Apresentação e editorial

Gabriel Esteves, Vinícius Rutes

A incerteza paira sobre o mundo. Nós, aqui embaixo, vivemos entre o cansaço e a urgência. A que vem uma revista de literatura num momento sério como este? Quando todos estão de olho nos laboratórios médicos, quando a própria vida está ameaçada, o que pode a literatura? “Tudo”, dirão alguns. “Nada”, outros. Eis a toada do tempo: o badalar do extremismo. Nós, modestos editores da Mafuá, seremos felizes quando a literatura não fizer tudo e nem nada, mas alguma coisa. Abrimos, portanto, as nossas portas. Embora o mundo esteja em quarentena, trancafiado, assombrado, nós queremos convidá-los, caros leitores, à reflexão. Que todos aqueles que enxergam alguma esperança na cultura e no conhecimento sejam bem vindos: a Mafuá vos pertence.

Apresentamos, nesta edição, cinco ensaios:

Em A maior das coisas intransponíveis em Os Gestos, de Osman Lins, André da Cunha Melo lança mão das ideias de Schopenhauer a respeito da solidão para produzir nova reflexão sobre um conto do célebre escritor de Avalovara.

Angelina Diniz Pereira, em O dialogismo polifônico nos contos machadianos: “Cantiga de Esponsais” e “Um Apólogo”, se propõe a analisar, à luz da teoria de Bakhtin, o cruzamento entre diferentes vozes discursivas em dois contos de Machado de Assis.

Júlia Oblasser Paladino, em A guerra no feminino por Svetlana Aleksiévitch: uma leitura de A guerra não tem rosto de mulher, se vale da sensibilidade da escritora Svetlana Aleksiévitch para explorar uma outra forma de narrar a Segunda Guerra Mundial pelo viés da memória e do testemunho.

Em O erro da morte de Velimír Khlébnikov: um comentário, Raquel Siphone investiga a representação da morte na obra do poeta russo Velimír Khlébnikov, principalmente na sua relação com o contexto do início do século XX.

Regina Almeida do Amaral, por fim, com Ecos do Nacionalismo Cosmopolita de Fernando Pessoa em Álvaro de Campos, apresenta hipóteses para a interpretação de alguns poemas do heterônimo Álvaro de Campos a fim de revelar um traço importante do imaginário pessoano: seu cosmopolitismo lusocêntrico.

Trazemos, na sessão artística da revista, dois contos interessantíssimos: Qualquer noite no passado, de Ana Paula Parisotto, e Há gosto de morte, de Cecília Cruz. Nas mãos de Nicolas Weber, por outro lado, literatura e artes visuais se encontram para formar um híbrido: Como quem mourning.

Nada mais há que dizer. Vamos, sem delongas, à leitura. Que a todos ela seja momento de prazer, reflexão e, hoje, cuidado.

 


 

Comissão Editorial

Alckmar Luiz dos Santos
Paulo Henrique Pergher
Vinícius Rutes Henning
Gabriel Esteves
Karem Caroline da Silva
Fernanda Gina Aguiar Souza
Thais Piloto da Silva
Leandro Scarabelot