Entrevista com Ricardo Rojas Ayrala e Marta Miranda

Demétrio Panarotto

A entrevista com Ricardo Rojas Ayrala e Marta Miranda falando sobre o VaPoesía Argentina foi feita à distância, no segundo semestre de 2021 e, diante dos percalços da vida, realizada depois que ficou definida que seria realizada, de modo presencial, a IXº edição do Festival Internacional. Organizei algumas questões e as enviei concomitantemente para os dois, que me atenderam prontamente e, em poucos dias, tinha em mãos um belo relato do que é, de como funciona e de quais são os públicos que participam e se envolvem com o festival. Depois, lendo, relendo e traduzindo, percebi que, naturalmente, algumas respostas se repetiam, mas que tinham algo que era mais forte que as complementava, por esse motivo, optei por mantê-las do modo que os dois me enviaram. Acredito que funciona como um registro e, ao mesmo tempo, como uma boa fonte de informação para que o público brasileiro, aquele que ainda não teve contato com esse importante projeto, conheça um pouco mais sobre o festival, que acontece anualmente no país vizinho, e que se caracteriza pelas ideias Literatura e Inclusão.

Desde já um forte abraço a Marta e ao Ricardo.

 

Português

 

  1. Em que situação sociopolítica surge o VaPoesía, na Argentina, e o que mudou da primeira edição até a deste ano (2021)?

Ricardo: O Festival Internacional VaPoesía Argentina surge como uma proposta de Literatura e inclusão que nasceu há dez anos através do esforço de dois escritores argentinos, Marta Miranda e Ricardo Rojas Ayrala, que para além de uma obra em circulação são gestores e ativistas culturais. Surge como uma necessidade de retribuir à nossa comunidade tudo o que ela nos deu. Sempre dentro de um plano ambicioso de levar a Literatura a lugares que não são contemplados por eventos culturais, muito menos pela presença dos escritores. Propomos uma troca de conhecimentos em pé de igualdade, ninguém vai ensinar nada, vamos compartilhar, trocar e confraternizar. Se a literatura não pensa o sujeito inserido na comunidade, não cumpre sua missão.

Marta: A situação sociopolítica da Argentina na primeira edição do VaPoesía era de um país em meio a um governo peronista, com um forte incentivo na área das políticas sociais, reconhecimento dos direitos humanos e incentivo a indústria nacional para criar autonomia e postos de trabalho. Nesse sentido, em ponto de diálogo com aquilo que estava acontecendo no país, e como militantes do campo popular, queríamos contribuir para o projeto nacional a partir de nossas ocupações. Hoje, nove anos depois daquele começo, depois de atravessar quatro anos de um governo liberal que implantou políticas socioeconômicas selvagens e reduziu direitos trabalhistas e sociais, e depois de dois anos de pandemia por causa da covid-19, nos encontramos diante de uma situação em que temos que redobrar os esforços até agora realizados para enfrentar um território arrasado.

  1. Qual é o público que frequenta as várias atividades propostas pelo evento?

Ricardo: Vamos a campo, ao encontro de irmãs e irmãos menos favorecidos, de pessoas que habitualmente se encontram em estado do que se denomina vulnerabilidade. Vamos a refeitórios populares, abrigos para moradores de rua, sistemas carcerários, escolas para adultos, sindicatos, comunidades indígenas, missões religiosas em aldeias, organizações de mulheres em situação de vulnerabilidade social, abrigos para menores, fábricas recuperadas, para citar os mais notórios. Vamos a esses lugares com os escritores. Por isso nosso festival se chama VAPOESÍA, porque a poesia vai onde as pessoas estão, onde estão nossos compadres e nossas comadres na Argentina mais profunda. Percorremos a cada edição presencial mais de 3.000 quilômetros em 15 dias e são realizados entre 25 e 30 eventos nesse período.

Marta: O público é muito diverso porque são diversas as sedes do festival. Podemos dizer que são jovens, crianças ou adultos que residem distantes dos centros urbanos, e/ou em situação de elevada vulnerabilidade social, e que por esses mesmos motivos são excluídos deste tipo de manifestação cultural, pelo afastamento, impedimento econômico ou devido à falta de conhecimento.

  1. O evento percorre regiões da cidade que se tornaram invisíveis para a dita sociedade burguesa (classista). Deste modo, como a palavra, seja a do dia a dia ou a literária, é trabalhada nesses espaços?

Ricardo: As atividades são muito diferentes entre si. Fazemos leituras, reuniões, workshops, e tudo depende do local e de suas características. Uma leitura em uma prisão de segurança máxima não é a mesma que em uma escola noturna para adultos. A ideia é que haja uma continuidade, no entanto, embora repitamos vários dos lugares que costumamos frequentar, estes também mudam. Eles nem sempre são os mesmos. A ênfase é dada à palavra como veículo de encontro com pessoas únicas que, nessa originalidade de identidades, possuem os mesmos direitos e habilidades que os demais. Somos todos súditos dos direitos humanos e todos viemos a este mundo para sermos felizes e termos uma vida digna. Sempre dizemos, com espírito de brincadeira amigável, que o poeta leva para casa mais do que traz. Estes encontros, onde o humano está acima de tudo, confirmam que a poesia permite um diálogo profundo, intenso e sem tanto alarde.

Marta: Se trabalha abrindo um espaço na vida cotidiana e aí se estabelece uma situação de igualdade, a priori, com a premissa da troca de saberes: o escritor tem um saber específico que vai compartilhar com a comunidade, e esta, por sua vez, vai compartilhar o seu conhecimento. Essa troca nos leva a leituras de poesia, mas também a letras de músicas, receitas culinárias, histórias de vida. Todos eles têm algo a dizer, sua própria história. O espaço da atividade e a forma como elas são criadas faz com que essa troca seja possível.

  1. Quais são as províncias e as cidades que já receberam o evento e quais os países estiveram representados nessas ações?

Ricardo: O festival acontece em duas províncias argentinas, Buenos Aires (e a cidade de Buenos Aires) e Mendoza. Os poetas vêm de diferentes partes do mundo e interagem com os escritores locais e com os poetas de bairros, comunidades e instituições, e com os poetas do mesmo território. Já fomos acompanhados, muito generosamente, por mais de 120 escritores do Peru, Chile, México, Brasil, El Salvador, Cuba, Costa Rica, Colômbia, Uruguai, Bolívia, Venezuela, Sri Lanka, Equador, Guatemala, Camarões, Coréia e Argentina, com certeza esqueci alguns.

Marta: As cidades onde normalmente ocorre o VaPoesía Argentina são na província de Buenos Aires e a Cidade Autônoma de Buenos Aires, e a província de Mendoza com suas diferentes comunidades. Os países representados, até o momento, são Uruguai, Brasil, Chile, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, El Salvador, Guatemala, México, Canadá, Eslovênia, Coréia, Sri Lanka.

  1. Para vocês dois, Ricardo e Marta, qual a importância do evento para o calendário literário argentino? e como vocês veem a produção e circulação da literatura argentina hoje?

Ricardo: Nosso festival de literatura e inclusão é o único do gênero na Argentina. Não há outro com características semelhantes. Não pretende substituir nenhum dos existentes, diferentes entre si e muito bons, não obstante oferece outras possibilidades de encontro através da poesia. Temos a certeza de que todos os festivais de poesia são absolutamente necessários, gostaria que houvesse muitos mais onde pudéssemos nos encontrar para ler poesia, pensar poesia e discutir poesia, dando ênfase à poesia que coloca a pessoa no centro da cena, a pessoa como sujeito político com múltiplos direitos e múltiplas habilidades. Poesia, sabemos, é uma arma carregada de futuro. Nestes momentos críticos a nível regional e mundial, a literatura argentina se encontra muito bem. Existem novos escritores e muitos outros, e outros, que estão consolidando uma obra que é admirável e importante. Acho que é um grande momento para a poesia argentina pautado pela diversidade de vozes e propostas que circulam em nosso meio hoje.

Marta: Acredito que VaPoesía é importante como evento literário porque promove uma equação diferente entre o escritor e seu público. Para uma escritora, para um escritor ir ao território, supõe uma situação de nudez, um não saber que se torna absolutamente estimulante. Existem outros festivais em nosso país com uma proposta igualmente necessária, mas mais formal, onde o público é garantido em uma sala para este fim. Gostamos de dizer que as atividades do VaPoesía sabem como começam, mas nunca como terminam, porque até que seja realizado o encontro com as pessoas da comunidade não será completo: a atividade será construída em conjunto e posso dizer que, no geral, o resultado é muito feliz.

A circulação da literatura no nosso país é feita através, acredito que mais ou menos acontece de maneira igual em todo o planeta, das editoras independentes. A última X FED – feira de editores independentes – que ocorreu no mês de outubro último, reuniu mais de 250 editoras, com uma grande variedade de propostas de edições e autores da mais elevada qualidade. Este é um bom número para explicar a sanidade da produção e circulação da cultura escrita de nosso país.

  1. Na condição de escritores, como a escrita de cada um de vocês se movimenta pelo espaço literário argentino, latino-americano? Quais são as referências?

Ricardo: Eu, Ricardo Rojas Ayrala, não tenho do que reclamar. Publicam-me com frequência e sou infinitamente grato por isso. Na Argentina, os meus livros são publicados pela Evaristo Edotrial há algum tempo e sempre sou grato por isso. Já publicaram, ao longo da minha carreira, 16 livros de poesia, contos e romances no México, Itália, El Salvador e Argentina. Tive a sorte de poder participar de eventos no cenário local e também no cenário internacional, principalmente na América Latina, que é minha grande pátria. Estou sempre disposto a ir a lugares para mostrar minha literatura e minha visão sobre ela in loco, com as pessoas. Para dar um exemplo mais tangível, darei agora uma palestra em uma universidade em Sonora, onde minha literatura será pauta de encerramento do encontro das reconhecidas faculdades de humanidades e literatura da referida instituição de ensino. Também participarei da feira do livro Venezuela 2021 que acontecerá em poucos dias e o editorial La Chifurnia, de El Salvador, publicará meus poemas em sua antologia internacional de poemas antifascistas intitulada “A paz não se conquista com desejo”.

Marta: Particularmente tenho a grande felicidade de ser convidada para festivais internacionais e publicado em sites na internet, em revistas e antologias em outros idiomas, por exemplo, italiano, croata, francês, e isso amplia a divulgação dos meus textos. Na Argentina, tenho participado de um grande número de festivais, publicações em blogs, revistas de suporte virtual e físico, e em antologias de escritoras argentinas, entre outras antologias de modo geral. Também tenho a sorte de contar com o apoio de uma excelente editora como a Bajo la Luna.

  1. Acho que poderíamos terminar com uma fala que se refira ao próximo trabalho literário de cada um e ao mesmo tempo com um pequeno trecho de um poema?

Ricardo: Atualmente estou trabalhando em um livro de poemas sobre o tempo, que por enquanto se chama “Cupido Adormecido”, em referência à delicada obra de Da Vinci e aquele acontecimento – poderíamos dizer policial ou paródico – tão conhecido que quase lhe custou a prisão, de ter que envelhecer sua obra para que parecesse um clássico, ou seja, se fala de uma época passada. Do livro em andamento há vários oratórios, longos poemas com uma pretensão de ladainha religiosa. Este é o início de um desses oratórios.

Oratório de uma ovelha na névoa

“En la noche dichosa, / en secreto, que nadie me veía,
ni yo miraba cosa, / sin otra luz y guía
sino la que en el corazón ardía.”
                                                                                  San Juan de la Cruz

Viajante inútil, ao sair do chão
se divide de improviso no
horizonte, ovelha na névoa.
Ah, menino divino

Bem, em outros ramos, o pintassilgo perspicaz
assovia um hai kai para as últimas e para as primeiras
e não temos mais paciência, nem outro ânimo
nem a fresta da saída para nos defendermos depois
da austeridade, da chuva e das injustiças
tu não o vê¿
Ah, menino divino

As guarnições do infortúnio
relaxam, sem seus tecidos de fome
e de sede, mais uma vez.
Ah, menino divino

Depois, enlouquecemos em nossas orações
na eterna mutação entre a matéria e a alma
por cada um desses abusos de poder e os insultos,
com místicos bronco espasmos na busca pelo perdão
– tão arbitrário e impensável – que jamais acontecerá.
Ah, menino divino

Ocasionalmente, bordeia o futuro como se fosse tal coisa,
para além de cada lobo que tenciona seu fanatismo,
contemplando a boa aventurança
Ah, menino divino

Rasga as armaduras deliciosamente
burguesas e funda qualquer outro reino
onde a felicidade já chegou
com todas suas sinuosidades, seus servos
e sua corte de pequenas regalias.
Ah, menino divino
(fragmento)

Marta: Estou escrevendo neste momento um livro de crônicas literárias, e um livro de poemas deve sair no próximo ano Então, na Terra, da qual deixo um poema.

O outro país

Existe um país
onde homens e mulheres
madrugam, preparam o café
saem para o trabalho, para a escola
enquanto outros esperam em casa
tecendo
amorosamente o dia

Existe
outro país
porém não aparece
nas notícias

Espanhol

 

  1. ¿En qué situación sociopolítica surge VaPoesía en Argentina, y qué ha cambiado desde la primera edición hasta este año 2021?

Ricardo: El Festival Internacional VaPoesía Argentina surge como una propuesta de literatura e inclusión que nos nace a dos escritores argentinos, Marta Miranda y Ricardo Rojas Ayrala, hace diez años, que además de escritores con una obra ya lanzada somos gestores culturales y militantes. Nos surge como necesidad de devolverle a nuestra comunidad todo lo que nos ha dado. Siempre dentro de un ambicioso plan de llevar a lugares donde habitualmente no llegan los sucesos culturales y menos que menos los escritores en persona. Planteamos un intercambio de saberes en pié de igualdad, nadie va a enseñar nada de nada, vamos a compartir, intercambiar y fraternizar. Si la literatura no piensa al sujeto en comunidad no cumple con su cometido.

Marta: La situación sociopolítica de Argentina en la primera edición de VaPoesía, era la de un país bajo un gobierno peronista, con un fuerte impulso a las políticas sociales, reconocimiento de derechos y fomento de la indústria nacional para crear autonomia y fuentes de trabajo. En ese sentido, para aportar a lo que estaba sucediendo en el país, y como militantes del campo popular, quisimos aportar al proyecto nacional desde nuestra tarea. Hoy, nueve años después de aquel inicio, después de atravesar cuatro años de un gobierno liberal que implementó políticas socioeconómicas salvajes y cercenó derechos laborales y sociales, y luego de dos años de pandemia a causa del covid-19, nos encontramos ante uma situación em la que tenemos que redoblar el esfuerzo hecho hasta el presente para hacer frente a un territorio arrasado.

  1. ¿Quién es el público que asiste a las distintas actividades propuestas por el evento?

Ricardo: Vamos a territorio. Las hermanas y los hermanos del pueblo más desfavorecidos que son las que habitualmente se las denomina como vulnerables. Vamos a comedores populares, refugios de gente de la calle, sistemas carcelarios, escuelas de adultos, sindicatos, comunidades originarias, misiones religiosas en villas, organizaciones de mujeres en situación de vulnaverabilidad social, casas abiertas, fábricas recuperadas, para mencionar los más notorios. Nosotros vamos a los lugares con los escritores. Por eso nuestro festival se llama VAPOESÍA, porque la poesía va donde está la gente, donde están nuestros compadres y nuestras comadres de la Argentina profunda. Recorremos en cada edición presencial más de 3000 kilómetros en 15 días y se realizan entre 25 y 30 eventos em ese lapso.

Marta: El público es muy variado porque variadas son las sedes del festival. Podemos decir que son jóvenes, niños o adultos que viven lejos de los centros urbanos, y/o e situación de alta vulnerabilidade social, y que por los mismos motivos quedan por fuera de éste tipo de manifestaciones culturales, por lejanía, impedimento económico o diretamente por desconocimiento.

  1. El evento recorre regiones de la ciudad que se han vuelto invisibles a la llamada sociedad burguesa (clasista), de esta manera, ¿cómo se trabaja la palabra, ya sea la del día o la literaria, en estos espacios?

Ricardo: Las actividades son muy disímiles. Hacemos lecturas, encuentros, talleres, según el lugar y las características de los mismos. No es igual uma lectura en una cárcel de máxima seguridad que en una escuela nocturna de adultos. Siempre la idea es continuarlas en el tempo y si bien repetimos varios de los lugares a donde solemos ir, estos también van cambiando. No son siempre los mismos. El énfasis esta dado em la palabra como vehículo de encuentro de personas únicas que en esa originalidad identataria poseen los mismos derechos y capacidades. Todos somos sujetos de derecho y todos venimos a este a mundo a ser felices y a tener uma vida digna. Nosotros siempre decimos, con ánimo de amable chanza, que el poeta se lleva más de lo que trae. Estos encuentros, donde lo humano está por encima de todo lo demás, refrendan que la poesia permite um diálogo profundo muy rapidamente y sin tantas estridencias.

Marta: Se trabaja abriendo um espacio em la cotidianeidad em el que se estabelece, a priori, una situación de igualdad, com la premisa de intercambio de saberes: los escritores tienen un saber específico que van a compartir con la comunidad, y la comunidad a su vez compartirá su propio saber. Esto da lugar a lecturas de poesia, pero también de letras de canciones, recetas de cocina, historias de vida. Todos tienen algo para decir, la propia historia. El espacio de la actividad y la forma en que está planteada, hace que ese intercambio sea posible.

  1. ¿Qué provincias y ciudades han acogido el evento y qué países estuvieron representados en estas acciones?

Ricardo: El festival transcurre en dos províncias argentinas, Buenos Aires (y la ciudad de Buenos Aires) y Mendoza. Han venido poetas de distintos lugares del mundo que interactúan con escritores locales y con poetas de las barriadas, de los comunidades, de als instituciones, com poetas del mismo territorio. Ya nos han acompañado, muy generosamente, más de 120 escritores de Perú, Chile, México, Brasil, El Salvador, Cuba, Costa Rica, Colombia, Uruguay, Bolivia, Venezuela, Sri Lanka, Ecuador, Guatemala, Camerún, Korea y Argentina, seguramente me olvido de algunos.

Marta: Las ciudades donde habitualmente sucede VaPoesía Aregentina es la província de Buenos Aires y Ciudad Autónoma de Buenos Aires, y la província de Mendoza com sus diferentes departamentos. Los países representados, hasta ahora, son Uruguay, Brasil, Chile, Bolivia, Peru, Ecuador, Colombia, Venezuela, El Salvador, Guatemala, México, Canadá, Eslovenia, Corea, Sri Lanka.

  1. Para ustedes dos, Ricardo y Marta, ¿cuál es la importancia del evento para el calendario literario argentino? y ¿cómo ve la producción y circulación de la literatura argentina en la actualidad?

Ricardo: Nuestro festival, de literatura e inclusión, es único en su tipo en Argentina. No hay otro de similares características. No pretende reemplazar a ninguno de los ya existentes, que son varios y muy buenos, sino que viene a brindar otras posibilidades más de encuentro a través de la poesia. Estamos seguros que todos los festivales de poesia son absolutamente necesarios, ojalá hubiera muchos más donde encontrarnos a leer poesia, a pensar poesia y discutir poesia, haciendo énfasis en la poesia que pone a la persona en el centro de la escena, a la persona como sujeto político con múltiples derechos y múltiples capacidades. La poesia, ya sabemos, es un arma cargada de futuro. En estos momentos tan críticos a nível regional y mundial la literatura en Argentina goza de muy buena salud. Hay nuevos escritores y muchos otras, y otros, que van consolidando uma obra que es muy notable e importante. Creo que es un gran momento para la poesia argentina con la diversidad de voces y propuestas que hay en nuestro medio en la actualidad.

Marta: Creo que VaPoesía es importante como evento literário porque plantea uma ecuación diferente entre el escritor y su público. Para uma escritora, para um escritor ir al terriorio supone uma situación de desnudez, um no saber que resulta absolutamente estimulante. Existen em nuestro país otros festivales com uma propuesta igualmente necessária, pero más formales, em donde el público está garantizado em uma sala ad hoc.Nos gusta decir que las atividades de VaPoesía sabemos como empiezn pero jamás como terminan, porque hasta que no se realiza el encuentro com la gente de la comunidade no estará completa: la actividad se construirá entre todos, y puedo decir  que em general el resultado es muy feliz.

La circulación de la literatura em nuestro país se hace a través, creo que más o menos passa em todo lugar del planeta, de las editoriales independientes. La última X FED – feria de editores independientes- que tuvo lugar durante el mês de octubre passado, reunió a más de 250 sellos, com propuestas variadíssimas de edición y de autores, de la más alta calidad. Ése es um buen número para dar cuenta de la buena salud de la producción y circulación de la cultura escrita de nuestro país.

  1. Como escritores, ¿cómo se mueve la escritura de cada uno de ustedes por el espacio literario argentino y latinoamericano? Cuales son las referencias?

Ricardo: Yo, ricaro rojas ayrala, siempre he sido muy afortunado. Me publican mucho, siempre ha sucedido y estoy infintamente agradecido por eso. En Argentina hace ya un tiempo que me publica Evaristo Edotrial y lo agradezco siempre. Ya me han publicado, a lo largo de mi carrera, 16 libros en México, Italia, El Salvador y Argentina de poesia, relato y novela. He tenido la dicha de poder participar de la escena local y también de la internacional, sobre todo de latinoamerica que es mi patria grande. Siempre estoy dispuesto a ir a los lugares a mostrar mi literatura y mi visión de la misma en território, con la gente. Para dar un ejemplo más tangible ahora daré una conferencia en una universidad de Sonora, donde se debatirá sobre mi literatura como cierre del encuentro de las distintas facultades de humanidades y literatura de dicha institución educativa. También participaré em el feria del libro Venezuela 2021 que sucederá em unos días y la editorial la chifurnia, de el salvador, me publicará em su antologia internacional de poemas anti fascistas que se llama “la paz no se logra com el deseo”.

Marta: Particularmente tengo la enorme dicha de ser invitadas a festivales internacionales, y publicada em sítios webs, y publicaciones em revistas y antologias em outros idomas, italiano, croata, francês, por ejemplo, lo que me permite uma amplia difusión de mis textos. Em Argentina he participado de uma gran cantidad de festivales, publicaciones em blogs, revistas em soporte virtual y físico, y em antologias de escritoras argentinas, entre otras antologias mas generales. También tengo la fortuna de contar com el apoyo de um excelente sello editorial como Bajo la Luna.

  1. Creo que podríamos terminar con un discurso que haga referencia a la próxima obra literaria de cada uno y al mismo tiempo con un breve fragmento de un poema.

Ricardo: Actualmente me encuentro trabajando en un libro de poemas sobre el tiempo, que por ahora se llama Cupido Dormido, en referencia a la obra delicadíssima de Da vinci y ese suceso – podríamos decir policial o paródico- tan conocido que casi le cuesta la cárcel, el de tener que avejentar su obra para que pareciera un clássico, es decir de un tiempo pasado. De ese libro en progreso hay varios oratorios, poemas largos con una pretensión de letanía religiosa. Este es el principio de uno de dichos oratorios.

Oratorio de una oveja en la bruma

“En la noche dichosa, / en secreto, que nadie me veía,
ni yo miraba cosa, / sin otra luz y guía
sino la que en el corazón ardía.”
                                                          San Juan de la Cruz

Viandante nulo, desacalambrate,
y al rajarte de sopetón en algún
horizonte: oveja en la bruma.
Ah, divino niño.

Bien, en otras ramas, el jilguerito perspicaz
silba un haiku para las últimas y para las primeras
y no nos queda paciencia alguna, ni otro berenjenal,
ni ninguna huida mejor para defender después
de la parsimonia, de la lluvia y de las injusticias.
¿No lo ves?
Ah, divino niño.

Las pasamanerías del infortunio
destensá, sin su broderí de hambres
y de sed, una vez más.
Ah, divino niño.

Después, hospicianos en nuestras meras plegarias,
en la eterna mutación de la materia y las almas
por cada uno de estos abusos de poder y los atropellos,
con místicos broncoespasmos por algún perdón
-tan arbitrario como impensado- que jamás sucede.
Ah, divino niño.

Ocasional, orilleá el porvenir como si tal cosa,
más allá de cada lobo que tensa su fanatismo.
He ahí la bienaventuranza.
Ah, divino niño.

Rasgá las vestiduras deliciosamente
burguesas y fundá cualquier otro reino
donde la felicidad ya haya llegado
con todos sus meandros, sus sirvientes
y su corte de pequeñas prebendas.
Ah, divino niño…
(fragmento)

Marta: Estoy escribiendo em este momento um libro de crónicas literárias, y em poesia el año próximo aparecerá Así em la tierra, del que les dejo um poema.

El otro país

Existe un país
en donde hombres y mujeres
madrugan, preparan el café
salen hacia el trabajo, la escuela
otros esperan en la casa
tejen
amorosamente el día

Existe
otro país
pero no aparece
en las noticias


Demétrio Panarotto nasceu em Chapecó-SC, em 1969. É doutor em Literatura (UFSC) e professor universitário (UNISUL). Músico, roteirista, poeta, escritor e idealizador do programa Quinta Maldita e do PIPA Festival de Literatura e consultor do Procura-se. Participou de eventos literários em vários cantos do Brasil lendo seus textos, dando palestras, ministrando laboratórios de escrita. Publicou, dentre outros, “Mas é isso, um acontecimento” [Editora da Casa, 2008, poemas]; “A de Antônia” [Miríade, ” 2016, infantil]; “18 Versos para o funeral de Demétrio Panarotto” [Papel do Mato Oficina Tipográfica, 2018, poemas], “Tratamento da Imagem” [Patifaria, 2018, conto]; “Arquipélago” [Patifaria, 2018, infantil], “Lotação” [Medusa, 2018, poemas]; “Vozes e Versos” [Martelo Casa Editorial, 2019, poemas], “Cerzindo e Cozendo” [Butecanis Editora Cabocla, 2020, poemas], “Privado” [Butecanis Editora Cabocla, 2021, contos] mais alguns discos e alguns filmes. Reside em Florianópolis-SC, Brasil.

Ricardo Rojas Ayrala é um escritor argentino. Sua obra é composta por 16 livros, poesias, romances e contos, publicados no México, Itália, El Salvador e Argentina. É Secretário de Cultura da União da Farmácia (ADEF). Dirige com Marta Miranda o VaPoesia Argentina Festival Internacional de Literatura e Inclusão. Entre outros prêmios literários, sua obra obteve o terceiro Prêmio Municipal de Literatura da Cidade de Buenos Aires e o Fundo Metropolitano de Artes e Ciências; Foi finalista do Prêmio Internacional de Poesia V Valera Mora; Ganhou o Prêmio Latino-americano de Literatura da Unam e o concurso International Papers of the Pandemic, organizado pela Letralia.

Marta Miranda nasceu em Mendoza, Argentina. É poeta, escritora, mestre em escrita criativa, tradutora e gestora cultural. Publicou Mea Culpa (Nusud, 1991), El Oleaje (Nusud, 1998), La misma piedra (Ediciones Del Dock, 2004), Nadadora (Bajo la Luna, 2008, 2ª ed. 2018), El Oleaje e outros poemas, bilingue antologia (Ruinas Circulars, 2013), Antologia (Cuadernos Amerhispanos, México, 2013), O lado negro do mundo (Bajo la Luna, 2015). Participa de inúmeras antologias nacionais e internacionais. Foi traduzida para o francês, catalão, português, inglês, croata, sueco e italiano. Juntamente com o escritor Ricardo Rojas Ayrala, dirige a Associação Cultural VaPoesia Argentina responsável pela organização do Festival Internacional VaPoesia Argentina – Literatura e Inclusão. Desde 1986 mora em Buenos Aires.