Dialética de Tempo e Cabo

Felipe Pinheiro

Introdução à obra

A referente grafia Dialética de Tempo e Cabo, trata-se de uma salutar sátira textual, edificada às luzes das mudanças sociais, e por tal, também linguísticas, semânticas e lexicológicas da conjuntura sócio-hodierna, isto é: atual. Aglutinando como Eu narrador, o personagem insofismável da existência humana, a heráldica vivificação do dissipar vital – tal dá-se: a morte, apresentada, por cá, como polo ex-adverso à vida; delineando-se, elementarmente, vida: esfera positiva , em defronte à sua respectiva dicotômica – morte: esfera negativa. Supracitado personagem, subleva-se sumariamente aviltado, pelo processo de aversão ao pretérito – radicado e concebido nos arcabouços sociais da condição contemporânea, forjando singular crítica à efemeridade dos escritos de hoje, benevolamente como – pelas tautológicas cacofonias e pleonasmos, criptados aos mesmos. À pari passu, predicando seu mister/ofício de caráter parcial, demonstrando a existência de espécime de guia, permeado à pós-vitalidade. Desse modo, a morte – incide à conjuntura voga, munida de sua arcada léxica secular, uma irrisória demonstração de que todos os aspectos advindos da poesia, meramente poderão dissipar-se pela referida – ou seja: se a vida fora erigida pela poesia, somente pela poesia escamotear-se-á; retificando o indeclinável e recôndito liame entre o presente e o passado.

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Dialética de Tempo e Cabo

Jazia encimada à hiperbólica lauda a referente grafia.

“Eram-se feitos à cripta empertigável dos tempos, errantes criaturas por cuja vivência austera homiziara tenacidade ao peito; as lúgubre retinas, perlongadas, pelas encarquilhadas feições diuturnas, entrementes, ao vezo pragmático dos que temem o amanhã, o fado sempiterno de flanar absorto a um inexprimível e quimérico ensejo – a busca dos sem destino. Conquanto, se as gélidas alíneas vitais, permeiam-se, inexoráveis, às laudas inalienáveis dos séculos, as fustigáveis e indeléveis correntes dos anos, procederiam por jungir, os que anseiam o incerto para desvelar-se”.

Quiçá o seja, e vós haverdes aquiescer, eminente confidente, aos parcos de si, perenemente radicar-se-á ao imo a impugnação dos demais, a intransponível pusilanimidade do diferente, todavia, por cá, sucederão vicissitudes diversas, que as hei de postular, paulatina e homeopaticamente.

As apresentações, tão cordiais destes dias, delibero-as em abscôndito, ao menos em primacia, rogo meramente que não exasperes, caro leitor, fronte às ignobilidades desta singela persona dramática, que lhes será a vocificação dos silentes e a preconização dos fracos – pede, apenas a ocasião, que saibas o que fui e o que sou; quanto ao ulterior – cotejo que não hás de dispensar-se de meu ser, por mais desesperador que o seja; tirante, por óbvio, quando delegares-lhe presença – neste tempestivo, pois, dever-se-á tal qual vossos pares, rogar indeclinavelmente por retificações, inobstante, tudo há de lograr um cabo – seja benévolo, seja maligno; não pondero sobre tais sentimentalismos, não me são a benesse, por mais que alterque demasiadamente, havendo em vislumbre: o poder fazê-lo – ademais, por vezes, homiziam-se arguições, inobstante sobram-me anos, para a edificação de apostas; quanto a justeza ou justiça de supracitadas exequibilidades, tais desprezo à Diké[1], a essa cabem comensurabilidades – ao que me toca, meramente múnus e aplicabilidade. Por tal, exercidas parcialmente, as cortesias cabíveis, transpassamos à suma, que se dá pela obrigatoriedade de meu ser – obrigatoriedade parcial, entretanto obrigatoriedade – proclamar-lhes-ei o que me deve, o remanescente – a meu ser não assiste, incide à outrem, indivíduo dracônico, de céleres interjeições e monossilábicas comunicações, vaidoso e frívolo, contudo efêmero e fugaz, afugenta-me que jamais o acolherei – apanágio de mister, meramente[2]. Rogo, é claro, aos amantes das linhas ínfimas e exíguas, que se abstenham do métier literário das vogas proclamações, delineio-me um tanto quanto amarelado, pelo graduar infindo dos anos – se aos diletos de elementaridades, tais postulações não aglutinarem – tampouco cortejarem, amuamento algum há-me de emergir… São outros tempos, meu caro! São outros tempos!

O factual dá-se, dealbarmente, que depoimentos não me são o pináculo gráfico, ou na verborragia contemporânea “o forte”. Malditos sejam! Malditos sejam, pois, os mitigadores de léxicos, os decompositores de dicionários! A conjuntura hodierna – há décadas, não os assiste. Escusas… Escusas… Escusas… Transmutam-me os ânimos puerícias do hoje.  À rigor, preclaros, cabe elucidar as deliberações e convenções de estilo, por cuja retina trilharás, conceber-me-ei lhano – ou aos novéis – cândido/sincero. Tais necessidades de explicitação semântica ainda hão de acrescer-me cabo, confesso. Todavia, superado respectivo óbice de vernáculo, cumpre proceder ao catafórico – ao além-mar!

Veracidade, dá-se, que jamais fora benévolo em proselitismos, e por singularidade – poeta já me demonstrara aos primazes escorços, conquanto – a pena da inspiração poética, inexoravelmente, procedeu por abandonar-me, nada particular, pressuponho. Procedi por conjecturar que tais vicissitudes demonstraram a necessidade ululante de comutações, à concernência de minhas investidas literárias. Há-me reminiscência indelével – submergindo sempiternamente – dá-se pela primaz cantilena.

“Oh! Pois! Lúgubre e funesta evocação[3],
Pendular dos displicentes, inclementes, derradeiros,
Heráldico arauto de expiração,
Incidente aos transeuntes desordeiros.”

Por fastio, com malquistar fora acolhida a obra; desse modo, desde tais remotos tempos, por ocorrência da desditosa inobservância de particular virtude autobibliográfica, declinara plenamente da poesia. Aos meandros de respectivas eras, perpassaram-me notáveis grafias – versei-me a prosa, canonizara parnaso, plasmara cortejos eminentemente romantizados, e cabalmente edificara crônicas minuciosas com o silêncio; preposto coautor, criatura venal ao frêmito, quando embebido pelos torporizantes zéfiros; à ex-adverso, in perpetuum tacito, conquanto, sinalagmaticamente pertinazevocando-se de supramencionado jungir – miríade de miríficos tomos. À outrossim, ensejei a diversa forja de dissonante empenho – delineara-me, mormente, lexicólogo, transmudando a seara de querelas métricas, para as cognominadas semânticas.

Incipiente tomo léxico – predicou-se obra singular, ansiara deitar-lhe incomensuráveis verbetes – todavia, foi-se com abstração ínfima, sumariamente exígua para cunha de tal monta – esgueirada de colimar comprometido, avultou-se fronte às concepções de imo épico, vogas à época.

Malgrado, se há fado – excelsos senhores, dá-se pela grafia ao hoje, o fatigar cumulado das verborragias tolhidas – a plena aversão ao consonante, a suntuosa lauda profusamente inócua e desvanecida, agravada pela voraz súplica de laconismo; lassos plumitivos do palpitante, tépidos exangues!  Alguns tantos culminaram por alcunhar-me misoneísta – ora pois, tamanha inverossimilhança – não se pode negar o presente, todavia – referido,  jamais haverá de implicar na decomposição do suso. Predicamo-nos forja da têmpera secular, tinteiro da pena do antes – a vivificação do precedente a querelar o ulterior, o lastro para o novel. Factual dá-se que meu ser arranche-se ao arcabouço da negação do hoje, se o hoje negar-me, inobstantemente – enquanto as pleonásticas convenções cacofônicas auferem êxito e repute ao hodierno, não esqueceis, pois, que quando fitares-me, quando íris à íris incutirmo-nos, os ventos hão bradar cabalmente, tal qual vociferação vultiva dos séculos – Aí vindes outra vez, inquietas sombras![4] a saber: que se com poesia plasmara-se, ao ocaso pela poesia imbuir-se-á. Tornando à terra, o que a terra pertencia[5].

São outros tempos, meu caro! São outros tempos?

 

[1] Jungir à Mitologia Grega – Diké, nascida de Zeus e Thêmis, predica-se a cognominada Deusa da Justiça e justeza, portanto – preconizadora da virtude parcimoniosa da comensurabilidade e ponderação, entrementes, ao múnus de impugnação à perfídia e iniquidade.

[2] Alusão a um suposto guia da pós-vitalidade, à outrossim de Virgílio; conquanto, espécime poeta homiziado de compreensão para os expirantes contemporâneos, por tal – monossilábico.

[3] Aduz, pois, a seu próprio ser – delineando caráter autobibliográfico.

[4] Liame à obra Fausto do escritor alemão Goethe; referido molde de tradução faz-se empregado à grafia realista machadiana Dom Casmurro.

[5] Referência à Divina Comédia, precipuamente ao Canto III, magnus opus do poeta florentino Dante Alighieri.