Gritos bárbaros, de Moacyr de Almeida

Alckmar Luiz dos Santos

Gritos bárbaros

Moacyr de Almeida

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Gritos bárbaros foi obra publicada postumamente, além de ter sido a única deixada pelo escritor. Moacyr de Almeida morreu em maio de 1925, aos vinte e três anos de idade. Poucos meses depois, organizada pelo irmão, o também poeta e jornalista Pádua de Almeida, vinham a público os versos de Moacyr, que Agripino Grieco colocava “no bando dos parnasianos” [1]. Classificação que, hoje, chama a atenção, pelo fato de serem poemas escritos em plena eclosão da poética modernista.

De fato, já numa primeira visada, a evidente influência do Parnasianismo se faz sentir desde o início do livro. Contudo, Mario Newman de Queiroz, dos poucos atentos leitores do poeta na atualidade, mostra intertextualidades com Castro Alves, notadamente no poema “Os subterrâneos”, que proporia um diálogo com “Navio negreiro: tragédia no mar” [2]. Ora, nesse mesmo poema de Moacyr de Almeida, há também elementos de sintaxe e imagens que lembram tanto a poética positivista de um Isidoro Martins Júnior, quanto a poesia política de Lúcia de Mendonça. Enfim, se a forma acompanha o lavor formal da “arte pela arte”, outros elementos vêm se mesclar à versificação parnasiana. Aliás, o mesmo “Os subterrâneos”, pela variedade métrica não deixa de remeter a técnicas simbolistas ou a poemas de Guerra Junqueiro. Ali, também chama a atenção o verso “Oceano de almas, torrentes de agonias”, um dodecassílabo heterodoxo, cujo esquema rítmico ( com acento forte na quinta sílaba: U U _ U _ U U _ U U U _ U) não é nem tripartido (U U U _ U U U _ U U U _U), nem alexandrino (que teria obrigatoriamente a sexta sílaba forte e a sétima fraca).

Em suma, sendo Moacyr de Almeida do “bando dos parnasianos”, não se atém rigorosamente aos preceitos da escola, como também fizeram os parnasianos de manual (Bilac, Alberto de Oliveira, Raimundo Correia). Isso pode ser atribuído tanto aos novos ares que já chegavam à literatura brasileira, como, mais provavelmente, uma aproximação sensível às obras desses três, ao contrário de seguidores mais obedientes à “arte pela arte”, como é o caso de Francisca Júlia.

Por tudo isso, vale a pena seguir a leitura livro adentro. Mesmo que falecido em pouca idade, Moacyr de Almeida, em curto tempo, mostrou-se poeta digno de atenção pelos letrados de então, de que dão exemplo das repercussões em torno de seu nome na imprensa da época.

Referências

QUEIROZ, Mario Newman de. “Entre Gritos bárbaros e jornais: a vida poética de Moacyr de Almeida”. Filologia e Linguística Portuguesa. São Paulo, v. 24, n. 1, p. 9-28, jan./jul. 2022.

[1] Seção “Vida literária”, n’O Jornal, de 14 de outubro de 1923, p. 1.

[2] “Palimpsesto surreal em Gritos bárbaros”. Disponível em https://periodicos.ufpb.br/index.php/graphos/article/view/63645/36529. Acesso em 28/02/2024.