Não sei de amanhã. Não sei de agora. Há minutos, segundos, nas inconstâncias das horas não saberei dizer. Não sei o que vim fazer nesse mundo, nessa tensão que dia após dia me apavora. É doloroso demais, meu Deus! Ver tanta injustiça, ver a morte em sua presença prematura me deixar órfão de esperanças, de amor e de sonhos. É doloroso não saber se terei vida, se esse sopro inquieto, barulhento, cercado de pressentimento ainda me pertencerá qualquer dia…
Tudo me percorre, vivo sob um susto, nesse queimor interno me situando além da linha tênue da vida. Estou em carne viva, estou devastado. O mundo roubou de mim o sentido que luto para ter e não morrer. A significação está além de mim, está… talvez no cosmo, no mar, nos signos propalados no infinito. Segura minha mão, me guia nesta tormenta, nestes momentos de aflição, estou…estou…estou ganhando forças para me auto destruir. A vida, meu amor, é o infinito verdejante que de tanto você admirar se torna hábito, te ofusca os pensamentos e te aliena como um cavalo adestrado.
Quero usufruir da alegria que pelo menos dignifique a carne, pois enquanto vivo na carne, dói de mais ter que sentir as angustias na alma. Prefiro sustentar a carne com os requintes supérfluos, desnecessários, medíocres; depois, depois não saberei dizer. Se o presente me é incomum, o que direi do futuro? Vejo agora o silêncio ecoando…ando…ando…ando… pelos espaços lamurientos de minha casa. Vejo a dor que grita do quarto da matriarca, sinto nessa lembrança histórica as cenas de sua luta. Estou devastado, Mãe, por que o que me inquieta é nada poder fazer. Os príncipes desse mundo roubaram a magia da vida, tomaram o trono material, enviesaram o sentido das coisas, cuspiram nos elementos neutros primeiros da vida.
Falta-me palavras, falta-me mansidão, falta-me coragem. Preciso reconhecer minha atual condição e silenciar, saber que na incomunicabilidade das horas os pensamentos se interpenetram cochichando as inteligências não pronunciadas.
O mundo sabe, as pessoas ouvem, as coisas veem o grito mudo e dorido dos homens disformes, penetrando nas coisas mudas por meio da realidade. O indivíduo é um indigente, próprio àqueles que não têm poder, nem voz, nem vez.
Quero refrear essa escrita com a prática dos atos, se possível em ação. Quero, sem ao menos saber, iniciar uma nova vida que comece com a consciência reduzida da emoção. A emoção me dói demais, é um bem que quanto mais preenche, mais falta e não acaba; não para, não sossega, não esfria, eleva a inconsciência do obscuro em mim. Quero, ou melhor, farei o fardo mais pesado me conter na suposta realidade que me abrevia. Precisarei abandonar o medo e enfrentar o desassossego como um vaga-lume relampejando dentro da noite escura.