Ce siècle avait deux ans!, escreveu Victor Hugo. Nós, em 2022, responderemos com a inversão do verso: os dois últimos anos valeram por um século.
Que tempos!
The time is out of joint!…
Mas vínhamos anunciar uma revista. Sim; ela acaba de sair dos prelos digitais — é a 37ª edição da revista Mafuá! Vejamo-la.
Os sete ensaios aqui compilados vão da França medieval à literatura periódica do século XXI:
Ana Clara Mônico, em A construção do personagem do clérigo nos fabliaux medievais (séc. XIII), traz à baila este antigo gênero literário (o fabliau) com o objetivo de nos mostrar, amparada por conceitos hauridos da obra de Dominique Maingueneau, como a personagem do clérigo se constrói a partir de aspectos sociais filtrados pelas regras retórico-políticas do período.
Camila Geovanna Alves da Silva, em O “eu”, a mãe e a morte em une mort très douce, de Simone de Beauvoir, e Une femme, de Annie Ernaux, estuda as representações literária da mulher e do complexo da maternidade no século XX, dando atenção especial à escrita memorialística, testemunhal e autobiográfica.
Clara Magalhães do Vale, em A recepção de Dom Casmurro entre o ciúme e o adultério, pretende identificar e analisar os momentos mais importantes na recepção do romance de Machado de Assis – momentos que, segundo a autora, ilustram as transformações por que passou nossa crítica.
Giovana Amorim Mariano e Nathália Helen Machado Coêlho, no ensaio Os conflitos político-ideológicos em Viagens na minha terra, de Almeida Garrett, se propõem a investigar os embates travados entre as doutrinas liberal e monarquista por intermédio dos personagens representados no romance, chamando atenção para as grandes mudanças histórico-sociais por que passava a sociedade portuguesa no século XIX.
Giovana Laura Scheibel, em Mulheres e literatura: um olhar para a literatura de autoria feminina publicada pela revista Granta, estuda seis contos publicados pela revista britânica Granta em 2012 com o objetivo de entender como se caracteriza o protagonismo autoral da mulher brasileira no cenário literário atual.
Juliana Corrêa Paiva, em Romance de 30 com foco na obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos, se propõe a destacar algumas características da literatura produzida no período abordando a linguagem do romancista e o contexto de suas personagens.
Tamires Cristina Garcia, no ensaio Raízes flutuantes, territórios cambiantes, se apoia nas reflexões de Deleuze e Guattari sobre o conceito de “território” para comparar as manifestações de desterritorialização expressas nas obras de duas autoras lusófonas: Djaimilia Pereira de Almeida e Isabela Figueiredo.
Quanto às criações desta edição, são três contos: “Inexistência (ou a tentativa)”, de Tayná Bauer; “No Monte Roroima, o Outro”, de Sofia da Silva Quarezemin; e “Nadiêjda Porokhova”, de Ariel Von Ocker.
Por fim, na seção de obras raras, entregamos ao leitor a esgotadíssima coleção de versos juvenis de Jackson de Figueiredo, O Crepúsculo Interior (1918), salvando-o das traças e, se assim quiserem, da indiferença historiográfica.
Eis a súmula da revista, leitor.
Agora é folheá-la!