Os mensageiros da morte: um conto dos irmãos Grimm

Leonardo Carvalho dos Santos

Apresentação do conto

Jacob Ludwig Karl Grimm nasceu em 4 de janeiro de 1785, em Hanau, na Alemanha. Wilhelm Karl Grimm nasceu no ano seguinte, em 24 de fevereiro, na mesma cidade. Por volta dos 20 anos de idade, os dois começaram a reunir histórias populares para um amigo que queria publicar uma coletânea de contos. Eles transcreviam o que ouviam de contadores de histórias. Como o amigo nunca as aproveitou, os irmãos Grimm resolveram publicá-las por conta própria.

O primeiro volume das histórias foi publicado em 1812, com o título de Kinder- und Hausmärchen (Contos para crianças e para a família). Hoje, a coletânea é mais conhecida como “Contos dos irmãos Grimm”. Os dois continuaram ampliando a coletânea por muitos anos e, por fim, ela veio a incluir mais de duzentos contos, e traz histórias que se tornaram clássicos, tais como “Branca de Neve”, “João e Maria”, “Rapunzel”, “Cinderela”, e “Chapeuzinho Vermelho”.

Além de pesquisar contos populares, os irmãos Grimm escreveram livros sobre o idioma alemão. Trabalharam também para o governo e foram professores e bibliotecários de universidade. Wilhelm Grimm morreu em 16 de dezembro de 1859, em Berlim, na Alemanha. Jacob morreu na mesma cidade, em 20 de setembro de 1863.

Os mensageiros da morte (do original Die Boten des Todes) é o conto de fadas de número 177, presente na quarta edição da coletânea “Contos dos irmãos Grimm” (Kinder- und Hausmärchen), publicada em 1840. No conto, a morte vem buscar um gigante, porém é por ele espancada. Um jovem que passa por ali, se depara com a morte estirada no chão e a socorre. Para mostrar sua gratidão, a morte promete ao jovem que, apesar de não poder poupá-lo, não virá buscá-lo sem aviso, e que para isso enviará seus mensageiros de antemão. Muitos anos mais tarde, o homem, não mais jovem, é pego de surpresa quando a morte chega para ele. Então, ele a acusa de não ter enviado os mensageiros prometidos. A morte lhe explica que os havia, sim, enviado: a doença, os sinais de envelhecimento e o sono. Sem resposta, o homem, então, permite que ela o leve.

 

Os mensageiros da morte

Há muito tempo caminhava um gigante pela longa estrada, quando, de repente, um desconhecido saltou à sua frente e gritou:

– Alto lá! Nenhum passo a mais!

– O quê? – exclamou o gigante – você, um nanico que eu consigo esmagar entre meus dedos, quer bloquear o meu caminho? Quem pensa que é para falar com tamanha audácia?

– Eu sou a morte! – retrucou – ninguém no mundo pode contra mim. E também você há de obedecer às minhas ordens.

O gigante, no entanto, recusou-se e iniciou uma luta contra a morte. Foi uma luta longa e violenta. No final ele a golpeou fazendo-a desmoronar ao lado de uma pedra. O gigante continuou seu caminho e a morte ficou lá, estirada no chão, tão fraca que não conseguia mais se colocar de pé. “O que acontecerá”, pensou, “se eu permanecer jogada aqui neste canto? Ninguém mais irá morrer, o mundo ficará tão abarrotado que sequer haverá espaço para as pessoas ficarem de pé”. Neste meio tempo vinha a caminho um jovem alegre e sadio que cantava e olhava de um lado para o outro. Ao se deparar com aquela figura semiconsciente caída no chão, aproximou-se, ergueu-a, deu-lhe um gole revigorante e esperou até que retomasse suas forças.

– Você faz ideia de quem eu seja? – perguntou enquanto se levantava – você sabe quem acaba de ajudar a ficar novamente de pé?

– Não – respondeu o jovem – não a conheço.

– Eu sou a morte. – disse – Eu não poupo ninguém, e não posso fazer de você uma exceção. Mas para que veja que lhe sou grata, não irei atacá-lo de surpresa. Enviarei meus mensageiros antes de vir buscá-lo.

– Bem – disse o jovem – sinto-me no lucro. Pelo menos saberei quando você virá e que até lá ficarei a salvo de você.

Ele seguiu seu caminho, sempre animado e aproveitando os dias. Mas sua juventude e saúde não duraram muito. Logo vieram as doenças e as dores que o atormentavam de dia e tiravam seu sossego de noite. “Morrer sei que não vou”, dizia para si mesmo, “pois a morte ainda não enviou seus mensageiros. Eu só queria que esses dias ruins de doença passassem logo”. Assim que se sentiu melhor, voltou a viver em alegria. Porém, certo dia, alguém cutucou-lhe o ombro, ele se virou, e lá estava a morte atrás dele. Ela disse:

– Siga-me. Chegou a hora de se despedir do mundo.

– Mas como? – respondeu o homem – você vai romper com sua palavra? Você não prometeu que antes de vir pessoalmente enviaria os seus mensageiros? Eu não vi nenhum!

– Silêncio – disse a morte – eu não lhe enviei um mensageiro atrás do outro? Não veio a febre, que se apoderou de você e o derrubou? Não veio a vertigem, que atordoou sua cabeça? A artrite, que atormentou todas as suas articulações? E os ruídos no ouvido? A dor de dente não lhe corroeu a boca? A sua vista não escurece de repente? E além do mais, não veio meu querido irmão, o sono, lembrá-lo de mim todas as noites antes de dormir? Você não passava deitado à noite como se já estivesse morto?

O homem não soube o que responder, cedeu ao seu destino e seguiu a morte.

 

Die Boten des Todes

Vor alten Zeiten wanderte einmal ein Riese auf der großen Landstraße, da sprang ihm pIötzlich ein unbekannter Mann entgegen und rief ‘halt! keinen Schritt weiter!’ ‘Was,’ sprach der Riese, ‘du Wicht, den ich zwischen den Fingern zerdrücken kann, du willst mir den Weg vertreten? Wer bist du, daß du so keck reden darfst?’ ‘Ich bin der Tod,’ erwiderte der andere, ‘mir widersteht niemand, und auch du mußt meinen Befehlen gehorchen.’ Der Riese aber weigerte sich und fing an mit dem Tode zu ringen. Es war ein langer heftiger Kampf, zuletzt behielt der Riese die Oberhand und schlug den Tod mit seiner Faust nieder, daß er neben einen Stein zusammensank. Der Riese ging seiner Wege, und der Tod lag da besiegt und war so kraftlos, daß er sich nicht wieder erheben konnte. ‘Was soll daraus werden,’ sprach er, ‘wenn ich da in der Ecke liegen bleibe? es stirbt niemand mehr auf der Welt, und sie wird so mit Menschen angefüllt werden, daß sie nicht mehr Platz haben, nebeneinander zu stehen.’ Indem kam ein junger Mensch des Wegs, frisch und gesund, sang ein Lied und warf seine Augen hin und her. Als er den halb Ohnmächtigen erblickte, ging er mitleidig heran, richtete ihn auf, flößte ihm aus seiner Flasche einen stärkenden Trank ein und wartete, bis er wieder zu Kräften kam. ‘Weißt du auch,’ fragte der Fremde, indem er sich aufrichtete, ‘wer ich bin, und wem du wieder auf die Beine geholfen hast?’ ‘Nein,’ antwortete der Jüngling, ‘ich kenne dich nicht.’ ‘Ich bin der Tod,’ sprach er, ‘ich verschone niemand und kann auch mit dir keine Ausnahme machen. Damit du aber siehst, daß ich dankbar bin, so verspreche ich dir, daß ich dich nicht unversehens überfallen, sondern dir erst meine Boten senden will, bevor ich komme und dich abhole.’ ‘Wohlan,’ sprach der Jüngling, ‘immer ein Gewinn, daß ich weiß, wann du kommst, und so lange wenigstens sicher vor dir bin.’ Dann zog er weiter, war lustig und guter Dinge und lebte in den Tag hinein. Allein Jugend und Gesundheit hielten nicht lange aus, bald kamen Krankheiten und Schmerzen, die ihn bei Tag plagten und ihm nachts die Ruhe wegnahmen. ‘Sterben werde ich nicht,’ sprach er zu sich selbst, ‘denn der Tod sendet erst seine Boten, ich wollte nur, die bösen Tage der Krankheit wären erst vorüber.’ Sobald er sich gesund fühlte, fing er wieder an in Freuden zu leben. Da klopfte ihn eines Tages jemand auf die Schulter: er blickte sich um, und der Tod stand hinter ihm und sprach ‘folge mir, die Stunde deines Abschieds von der Welt ist gekommen.’ ‘Wie,’ antwortete der Mensch, ‘willst du dein Wort brechen? hast du mir nicht versprochen, daß du mir, bevor du selbst kämest, deine Boten senden wolltest? ich habe keinen gesehen.’ ‘Schweig,’ erwiderte der Tod, ‘habe ich dir nicht einen Boten über den andern geschickt? kam nicht das Fieber, stieß dich an, rüttelte dich und warf dich nieder? hat der Schwindel dir nicht den Kopf betäubt? zwickte dich nicht die Gicht in allen Gliedern? brauste dirs nicht in den Ohren? nagte nicht der Zahnschmerz in deinen Backen? wird dirs nicht dunkel vor den Augen? Über das alles, hat nicht mein leiblicher Bruder, der Schlaf, dich jeden Abend an mich erinnert? lagst du nicht in der Nacht, als wärst du schon gestorben?’ Der Mensch wußte nichts zu erwidern, ergab sich in sein Geschick und ging mit dem Tode fort.

Referências:

ARAÚJO, Felipe. Irmãos Grimm. Disponível em: <https://www.infoescola.com/biografias/irmaos-grimm/>. Acesso em: 17 jun. 2019.

Irmãos Grimm. In: BRITANNICA ESCOLA. Web, 2019. Disponível em: https://escola.britannica.com.br/artigo/irmãos-Grimm/481424. Acesso em: 17 jun. 2019.

GRIMM, Jacob Ludwig Karl; GRIMM, Wilhelm Karl. Kinder- und Hausmärchen. Disponível em: <http://www.gasl.org/refbib/Grimm__Maerchen.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2019