Resenha: Mãe!

Adriano Menino de Macêdo Júnior, Victória Cruz Lima

O filme Mãe!, dirigido por Darren Aronofsky, é uma narrativa desenvolvida a partir do gênero suspense ou terror psicológico. O longa-metragem foi lançado nos Estados Unidos no ano de 2017, pela Paramount Picture e no elenco conta com os atores Jennifer Lawrence, Javier Bardem, Michelle Pfeiffer, Ed Harris e Kristen Wiig. A história reencena uma série de mitos por meio de uma linguagem alegórica que vai aos relatos bíblicos, desde o Antigo até o Novo Testamento. Seu enredo gira em torno de um casal, um personagem reconhecido pela função de escritor, e que seria uma espécie de simulacro de Deus, e sua esposa que representa a mãe natureza. 

O título do filme já nos provoca certa inquietação, quando finalizado pelo ponto de exclamação, sugerindo uma emoção expressa de alguém que está suplicando ajuda. Isso paira sobre todo o enredo e o desfecho final da personagem mãe. Os conflitos vividos pela protagonista feminina se iniciam com a inesperada chegada de outro casal a sua casa, que representa uma espécie de cosmo, imagem do próprio mundo, e que se localiza no meio do nada. Contrariando a vontade de sua mulher, o escritor se entusiasma para instalar os novos inquilinos, que no contexto do filme, representam a alegoria de Adão e Eva. Podemos notar que a temática desenvolvida em Mãe! tem relação estreita com outras obras dirigidas pelo cineasta Aronofsky, no que tange a um clima turvo, presença de terror psicológico, e isso seria, talvez, uma maneira mais intuitiva do próprio diretor de afastar seus medos mais obscuros e íntimos. 

Darren sempre procurou trabalhar com o que de fato gosta. Através dos seus principais filmes, podemos ver um interesse na temática bíblica, mas as histórias não são contadas como estamos habituados a ler nos manuscritos, e sim retomando as “raízes mais antigas e coloridas, mergulhadas em misticismo”, conforme aponta Guilherme Druck Becker, um dos estudiosos do seu trabalho como diretor. Isso provoca determinado estranhamento num tipo de expectador muito especifico que seria aquele devoto de certa doutrina, especialmente a judaico-cristã, já que Darren poderia ser considerado um profanador das histórias clássicas da Bíblia Sagrada, uma vez que ele descaracteriza a trama das Escrituras Religiosas. Em sua obra, podemos destacar ainda a presença de elementos marcantes como “a própria mortalidade, representações da criação, a tortura e o orgasmo da experiência artística”, e não seria diferente com a sua brilhante obra Mãe!, que comtempla todos os componentes supracitados. (BECKER, 2019, p. 19). 

Para entender a trajetória de Darren Aronofsky como diretor é preciso lembrar que quando jovem ele gostava de ir ao teatro da Broadway, vindo a adquirir um grande gosto por show Business. Sua primeira formação foi na Escola de Estudos de Campo, no Quênia e no Alasca, como biólogo, entre 1985 e 1986. Mas tarde, por volta de 1987, Darren Aronofsky começou a cursar Antropologia e Cinema na Universidade de Harvard, concluindo sua formação em 1991. Sua primeira grande obra produzida, e que lhe rendeu um prêmio de melhor diretor no Festival de Cinema Sundance, foi o filme PI lançado entre os anos de 1997 e 1998.  Dando continuidade a sua carreira, Aronofsky dirigiu alguns longas-metragens, entre os quais destacamos Requiem for a Dream (2000), o The Fountain (2006), The Fighter (2008), Black Swan (2010), Noé (2014) e por ultimo até o momento Monther! (2017). 

Ao longo de sua carreira, o diretor ganhou outros prêmios e acumulou varias indicações ao Oscar. Mãe!, inclusive, recebeu indicações para premiações em diversos festivais, e no New Mexico Film Critics Jennifer Lawrence consagrou-se como melhor atriz pelo seu papel como protagonista da trama. A atuação da artista é de fato marcante, revelando a sua maturidade na arte de interpretar. Do inicio ao fim do filme, a atriz consegue representar para o telespectador o carma carregado pelo personagem, denunciando como nós seres humanos estamos fadados a sermos perversos com a própria existência. A mãe é personificada como um ser puro, perfeito, de doçura imaculada, muito bem interpretada por Jennifer. O sofrimento, a angústia, o medo são emoções vividas a todo tempo pela protagonista, que Lawrence defende com muita maestria. 

Esse excelente trabalho está em sintonia íntima com o do ator Javier Bardem, que ao protagonizar o papel de um escritor que no filme é a alegoria de Deus, destaca-se pelas suas expressões, por uma interpretação que se revela a partir do próprio olhar benevolente e apaixonado para com a sua criação. Destacamos ainda as ótimas atuações coadjuvantes de Michelle Pfeiffer e Ed Harris que encarnam muito enfaticamente os papeis respectivos de Eva e Adão. Os coadjuvantes não perdem o foco em suas atuações, Pfeiffer caracterizando Eva como um ser pervertido e malicioso, que a todo o momento está desagradando à personagem de Jennifer Lawrence, e Ed Harris, por sua vez, na brilhante interpretação de um homem misterioso que chega a casa do casal protagonista para desestabilizar as suas vidas. 

Ainda que o filme tenha sido lançado em 2017, quando recebeu boa recepção da crítica e público, vale a pena ser assistido e estudado na atualidade por amantes do cinema, estudantes das artes e das letras e, sobretudo, por sujeitos que gostam de histórias da origem dos homens e da vida, teorias religiosas, narrativas míticas e de uma tradição literária. Com certeza, ao final do filme, o expectador poderá ter diferentes visões e formular novas hipóteses sobre a criação do homem, do cosmo e da vida. 

REFERÊNCIAS

Becker, GD. A megalomania da metáfora: um olhar sobre a forma fílmica da Mãe! de Darren Aronofsky. (2019).

MÃE! Direção: Darren Aronofsky. Produção: Protozoa Pictures. EUA: Paramount Pictures, 2017. 1 DVD (2h 02min.).