uma mistura entre a voz do narrador e a do personagem, formando um discurso dialógico e polifônico. A esse respeito, Jean Pouillon (1947) propõe o conceito de visão-com:

Escolhe-se um único personagem que constituirá o centro da narrativa, ao qual se atribui uma atenção maior [……] Descrevemo-lo de dentro; penetramos imediatamente a sua conduta, como se nós mesmos a manifestássemos. Por conseguinte, essa conduta não é descrita tal como se afiguraria a um observador imparcial, mas tal como se apresenta, e apenas na medida em que se apresenta, àquele que a manifesta [……] Na realidade, este último [personagem central] é central não porque seja visto no centro, mas sim porque é sempre a partir dele que vemos os outros. É “com” ele que vemos os outros protagonistas, é “com” ele que vivemos os acontecimentos narrados. (POUILLON, 1947, p. 54)

E é justamente com Miguilim que fazemos a travessia de sua infância, aprendemos com ele a lidar com a dor, com a morte, com a sensação de não pertencer ao mundo dos adultos e, logo, de não compreendê-lo. A aproximação é tanta que, muitas vezes, a fala do narrador e do personagem se confundem, um passa a palavra ao outro sem que notemos qualquer mudança de plano.

Desde estavam brincando de jogar malha, no pátio, meio de tardinha. Era com dois tocos, botados em pé, cada um de cada lado. A gente tinha que derrubar, acertando com uma ferradura velha, de distância. Duma banda o Dito, mais vaqueiro Salúz, da outra Miguilim mais o vaqueiro Jé. Mas Miguilim não dava para jogar direito, nunca que acertava de derribar. – “Faz mal não, Miguilim, hoje é dia de são-gambá: é de branco perder e preto ganhar…” – o vaqueiro Jé consolava. Mas Miguilim não enxergava bem o toco, de certo porque estava com o bilhete no bolso, constante em que Tio Terêz não queria pensar. Essa hora, Pai tinha voltado da roça, estava lá dentro, cansado, deitado na rede macia de buriti, perto de Mãe, como cochilava.Miguilim forcejava, não queria, mas a idéia da gente não tinha fecho. Aquilo, aquilo. Pensamentos todos desciam por ali a baixo. (ROSA, 1977, p. 52)

Nesse trecho, vemos claramente como o narrador onisciente foca nos pensamentos de Miguilim. Nas partes destacadas, encontramos uma modulação das vozes do narrador e do personagem, assim, a estória é contada de forma derramada, sem distinção clara entre o que o narrador conta e os pensamentos de Miguilim, o que caracteriza o processo polifônico da enunciação. O recurso estilístico da ausência de artigos antes dos nomes dos membros da família, “Pai tinha voltado da roça”, contribui para essa aproximação e para essa mistura narrador-personagem, fazendo com que o leitor veja a estória pelo olhar de Miguilim.

Visto que a experiência infantil é o tema do romance Campo Geral, faz-se necessário, aqui, abordar as diferentes concepções que se tem da infância. A começar pela etimologia da palavra:

Um indivíduo de pouca idade é denominado in-fans. Esse termo está formado pelo prefixo privativo in- e por fari, ‘falar’, daí seu sentido de ‘que não fala’, ‘incapaz de falar’. Tão forte é seu sentido originário que Lucrécio emprega ainda o substantivo derivadoinfantia com o sentido de ‘incapacidade de falar‟. Logo, infans (substantivado) e infantia são empregados no sentido de ‘infante’, ‘criança‟ e ‘infância‟, respectivamente. Em geral, o termo in-fans podia designar criança em idade muito mais avançada que aquela em que ‘não falam’, de modo que essa denominação é usual para crianças até os sete anos. Assim, infans pode designar a criança no sentido ordinariamente reservado a puer [filho]. Na verdade, são encontrados usualmente usos de infans referindo-se a pessoas que se aproximam inclusive dos treze ou quinze anos. Então, podemos entender que infans não remete especificamente à criança pequena que não adquiriu ainda a capacidade de falar, mas se refere aos que, por sua minoridade, não estão ainda habilitados para testemunhar nos tribunais: infans é assim ‘o que não se pode valer de sua palavra para dar testemunho.’ (CASTELLO e MÁRSICO, 2007, p. 52-53)

Desse modo, se as crianças são privadas de fala, da linguagem que é própria do homem, elas seriam, assim, também privadas da razão e por isso incapazes de compreender e de apreender a ordem do mundo. Seguindo uma visão, digamos, negativa da infância, temos ainda uma linha que, segundo Jeanne-Marie Gagnebin (1997), surge com Platão, passa pela pedagogia cristã com Santo Agostinho e chega até nós pelo racionalismo cartesiano. Essa linha

nos diz que a infância é um mal necessário, uma condição próxima do estado animalesco e primitivo; que, como as crianças são seres privados de razão, elas devem ser corrigidas nas suas tendências selvagens, irrefletidas, egoístas, que ameaçam a construção consensual da cidade humana graças à edificação racional, o que pressupõe sacrifício das paixões imediatas e destrutivas. (GAGNEBIN, 1997, p. 170)

Opondo-se a essa linha, ainda segundo Gagnebin, temos outra que também nasce com Platão e chega até nossas escolas “alternativas” pelo romantismo de Rousseau, que

nos assegura que a verdadeira educação consiste muito mais num preparo adequado de suas almas para que nelas, por impulso próprio e natural, possa crescer e se desenvolver a inteligência de cada criança, no respeito do ritmo e dos interesses próprios de cada criança particular. (GAGNEBIN, 1997, p. 170-171).

Seguindo essa segunda forma de pensar a infância, Walter Benjamin

não ressalta a ingenuidade ou a inocência infantis, mas, sim, a inabilidade, a desorientação, a falta de desenvoltura das crianças em oposição à “segurança” dos adultos. Mas essa incapacidade infantil é preciosa: (…) porque contém a experiência preciosa e essencial ao homem do seu desajustamento em relação ao mundo, da sua insegurança primeira, enfim, da sua não-soberania. Essa fraqueza infantil também aponta para verdades que os adultos não querem mais ouvir (…); ela vê aquilo que o adulto não vê mais. (GAGNEBIN, 1997, p. 182).

Vistas essas maneiras opostas de pensar a infância, de Descartes e de Benjamin, cabe fazer um paralelo entre esses pensadores e as formas com que os moradores do Mutum – isto é, a família de Miguilim – viam a infância e as crianças do sertão.

O pai de Miguilim, Nhô Bernardo, – assim como outros vaqueiros da fazenda – e a vó Izidra podem ser aproximados com a linha cartesiana, pois queriam que a infância dos filhos acabasse logo e consideravam bobas as brincadeiras das crianças. Nhô Berno tem a típica visão utilitária, racional, prática e lógica de quem precisa trabalhar sistematicamente na roça para garantir o sustento da família. O pai ocupa a posição de autoridade e procura acionar nos filhos a lógica do corpo como instrumento para o serviço na fazenda. Podemos ver essa visão prática no trecho a seguir, em que morre um bezerro da fazenda:

Como o pai ficava furioso: até quase chorava de raiva! Exclamava que ele era pobre, em ponto de virar miserável, pedidor de esmola, a casa não era dele, as terras ali não eram dele, o trabalho era demais, e só tinha prejuízo sempre, acabava não podendo nem tirar para sustento de comida da família. Não tinha posse nem para retelhar a casa velha, estragada por mão desses todos ventos e chuvas, nem recurso para mandar fazer uma boa cerca de réguas, era só cerca de achas e paus pontudos, perigosa para a criação. […]Dava vergonha no coração da gente, o que o pai assim falava. Que de pobres iam morrer de fome  — não podia vender as filhas e os filhos… (ROSA, 1977, p. 36-37)

Já se aproximando da forma de pensar a infância defendida por Benjamin, temos a visão da mãe de Miguilim, Nhanina, e a do próprio Miguilim. Nhanina sonhava em sair do Mutum, queria ver além daqueles morros que cercavam o lugar – aproximando-se do desejo de Miguilim de querer ver mais coisas, que o olho não dava. Ambos tinham uma visão marcada pelo lirismo, uma sensibilidade para a beleza e uma facilidade para criar imagens poéticas, como a passagem em que a mãe diz que Tomezinho era “um fiozinho caído do cabelo de Deus” ou quando, ao observar os vagalumes, afirma que “o lumeio deles é um acenado de amor…”. E Miguilim reconhecia a beleza das palavras da mãe: “Miguilim, que bem ouviu, raciocinou apreciando aquilo, por demais. Uma hora ele falou com o Dito — que Mãe às vezes era a pessoa mais ladina de todas”. Opondo as duas linhas de pensamento, há um trecho bastante significativo na história, em que o pai de Miguilim dá a uns tropeiros que estão de passagem a cachorrinha do coração do menino, Pingo-de-ouro, que estava ficando quase cega e que, por isso, na visão prática do pai, não tinha mais serventia na fazenda.

Logo então, passaram pelo Mutum uns tropeiros, dias que demoraram, porque os burros quase todos deles estavam mancados. Quando tomaram a seguir, o pai de Miguilim deu para eles a cachorra, que puxaram amarrada numa corda, o cachorrinho foi choramingando dentro dum balaio. Iam para onde iam. Miguilim chorou de bruços, cumpriu tristeza, soluçou muitas vezes. Alguém disse que aconteciam casos, de cachorros dados, que levados para longes léguas, e que voltavam sempre em casa. Então ele tomou esperança: a Pingo-de-Ouro ia voltar. Esperou, esperou, sensato. Até de noite, pensava fosse ela, quando um cão repuxava latidos. Quem ia abrir a porta para ela entrar? Devia de estar cansada, com sede, com fome.  —“Essa não sabe retomar, ela já estava quase cega…” Então, se ela já estava quase cega, por que o pai a tinha dado para estranhos? Não iam judiar da Pingo-de-Ouro? (ROSA, 1977, p. 10-11)

Outro trecho ainda demonstra a oposição entre a visão utilitarista do pai e a visão lírica da mãe e de Miguilim. Quando Dito, o irmão mais querido de Miguilim, morre, é ele o que mais demora a se recuperar da tristeza. Enquanto todos já parecem ter retomado suas vidas práticas, Miguilim não consegue superar a morte do irmãozinho.

“Diacho, de menino, carece de trabalhar, fazer alguma coisa, é disso que carece!” — o Pai falava, que redobrava: xingando e nem olhando Miguilim. Mãe o defendia, vagarosa, dizia que ele tinha muito sentimento. — “Uma poial” — o Pai desabusava mais. — “O que ele quer é sempre ser mais do que nós, é um menino que despreza os outros e se dá muitos penachos. Mais bem que já tem prazo para ajudar em coisa que sirva, e calejar os dedos, endurecer casco na sola dos pés, engrossar esse corpo!” Devagarzinho assim, só suspiro, Mãe calava a boca. E Vovó Izidra secundava, porque achava que, ele Miguilim solto em si, ainda podia ficar prejudicado da mente do juízo.
Daí por diante, não deixavam o Miguilim parar quieto. Tinha de ir debulhar milho no paiol, capinar canteiro de horta, buscar cavalo no pasto, tirar cisco nas grades de madeira do rego. (ROSA, 1977, p. 82)

A seguir, há mais um trecho em que se vê a rudeza do pai e a sensibilidade do menino – ao mesmo tempo em que aparece uma dica da miopia de Miguilim, não revelada até o final da estória:

Vinha com uma coisa fechada na mão. —“Que é isso, menino, que você está escondendo?” “— É a joaninha, Pai.” “— Que joaninha?” Era o besourinho bonito, pingadinho de vermelho. “— Já se viu?! Tu há de ficar toda-a-vida bobo, ô panasco?!” — o Pai arreliou. E no mais ralhava sempre, porque Miguilim não enxergava onde pisasse, vivia escorregando e tropeçando, esbarrando, quase caindo nos buracos: —“Pitosga…” (ROSA, 1977, p. 83)

Miguilim não enxergava a vida da mesma forma que os adultos, era, pois, nas palavras de Henriqueta Lisboa (1983), ummenino poeta. Questionava as ações cruéis dos adultos, “gostava de brincar de pensar” (ROSA, 1977, p. 22), “tinha nojo das pessoas grandes” (ROSA, 1977, p. 48) e “não tinha vontade de crescer, de ser pessoa grande, a conversa das pessoas grandes era sempre as mesmas coisas secas, com aquela necessidade de ser brutas, coisas assustadas” (ROSA, 1977, p. 52). Não compreendia a crueldade do mundo – tanto dos homens quanto dos animais – “por que era que um bicho ou uma pessoa não pagavam sempre amor-com-amor, de amizade de outro? (ROSA, 1977, p. 91)”. Miguilim tem uma visão de mundo especial, quese caracteriza não só pela sua miopia, que o faz enxergar e compreender com a imaginação e com a poesia, mas também pela sua visão infantil, capaz de fornecer horizontes primitivos, anterior à lógica, e, por isso, capaz de atingir a plenitude e de enxergar coisas que os adultos não podem mais enxergar, como ver a beleza no sertão. A miopia de Miguilim tem, portanto, uma duplicidade – como quase tudo na obra de Guimarães Rosa -, pois lhe permite ver as pequenas coisas, lugar do novo e do poético, e, ainda, é o embaçamento da visão de mundo dos adultos, opressora e, muitas vezes, brutal. Paulo Rónai (2002) descreve muito bem essa personagem e as travessias de sua infância:

Criança de forte curiosidade e sensibilidade aguda, Miguilim, em busca de respostas às muitas perguntas que lhe fervilham no íntimo, pouca orientação recebe de seu ambiente primário e tosco. É ele mesmo que tem de interpretar o mundo com o auxílio da própria inteligência intuitiva, partindo das noções fragmentárias que lhe inculcou o meio, e de formular o sentido de suas experiências para si mesmo na linguagem concreta e colorida que lhe foi naturalmente transmitida. (RÓNAI, 2002, p. 23)

Para tentar compreender e apreender as relações e os acontecimentos do mundo dos adultos, no qual “nunca que ninguém tinha tempo, quase que nenhum, de trabalhar era que todos careciam” (ROSA, 1977, p. 64), com sua visão míope, Miguilim possui algumas estratégias. Um exemplo é o contato com o mundo prático e adulto através da sabedoria de seu irmãozinho Dito – que é também como os leitores tomam conhecimento dos problemas da família, já que a visão míope de Miguilim era voltada para a busca do que é belo e do sentido positivo da vida. Para Miguilim, “o Dito era a pessoa melhor” (ROSA, 1977, p. 35), ao contrário dele, que gostava de ficar sozinho para pensar, Dito “carecia de ir ouvir as conversas todas das pessoas grandes” (ROSA, 1977, p. 35), e, por isso, transmitia ao irmão o que apre(e)ndia em suas observações do mundo adulto. “Era capaz de brincar com o Dito a vida inteira, o Ditinho era a melhor pessoa, de repente, sempre sem desassossego. O Dito como que ajudava” (ROSA, 1977, p. 35).

Mas por que era que o Dito semelhava essa sensatez – ninguém não botava o Dito de castigo, o Dito fazia tudo sabido, e falava com as pessoas grandes sempre justo, com uma firmeza, o Dito em culpa aí mesmo era que ninguém não pegava. (ROSA, 1977, p. 36)

É como se Dito não tivesse a alma infantil, a falta de desenvoltura das crianças: a inabilidade e a desorientação de que fala Benjamin não se encontram em Dito, que se relaciona “de igual para igual” com os adultos.

O Dito, menor, muito mais menino, e sabia em adiantado as coisas, com uma certeza, descarecia de perguntar. Ele, Miguilim, mesmo quando sabia, espiava na dúvida, achava que podia ser errado. Até as coisas que ele pensava, precisava de contar ao Dito, para o Dito reproduzir, com aquela força séria, confirmada, para então ele acreditar mesmo que era verdade. De onde o Dito tirava aquilo? Dava até raiva, aquele juízo sisudo, o poder do Dito, de saber e entender, sem as necessidades.” (ROSA, 1977, p. 60)

É, então, pelo olhar de Dito que, na maioria das vezes, tanto Miguilim como os leitores, entram em contato com o mundo prático, mundo de gente grande. A visão objetiva e “adulta” de Campo Geral nos é dada através de Dito, enquanto Miguilim nos traz o olhar subjetivo, em busca da beleza no Sertão. Mesmo sendo mais novo que Miguilim, Dito era mais amadurecido e sensato no sentido de conseguir compreender as relações complicadas da família, “parecia uma pessoinha velha, muito velha em nova” (ROSA, 1977, p. 106). A comparação com alguém velho simbolizaria a sabedoria do menino ladino, que, mesmo sem a experiência de toda uma vida, parece ter uma certa iluminação espiritual, a ponto de dar um belo conselho ao seu irmãozinho mais velho mesmo na hora da morte, do encantamento[ii]:

“Miguilim, Miguilim, vou ensinar o que agorinha eu sei, demais: é que a gente pode ficar sempre alegre, alegre, mesmo com toda coisa ruim que acontece acontecendo. A gente deve de poder ficar então mais alegre, mais alegre, por dentro!…” E o Dito quis rir para Miguilim. (ROSA, 1997, p. 76-77)

É através do irmãozinho, ainda, que Miguilim amadurece em sua travessia e conhece outro recurso para entender a vida: inventar e contar estórias. Em uma passagem bastante significativa, Dito, involuntariamente, mostra a Miguilim o poder das palavras e das estórias inventadas. Demonstrando as superstições do Sertão – nas quais Miguilim acreditava profundamente – Seo Deográcias conta uma lenda cuja estória diz que se uma certa árvore de pé-de-flor plantada no quintal ultrapassar a altura da casa, alguém que ali morasse ficaria doente. Miguilim, então, fica apreensivo e pede para que seu pai corte a árvore, mas ele nega, não dando ouvidos ao menino ou à superstição. Dito, ladino e em toda a sua esperteza, diz ao vaqueiro Salúz que o pai havia mandado cortar a árvore, e o vaqueiro prontamente obedece. Quando o pai vai tirar satisfações com Dito, já ameaçando bater no menino, ele subverte toda a história, de modo que o pai não tivesse coragem de ralhar com ele

“Ah, pai, ressonhei que o que se disse, se a árvore danasse de crescer, mais o senhor que é que é o dono da casa, agora o senhor pode bater em mim, mas por nada não queria que o senhor adoecesse, gosto do senhor, demais…” E o pai abraçou o Dito, dizia que ele era menino corajoso e com muito sentimento, nunca que mentia. Mesmo Miguilim não entendia o sopro daquilo; pois até ele , que sabia de tudo, dum jeito não estava acreditando mais no que fora: mas achando que o que o Dito falou com o pai era que era a primeira verdade. (ROSA, 1977, p. 38)

Miguilim, ao não entender o sopro daquilo que o irmão acabara de fazer, ou seja, o fato de modificar o passado através das palavras, toma conhecimento da força transformadora de se contar uma estória inventada. A estória contada por Dito desmancha a realidade e a certeza de que o pai brigaria com eles. Até mesmo Miguilim, que sabia do ocorrido, fica em dúvida do que seria realidade e do que seria fábula. Dito pôs a fábula em ata[iii] e Miguilim percebeu que a estória pode tornar-se concreta no mundo e a invenção tornar-se a primeira verdade.

Além da inspiração pelo ensinamento de Dito – ainda que involuntário – sobre o poder das palavras, Miguilim é inspirado, também, por Seu Aristeu, espécie de curandeiro do Sertão, e também de contador de estórias, “que dizia aquelas coisas dançadas no ar” (ROSA, 1977, p. 78), “perto dele a gente sentia vontade de escutar as lindas estórias” (ROSA, 1977, p. 78). Pelo poder das estórias, Miguilim poderia criar um mundo mais suportável, em que a sua visão predominasse e em que ele pudesse lidar com seus medos e suas angústias.

Chegasse em casa, uma estória ao Dito ele contava, mas estória toda nova, dele só, inventada de juízo: a nhá nhambuzinha, que tinha feito uma roça, despois vinha colher em sua roça, a Nhá Nhambuzinha, que era uma vez! Essas assim, uma estória  — não podia? Podia, sim!  —pensava em seo Aristeu… Sempre pensava em seo Aristeu — então vinha ideia de vontade de poder saber fazer uma estória, muitas, ele tinha! Nem não devia de ter medo de atravessar o mato outra vez, era só um matinho bobo, matinho pequeno trem-atoa. (ROSA, 1977, p. 48)

A partir daí, Miguilim usa a invenção e a contação de estórias como um modo de pensar a vida, a fim de ordenar em sua cabeça e em seu “novo mundo” tudo o que ele não enxerga do mundo adulto e que o aflige. Tem-se, então, uma relação entre a percepção dos sentidos e a invenção de uma estória, a composição narrativa como forma de apreender e de internalizar o mundo. Miguilim já via a beleza na natureza e na vida do sertão e a concilia, assim, com a beleza das palavras: é por meio delas que se pode conferir a beleza do mundo.

Em tempos que os “dias passaram muito bonitos”, após ouvir algumas estórias de Siarlinda – personagem esposa do vaqueiro Salúz – Miguilim se inspira mais uma vez e compõe boas estórias, que pegavam:

Miguilim de repente começou a contar estórias tiradas da cabeça dele mesmo: uma do Boi que queria ensinar um segredo ao Vaqueiro, outra do Cachorrinho que em casa nenhuma não deixavam que ele morasse, andava de vereda em vereda, pedindo perdão. Essas estórias pegavam. (ROSA, 1977, p. 65)

Mas, após o tempo em que “tudo era bom”, “vem um tempo em que, de vez, vira a virar só tudo de ruim”, e Miguilim passa pelo episódio mais triste de sua infância, a doença e a morte de Dito. O irmãozinho de Miguilim contrai tétano e precisa ficar todo o tempo deitado, sem poder sair de casa e, assim, os papéis se invertem, Miguilim precisa contar ao Dito tudo o que acontece na casa e na fazenda. Estava chegando a época de Natal, e a vó Izidra começava a montar o presépio. Como Dito não podia acompanhar a vó, Miguilim também não ia e, no desejo de ficar perto do irmão, começa a lhe contar estórias, das quais faziam parte os bichinhos do presépio da casa, num modo de inclui-lo em tudo o que acontecia na fazenda e, ainda, de tornar o seu mundo doente um pouco melhor.

Mas então Miguilim fez de conta que estava contando ao Dito uma estória — do Leão, do Tatu e da Foca. Aí Tomezinho, a Chica e aquele menino o Bustica também vinham escutar, se esqueciam do presépio. E o Dito mesmo gostava, pedia: — “Conta mais, conta mais…” Miguilim contava, sem carecer de esforço, estórias compridas, que ninguém nunca tinha sabido, não esbarrava de contar, estava tão alegre nervoso, aquilo para ele era o entendimento maior. Se lembrava de seo Aristeu. Fazer estórias, tudo com um viver limpo, novo, de consolo. Mesmo ele sabia, sabia: Deus mesmo era quem estava mandando! — “Dito, um dia eu vou tirar a estória mais linda, mais minha de todas: que é a com a Cuca Pingo-de-Ouro!…” O Dito tinha alegrias nos olhos; depois, dormia, rindo simples, parecia que tinha de dormir a vida inteira. (ROSA, 1977, p. 73-74).

O trecho mostra o poder das palavras e das estórias tanto para Miguilim – que as considerava um entendimento maior, que serve de consolo – quanto para os outros meninos, que preferiam ouvir suas estórias a ver o presépio sendo montado. No excerto, Miguilim demonstra, ainda, o desejo de superar uma grande tristeza sua, a perda da cachorrinha Pingo-de-Ouro, através da composição de uma estória que seria a mais linda de todas, porque o faria superar o episódio e porque seria um modo de eternizar – e de recuperar – sua cachorrinha do coração através da estória. Contar estórias poderia não mudar o rumo das coisas, mas serviria para a abertura de algo sempre novo, que poderia ser contado e recontado sempre que se precisasse de um viver limpo, de algum consolo.

Uma hora o Dito chamou Miguilim, queria ficar com Miguilim sozinho. Quase que ele não podia mais falar. – “Miguilim, e você não contou a estória da Cuca Pingo-de-Ouro…” “— Mas eu não posso, Dito, mesmo não posso! Eu gosto demais dela, estes dias todos …” Como é que podia inventar a estória? Miguilim soluçava. — “Faz mal não, Miguilim, mesmo ceguinha mesmo, ela há de me reconhecer…” “—No Céu, Dito? No Céu?!” — e Miguilim desengolia da garganta um desespero. — “Chora não, Miguilim, de quem eu gosto mais, junto com Mãe, é de você…” (ROSA, 1977, p. 76)

Assim como vemos a dificuldade de Miguilim em compor a estória da cachorrinha Pingo-de-Ouro – pois teria que ser a melhor estória de todas devido à grande importância que o animal tinha para o menino – vemos, também, essa incapacidade de se consolar através da estória quando a doença vence e Dito, finalmente, morre. Miguilim fica inconsolável, não consegue imaginar como será a travessia de sua infância sem a sabedoria do irmãozinho e melhor amigo. Após a morte do irmão, é como se Miguilim desse um passo para fora da infância, tanto por desconsolo, como por insistência de seu pai, que acha que o menino se utiliza da tristeza como desculpa para não ajudar na fazenda. A ação do pai demonstra mais uma vez como os adultos, por ordem prática, precisavam seguir suas vidas, enquanto para Miguilim “todos os dias que depois vieram eram tempo de doer” (ROSA, 1977, p.122).

Miguilim é incapaz de criar uma estória de consolo para a morte do irmão, pois não conseguiria ordenar esse enorme desconcerto, não conseguiria atribuir sentido a um fato tão trágico e inesperado. Miguilim procura, então, consolo com as empregadas da casa, Rosa e Mãitina. Dar voz aos personagens marginais é um recurso muito utilizado nas estórias de Guimarães Rosa, visto que os homens infames têm uma visão primitiva do mundo, aproximando-se da visão infantil, uma vez que elas pareciam ser as únicas capazes de lembrar de Dito como o menino especial que era e de entender o enorme sofrimento de Miguilim.

E precisava de perguntar a outras pessoas — o que pensavam do Dito, o que achavam dele, de tudo por junto; e de que coisas acontecidas se lembravam mais. Mas todos, de Tomezinho e Chica a Luisaltino e Vovó Izidra, mesmo estando tristes, como estavam, só respondiam com lisice de assuntos, bobagens que o coração não consabe. Só a Rosa parecia capaz de compreender no meio do sentir, mas um sentimento sabido e um compreendido adivinhado. Porque o que Miguilim queria era assim como algum sinal do Dito morto ainda no Dito vivo, ou do Dito vivo mesmo no Dito morto. (ROSA, 1977, p. 80-81)

Em um modo alegórico de criar uma estória de consolo para superar a morte do irmãozinho, Miguilim e Mãitina fazem um tipo de ritual, um enterro dos objetos e das roupinhas de Dito, em um modo de conservar o menino perto deles e tentar criar, assim, uma continuação entre a vida e a morte.

Depois ele conversou com Mãitina. Mãitina era uma mulher muito imaginada, muito de constâncias. Ela prezava a bondade do Dito, ensinou que ele vinha em sonhos, acenava para a gente, aceitava louvor. Sempre que se precisava, Mãitina era pessoa para qualquer hora falar no Dito e por ele começar a chorar, junto com Miguilim. O que eles dois fizeram, foi ela quem primeiro pensou. Escondido, — escolheram um recanto, — debaixo do jenipapeiro, ali abriram um buraco, cova pequena. De em de, camisinha e calça do Dito furtaram, para enterrar, com brinquedos dele. Mas Mãitina foi remexer em seus guardados, trouxe uns trens: boneco de barro, boneco de pau, penas pretas e brancas, pedrinhas amarradas com embira fina; [……] Miguilim tinha todas as lágrimas nos olhos. Tudo se enterrou, reunido com as coisinhas do Dito. Retaparam com a terra, depois foram buscar as pedrinhas lavadas do riacho, que cravaram no chão, apertadas, remarcando o lugar; ficou semelhando um ladrilhado redondo. Era mesma coisa se o Dito estivesse depositado ali, e não no cemiteriozinho longe, no Terentém. Só os dois conheciam o que era aquilo. Quando chovia, eles vinham olhar; se a chuva era triste, entristeciam. (ROSA, 1977, p. 81)

Após o episódio mais triste na travessia de Miguilim, em que se vê sem seu acesso ao mundo dos adultos, ele é obrigado a amadurecer e começa a ajudar seu pai, Nhô Berno, na roça. “Miguilim tinha sido arrancado de uma porção de coisas, e estava no mesmo lugar” (ROSA, 1977, p. 79). Desse modo, a percepção poética e a invenção de estórias, que traduzem a infância de Miguilim, não resistem à morte inesperada de Dito, e Miguilim vai perdendo a vontade de contar estórias – e a vontade desaparece significativamente quando Miguilim dá o salto definitivo para o mundo adulto, indo trabalhar nas plantações com o pai.

Arrancado de uma porção de coisas, Miguilim acaba adoecendo e tem, novamente, um encontro crucial com Seu Aristeu, que o inspira mais uma vez, dando ao menino o mesmo conselho que Dito dera na hora da morte: “Miguilim, você carece de ficar alegre. Tristeza é agouría…’” (ROSA, 1977, p. 98) E, à medida que vai melhorando da doença, renasce em Miguilim a vontade de contar estórias: “Entrava, deitava na rede, tinha tanta vontade de poder tirar estórias compridas, bonitas, de sua cabeça, outra vez. Não queria nada.” (ROSA, 1977, p. 99).

Miguilim, com a visita de Seu Aristeu, lembra-se do conselho de Dito e o internaliza, recuperando, então, a sua visão poética do mundo.

Se o Dito em casa ainda estivesse, o que era que o Dito achava? O Dito dizia que o certo era a gente estar sempre brabo de alegre, alegre por dentro, mesmo com tudo de ruim que acontecesse, alegre nas profundas. Podia? Alegre era a gente viver devagarinho, miudinho, não se importando demais com coisa nenhuma. (ROSA, 1977, p. 100)

Assim, uma nova possibilidade de ver o mundo surge na forma de um médico de passagem pelo Sertão, percebendo que Miguilim tinha vista curta, pois espremia os olhos para poder ver. Doutor José Lourenço permite a potência de uma nova estória a Miguilim, tanto no momento em que oferece seus óculos para o menino testar – significando a recuperação de seu olhar lírico e a entrada para a vida adulta (pois poderia desembaçar sua visão do mundo de gente grande) –, como no momento em que convida Miguilim para ir viver na cidade para aprender ofício, oferecendo a possibilidade de o menino ver o que o olhar dele (até então)não dava – fosse pela miopia, pelo olhar infantil ou até mesmo pela impossibilidade de perpassar os morros do Mutum.

Miguilim olhou. Nem não podia acreditar! Tudo era uma claridade, tudo novo e lindo e diferente, as coisas, as árvores, as caras das pessoas. Via os grãozinhos de areia, a pele da terra, as pedrinhas menores, as formiguinhas passeando no chão de uma distância. E tonteava. Aqui, ali, meu Deus, tanta coisa, tudo… (ROSA, 1977, p. 101)

Ver a vida com os olhos míopes de Miguilim, juntamente com olhos de infância, não é se acostumar com o embaçamento da visão ou com seu desajustamento em relação ao mundo; pelo contrário, é manter o encantamento e o estranhamento, e, assim, desdobrá-los em detalhes, em poesia, e, como nos ensinou Dito, em alegria. Com a sua percepção poética e com um ajuste nas lentes, Miguilim encontrou e reconheceu a beleza da vida no Sertão “O Mutum era bonito! Agora ele sabia.” (ROSA, 1977, p. 103).

Referências

AMORIM, Cristiane. O Baile Rosiano: Alguns nomes e outros recados. Revista Litteris, número 4, março de 2010. Disponível em: <http://revistaliter.dominiotemporario.com/doc/obaileroseanoCristiane.pdf>.

BENJAMIN, Walter. Reflexões sobre o brinquedo, a criança e a educação. São Paulo: Ed. 34, 2002.

COUTINHO, Eduardo. (org.) Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983. (Coleção Fortuna Crítica; v. 6)

DESCARTES, René. Discurso do método para bem conduzir a razão e conhecer a verdade através das ciências. In: Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 2000. p. 30-100.

FRIEDMAN, Norman. O ponto de vista na ficção: o desenvolvimento de um conceito crítico. Seção Arquivo, n. 53. Disponível em: <http://www.usp.br/revistausp/53/15-norman-2.pdf>.

GAGNEBIN, Jeanne-Marie. A criança no limiar do labirinto. In: História e narração em Walter Benjamin. 2. ed. revista. São Paulo: Perspectiva, 1999.

GAGNEBIN, Jeanne-Marie. Sete aulas sobre linguagem, memória e história. 2. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1997.

LISBOA, Henriqueta. O motivo infantil na obra de Guimarães Rosa. In: COUTINHO, Eduardo (org.). Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira: 1983.

POUILLON, Jean. O tempo no romance. São Paulo: Cutrix, 1974.

RÓNAI, Paulo. Encontros com o Brasil. Rio de Janeiro: MEC/INL, 1958.

RÓNAI, Paulo. Notas para facilitar a leitura de Campo Geral de J. Guimarães Rosa. In: Matraga – Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras, n. 14. UERJ. Rio de Janeiro: Ed. Caetés, 2002. Disponível em: <http://www.pgletras.uerj.br/matraga/matraga14/matraga14a03.pdf>.

ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim (Corpo de Baile). 8. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1977.

 

[i] Termo proposto por Norman Friedman no ensaio O ponto de vista na ficção.

[ii] Em seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, em 1967, Rosa diz que “As pessoas não morrem, elas ficam encantadas.”

[iii] Expressão utilizada por Rosa no conto “Desenredo”, do livro Tutaméia, de 1967.