RESUMO: O presente artigo tem como objetivo identificar e descrever as funções da comicidade nos contos “Melhor do que arder” e “Mas vai chover”, de Clarice Lispector, lançados em (1974) em A via crucis do corpo. Nesse estudo, buscamos analisar os aspectos da comicidade por meio das histórias de Clara, uma madre que vivia insatisfeita com a vida que levava, e de Maria Angélica, uma senhora que teve um relacionamento com um jovem rapaz. Para essa análise, foram estudadas as teorias: O riso: ensaio sobre a significação do cômico (1983), de Bergson, O chiste e suas relações com o inconsciente (1977), de Freud e o capítulo “O chiste” do livro Forma simples (1976), de Jolles.
PALAVRAS-CHAVE: Clarice Lispector; cômico; conto; funções da comicidade.
ABSTRACT: This article aims to identify and describe the functions of comicality in short stories “Melhor do que arder” and “Mas vai chover”, of Clarice Lispector, released in (1974) in A via crucis do corpo. In this study, we sought to analyze the aspects of comicality through the stories of Clara, a mother who was always dissatisfied with her life, and of Maria Angélica, a lady who had a relationship with a young man. For this analysis, the theories: O riso: ensaio sobre a significação do cômico (1983), of Bergson, O chiste e suas relações com o inconsciente (1977), of Freud and the chapter “O chiste” from the book Forma simples (1976), of Jolles.
KEYWORDS: Clarice Lispector; comic; story; functions of comicality.
Introdução
Apesar de falecer antes dos sessenta anos, a escritora Clarice Lispector se aventurou e publicou obras de vários gêneros literários: romance, conto, crônica e literatura infantil. No entanto, apesar de sua diversidade, a escritora ficou reconhecida, principalmente, pelo seu estilo intimista e pelas abordagens psicológicas tão presentes em suas obras. Embora o caráter “sério” seja uma das características de suas produções, Lispector se utiliza também da comicidade, como é possível perceber em sua última obra, A hora da estrela (1977), assim como nos dois contos aqui analisados.
Assim, para o estudo da comicidade e suas funções na poética de Clarice Lispector, foram selecionados os contos “Melhor do que arder” e “Mas vai chover”, do livro A via crucis do corpo (1974). Além de buscar identificar e entender os processos cômicos presentes nessas narrativas, um dos principais objetivos deste estudo é entender a função da comicidade dos contos em questão.
O artigo está estruturado em três seções. A primeira, apresenta teorias sobre o cômico, segundo Bergson (1983), Freud (1977) e Jolles (1976), que serviram de embasamento para as análises dos contos selecionados. A segunda seção consiste em identificar e analisar a comicidade nos corpora escolhidos, seus processos de construção e a função que o cômico exerce nessas narrativas. A terceira e última, tem por objetivo apesentar algumas semelhanças e contrapontos que os contos em análise possuem.
1. Sobre a comicidade
Bergson, em O riso: ensaio sobre a significação do cômico (1983), traz a comicidade como algo propriamente humano e daí discorre sobre alguns fenômenos que compõem o riso ou as situações cômicas. Para ele, “[…] o cômico exige algo como certa anestesia momentânea do coração para produzir todo o seu efeito” (BERGSON, 1983, p. 8), ou seja, para determinadas situações serem cômicas é necessário a insensibilidade, pois caso não a tenhamos a situação perderá a comicidade em virtude de nossa emoção perante a situação. Em suma, a emoção não é compatível com o riso; é, na verdade, uma inimiga dele.
Para Bergson, o cômico se dá por meio de um mecanismo sobreposto à vida, quando temos o mecânico calcado no vivo. Por exemplo, se uma pessoa está correndo e acaba tropeçando em uma pedra e cai, não se ri porque ela caiu, mas pelo desvio que acabou de acontecer, pois onde se esperava flexibilidade para contornar a pedra, houve o automatismo dos movimentos que leva ao tombo. Tendo em vista o exemplo, podemos ver a principal função do cômico para Bergson que é a de castigar ou corrigir os costumes, pois a pessoa que se comporta mecanicamente, ao se tornar o riso de outros, tende a corrigir-se.
As funções do cômico vão além de corrigir ou castigar os costumes dos indivíduos. Para Bergson, o cômico vai ter uma função social porque, além dos significados, incorpora elementos comuns da vida das pessoas e ocupa um espaço social: “Para compreender o riso, impõe-se colocá-lo no seu ambiente natural, que é a sociedade; impõe-se sobretudo determinar-lhe a função útil, que é uma função social” (BERGSON, 1983, p. 9). Contudo, para que o cômico ocupe esse espaço social é preciso que ele tenha eco, pois, de acordo com Bergson, não seria possível desfrutar do cômico, se nos sentíssemos isolados. Prova disso, é que quanto maior é o grupo em que estamos inseridos, maior é o riso. É como se ele contagiasse as pessoas e é por essa razão que ao assistirmos uma peça de comédia, tem-se em determinadas cenas, um áudio de pessoas rindo. A utilização desse áudio tem por finalidade contagiar o espectador naquele momento para que o riso surja.
Ao fim da teoria, Bergson propõe uma reflexão sobre o riso e nos questiona se seu efeito ou função não é também uma tentativa de nos fazer melhorar e nos aprimorar interiormente, já que, com ele, buscamos corrigir nossos defeitos:
Dir-se-á que pelo menos a intenção pode ser boa, que quase sempre se castiga por amor, e que o riso, ao reprimir as manifestações exteriores de certos defeitos, nos convida assim, para o nosso bem maior, a corrigir esses defeitos e a nos aprimorar interiormente? (BERGSON, 1983, p. 92)
Já Freud, na obra Os chistes e suas relações com o inconsciente (1977) e em diálogo com autores como Fischer e Jean Paul, tenta definir ou, ao menos, se aproximar de uma definição do chiste. Desse modo, buscando as similaridades entre as definições postas por eles, podemos, a princípio, dizer que o chiste é como um jogo de palavras que contrastam entre si, ou seja, é um ponto em comum entre ideias distintas.
Segundo Freud, o objetivo de se conseguir prazer nos chistes deve ser reconhecido como o fator principal para sua elaboração; ninguém se contenta em fazer um chiste somente para si. Pelo contrário, o chiste deve ser contado a mais alguém, já que o prazer produzido por ele é mais claro no ouvinte. Tendo em vista o prazer, vê-se que o riso se dá quando uma soma de energias reprimidas encontra livre descarga, ou seja, quando se tem o relaxamento dessas tensões. Sendo assim, o cômico terá um caráter libertador, vai nos dar acesso ao proibido e funcionará como uma válvula de pressão que nos permitirá falar o que antes era reprimido.
O caráter libertador é atribuído, especialmente ao chiste tendencioso que, além de abrir fontes de prazer, nos permite falar, de maneira aberta, coisas que antes eram vetadas: “Os chistes tendenciosos são altamente adequados para ataques aos grandes, aos dignitários, aos poderosos” (FREUD, 1977, p. 125). Como se vê, os chistes tendenciosos serviam de ferramenta de denúncia e crítica social aos mais poderosos e, até certo ponto, de espaços para protestos. Já o prazer nos chistes “[…] procede da satisfação de um propósito cuja satisfação, de outra forma, não seria levada a efeito” (FREUD, 1977, p. 139), o prazer não consiste somente em atingir o objetivo (transmitir a mensagem, crítica), mas na forma como ela foi transmitida.
Por fim, Jolles, no capítulo “O chiste” de sua obra Formas simples (1976), afirma que não há época e nem lugar em que o chiste não se encontre em nossa existência, consciência, bem como na vida e na literatura. Tendo em vista o caráter onipresente e atemporal, o estudioso define o chiste como “A forma que desata as coisas, que desfaz nós” (JOLLES,1976, p. 206). O chiste seria como uma espécie de técnica capaz de desfazer a lógica, a ética, a linguagem e as próprias formas.
Dentre os vários âmbitos em que o chiste pode estar e entre as diversas coisas que ele pode desatar, é importante destacar o campo da linguagem, que é denominado por ele como jogo de palavras. Semelhante a Freud (1977), Jolles pontua que o chiste terá uma função de alívio de tensões:
A vida e o pensamento desenrolam-se numa tensão constante. Tensão que está dentro de nós e fora de nós. Cada vez que essa tensão e contenção ameaçam converter-se em hipertensão, procuramos diminuí-la, descarregá-la. Um dos meios – às vezes o único, frequentemente o melhor – de passar tensão à distinção, ao relaxamento, ainda é o chiste (JOLLES, 1976, p. 212).
O alívio de tensão se dá tanto no gracejo (gratuito) quanto na zombaria (agressão/crítica). Desse modo, vemos que o chiste tem um caráter dualista e funciona simultaneamente, desfazendo os laços e desafogando as tensões. O chiste, além da intenção particular, tem a intenção geral de libertar o espírito pela descarga de uma tensão e quando se tem esse objetivo ele não está se opondo ao que repreendemos ou que é insuficiente, mas ao que é severo ou austero e que podemos definir como uma rigidez.
2. O lado cômico de Clarice Lispector
Partindo dessas reflexões sobre o cômico, buscaremos identificar e analisar os procedimentos e funções desse recurso em dois contos de Clarice Lispector. Apesar de ela não se configurar como uma autora de natureza cômica, o conto “Melhor do que arder”, que se encontra em A via crucis do corpo (2020), é permeado de comicidade. Sua construção carrega vários processos cômicos, como veremos adiante. A obra conta a história de uma jovem madre que não estava satisfeita com sua vida no convento, pois, desde o início, esse não era seu desejo, entrara por imposição de sua família. A narrativa, portanto, segue mostrando, de modo cômico, toda sua insatisfação em estar lá.
O conto “Mas vai chover”, por sua vez, também se encontra em A via crucis do corpo (2020) e também é dotado de muita comicidade. O texto narra a história de uma senhora de sessenta anos que se chama Maria Angélica. Essa senhora, que logo de início se encanta por um entregador de remédios de uma farmácia, não perde tempo e convida-o para entrar em sua casa. A partir daí a senhora começa a seduzir o rapaz e a oferece-lhe bens materiais. O jovem, ambicioso que era, torna-se, de imediato, amante de Maria Angélica e passa a desfrutar de uma vida fácil e de luxo como ele sempre quis.
2.1. Comicidade que arde
Como já havíamos falado anteriormente, os contos escolhidos para esta análise são dotados de comicidade que, por sinal, já pode ser vista no próprio título de um dos contos: “Melhor do que arder”. O leitor, em contato com esse título, imediatamente, pode fazer várias indagações, tendo em vista o duplo sentido que ele carrega, que, segundo Freud (1977), é uma das técnicas dos chistes. Sendo assim, o leitor pode perguntar: O que vai arder? O que é melhor do que arder? Por que vai arder? Esses são alguns dos questionamentos que podem surgir rapidamente. O duplo sentido, neste caso, é fruto da organização sintática, ou seja, da forma como as palavras foram distribuídas no título do conto. Além do duplo sentido, a comicidade presente no título do conto se dá também por meio do desconcerto e esclarecimento, termos definidos por Freud (1977) e que serão explicados adiante.
Observando a narrativa, podemos perceber que ela começa de modo cômico desde a primeira frase: “Era alta, forte, cabeluda” (LISPECTOR, 2020, p. 66). A comicidade aqui presente pode ser explicada por três vertentes. Na primeira, podemos dizer que o riso advém de uma quebra de expectativa, segundo Bergson (1983), ou seja, quando a frase diz que ela era alta e forte, nos dá a entender que ela fará uma descrição física normal de como é esta mulher, mas quando ela traz o “cabeluda” acaba, assim, por quebrar a expectativa que tínhamos em relação a como ela seria. A segunda explicação seria por meio dos conceitos de desconcerto e esclarecimento. De acordo com Freud (1977), o desconcerto diz respeito a algo desconhecido ou que ainda não entendemos por completo. No entanto, quando o sentido é esclarecido posteriormente, assim como acontece na primeira frase após o “cabeluda” que se referia também ao buço, “bigode” que ela possuía: “Era alta, forte, cabeluda. Madre Clara tinha buço e olhos profundos, negros” (LISPECTOR, 2020, p. 66), é, então, o que chamamos de esclarecimento, isto é, a compreensão do(s) sentido(s) da palavra que causou o desconcerto.
A terceira explicação possível seria o duplo sentido, já que a palavra cabeluda pode estar sendo utilizada para descrever como essa madre era fisicamente, então “o cabeluda” pode se referir ao buço ou ao cabelo, mas também às partes íntimas da madre, já que costumes como o da depilação não eram permitidos para essas mulheres, assim como foi apresentado no conto: “Madre Clara era filha de portugueses e, secretamente, raspava as pernas cabeludas. Se soubessem, ai dela” (LISPECTOR, 2020, p. 67). A palavra cabeluda, nesse contexto, poderia ser, ainda, uma alusão à sua virgindade, já que ela era uma moça que se tornara madre, então “o cabeluda” seria a representação da virgindade e da pureza dessa mulher que nunca havia sido tocada e, por isso, suas partes íntimas se encontravam assim.
Tendo em vista o caráter libertador como já discutimos acima, pode-se dizer que Clarice se utiliza do cômico para falar/criticar o que acontece no âmbito religioso, mas que é reprimido pela maioria da sociedade. Vejamos:
Confessou-se ao padre. Ele mandou que continuasse a se mortificar. Ela continuou. Mas na hora em que o padre lhe tocava a boca para dar a hóstia tinha que se controlar para não morder a mão do padre. Este percebia, nada dizia. Havia entre ambos um pacto mudo. Ambos se mortificavam. Não podia mais ver o corpo quase nu do cristo. Madre Clara era filha de portugueses e, secretamente, raspava as pernas cabeludas. Se soubessem, ai dela. Contou ao padre. Este ficou pálido. Imaginou que suas pernas deveriam ser fortes, bem torneadas (LISPECTOR, 2020, p. 66-67).
Nesse trecho, como se vê, a comicidade tem como objetivo evidenciar uma realidade que praticamente não é vista ou debatida pela sociedade, já que se trata de questões religiosas e de atitudes como esta, aqui exposta, que deveriam ser, na verdade, reprimidas. Desse modo, a narrativa traz essa crítica, por meio do cômico, com o intuito de refletirmos e de nos questionarmos sobre quantas freiras não viveram ou vivem situações semelhantes à de Clara, além de expor os desejos reprimidos de uma madre, o que é um tabu na sociedade.
Ainda sobre o trecho citado anteriormente, é possível notar um certo exagero sobre esse desejo que a madre sente. Essa hipérbole se repete outras vezes no texto: “Mas na hora em que o padre lhe tocava a boca para dar a hóstia tinha que se controlar para não morder a mão do padre” (LISPECTOR, 2020, p. 67). No entanto, o que parece ser uma figura de linguagem é, na verdade, um dos mecanismos da comicidade: “Falar das pequenas coisas como se fossem grandes é, de modo geral, exagerar […] Na realidade, o exagero, como a degradação, é apenas certa forma de determinada espécie de comicidade, porém mais enfática” (BERGSON, 1983, p. 60, grifo do autor).
Além de expor os desejos, o cômico traz uma questão importante à tona, a vaidade, que, segundo Bergson (1983), é um vício ao redor do qual os demais gravitam e buscam satisfazê-la. No conto em análise, é possível perceber que Madre Clara não só possui como busca realmente satisfazer essa vaidade: “Madre Clara era filha de portugueses e, secretamente, raspava as pernas cabeludas. Se soubessem, ai dela. Contou ao padre. Esse ficou pálido. Imaginou que suas pernas deviam ser fortes, bem torneadas” (LISPECTOR, 2020, p. 67). O simples ato de depilar as pernas, nesse caso, demonstra a vaidade que ela possui enquanto mulher, o desejo que tem de se sentir mais bela, atraente, de ter um corpo mais cuidado, a fim de satisfazê-la e, também, de alimentar essa vaidade feminina, que é criticada na vida de pessoas religiosas, como as madres. Conquanto, ela não é a única personagem com vaidade, lembremos do padre:
Este percebia, nada dizia. Havia entre ambos um pacto mudo. Ambos se mortificavam. Não podia mais ver o corpo quase nu do cristo. Madre Clara era filha de portugueses e, secretamente, raspava as pernas cabeludas. Se soubessem, ai dela. Contou ao padre. Este ficou pálido. Imaginou que suas pernas deveriam ser fortes, bem torneadas (LISPECTOR, 2020, p. 67).
Vemos, aqui, que o padre possuía os mesmos desejos da madre, e isso pode ser deduzido quando ela vai confessar sobre o que vinha sentindo e ele a aconselha que se mortifique, penitência à qual ele também se submetia. Outra hipótese possível seria a de que Madre Clara havia percebido esses desejos do padre e tenha resolvido se confessar para ele como uma forma de provocação e até de convite a uma mudança de vida, como ela faz posteriormente.
A quebra de expectativa aparece novamente no texto, mas, desta vez, para evidenciar o desejo que Clara possuía “Rezava muito para que alguma coisa boa lhe acontecesse. Em forma de homem” (LISPECTOR, 2020, p. 68). Além dessa quebra, já que ninguém imaginaria que ela iria rezar fervorosamente para encontrar um homem, vemos aqui a função libertadora que o cômico possui, já que ele possibilita falar desses desejos reprimidos de madre Clara, de forma comum, direta e que de outro modo não seria possível pautar essas questões.
Segundo Bergson (1983), a graça que existe no boneco de molas consiste no movimento repetitivo do brinquedo ao ser pressionado e depois solto. A repetição, portanto, é o mecanismo responsável pela comicidade desse objeto. Ao observar o corpus em análise é possível perceber que a repetição é um dos mecanismos utilizados e responsáveis pela comicidade da narrativa. O título do conto, por exemplo, se repete ao longo do texto por duas vezes, com a diferença da adição da palavra “casar”: “Melhor casar do que arder”. Desse modo, quando a madre está se confessando e o padre a aconselha: “É melhor não casar. Mas é melhor casar do que arder” (LISPECTOR, 2020, p. 67), vemos que o título da obra, a princípio, se configurava como um desconcerto, já que ele não nos dava um sentido completo, mas quando, em diálogo, o padre diz essa frase, o sentido se esclarece, pois o “arder” pode ser uma referência ao fogo do inferno, uma vez que as atitudes e os desejos que ela tinha não correspondiam aos de uma madre, ou que era preferível casar-se a arder de desejo, já que não conseguia mais fazer as abdicações necessárias. Com essas circunstâncias, seria, então, melhor casar do que continuar na vida religiosa com atitudes que poderiam levá-la à condenação de sua alma.
Ainda sob o viés da repetição, é evidente que a palavra “cabeluda” foi repetida algumas vezes no conto. Na parte inicial, da descrição de Clara; no meio do texto, ao mencionar que ela raspava secretamente as penas; e na frase final do conto, dizendo que ela teve quatro filhos, todos “cabeludos”. O riso, na frase final, ao nos depararmos com a palavra “cabeludos” se dá por conta dessa repetição que se faz presente no texto, por nos relembrar os sentidos já apresentados por essa palavra e também por imaginarmos que a característica física foi passada, isto é, se repetiu nos filhos de Clara e, com ela, possivelmente, a característica identitária.
2.2. Parecendo que vai chover
Similar a “Melhor do que arder”, o conto “Mas vai chover” é permeado de comicidade desde as primeiras frases: “Maria Angélica de Andrade tinha sessenta anos. E um amante, Alexandre, de dezenove anos” (LISPECTOR, 2020, p. 68). Explicado o conceito de quebra de expectativa segundo a perspectiva de Bergson (1983), podemos por assim dizer que a comicidade inicial do conto se dá por conta da quebra de expectativa que criamos sobre a imagem de Maria Angélica, uma vez que ao lermos que ela tinha sessenta anos, automaticamente já começamos a imaginar que o narrador fará a descrição de uma senhora. Porém, quando é posto que ela tinha um amante, e ainda bem jovem, de imediato, tudo que antes já havíamos pensado em relação a essa senhora acaba se desconstruindo, ou seja, a expectativa que tínhamos de como ela poderia ser é quebrada.
Além da quebra de expectativa, é importante destacar que o cômico nesse início da narrativa não só tem o caráter libertador ao expor os desejos que as pessoas da terceira idade possuem e que, na maioria das vezes, são reprimidos por serem discriminados, como, também é o responsável por trazer a ideia principal do texto. É interessante pontuar que o rapaz era um entregador de uma farmácia e que Maria Angélica o conheceu quando ele foi fazer a entrega de alguns remédios que ela havia pedido. Encantada com a beleza e a jovialidade do rapaz a senhora, de imediato, convida-o para entrar em sua casa e tomar um café. Constrangido e surpreso com a situação, o rapaz nega, mas Maria Angélica insistiu até que ele aceitasse o convite. O assédio e o desejo da senhora não pararam por aí como podemos ver no momento em que o rapaz, já na casa de Maria Angélica, comia o lanche que ela havia oferecido:
Enquanto ele comia pouco à vontade, ela embevecida o olhava. Ele era a força, a juventude, o sexo há muito tempo abandonado […] Observou que ele tinha umas poucas espinhas no rosto. Mas isso não lhe alterava a beleza e a masculinidade: os hormônios lá ferviam. Aquele, sim, era um homem (LISPECTOR, 2020, p. 69-70).
O trecho acima expõe não somente o desejo de uma personagem idosa, mas uma realidade social que não é bem vista e ainda é estigmatizada pela sociedade. E é justamente isso que a narrativa busca expor por meio do cômico, criticando e denunciando essa repulsa da população. Além disso, é importante destacar outra temática de suma relevância, a desigualdade de gênero. Tendo em vista que a ideologia machista é dominante na sociedade, podemos dizer, portanto, que o “espanto” ao saber que Maria Angélica tem um amante de dezenove anos é maior por ela ser uma mulher, pois o mais aceito e natural seria o de que um homem de mais idade tivesse uma amante tão jovem.
Quando Maria Angélica troca a roupa que estava por uma mais sensual e transparente ao ponto de se ver as marcas de suas calcinhas, além da vaidade, podemos identificar a quebra de expectativa mais uma vez, já que imaginamos que ela foi vestir provavelmente uma roupa mais bonita, talvez até mais sensual, não uma roupa transparente a ponto de lhes mostrar as marcas da calcinha. Além de quebrar o decoro de uma senhora de tal idade, essa atitude nos mostra que a opção por esse tipo de roupa foi uma estratégia que ela utilizou para tentar seduzir o jovem rapaz. Ainda sobre esse momento, é possível observar o cômico da situação, em geral.
Visto que falar de coisas pequenas de maneira tão grandiosa é exagerar, podemos identificar nesse corpus algumas passagens das quais se nota a comicidade por meio do exagero, como podemos ver no momento em que o jovem já está na casa de Angélica e ela lhe dá um beijo que quase o “devorou”: “Deixe eu lhe dar um beijinho! O rapaz se espantou, estendeu-lhe o rosto. Mas ela alcançou bem depressa a boca quase a devorou” (LISPECTOR, 2020, p. 70).
Com a estratégia de atrair o rapaz por meio da sedução não dando certo, ela escolhe uma segunda estratégia, que é tentar “comprá-lo”: “Eu lhe dou um presente grande! Eu lhe dou um carro! Carro? Os olhos do rapaz faiscaram de cobiça. Um carro! Era tudo o que desejava na vida. Perguntou desconfiado: – Um Karmann Ghia? – Sim, meu amor, o que quiser!” (LISPECTOR, 2020, p. 71). O jovem, cheio de cobiça e também de vaidade, se excita com a ideia de possuir um carro, mas a ambição era tão grande que ele logo pergunta desconfiado e ganancioso: “Um karmann ghia?” (LISPECTOR, 2020, p. 71). Esse modelo de automóvel possuía um estilo mais esportivo, mais belo e que chamaria mais atenção, o que alimentaria ainda mais sua vaidade e seu ego. Maria Angélica, possuída pelo desejo, lhe responde rapidamente e de forma positiva, além de já se sentir íntima dele: “Sim, meu amor, o que quiser!” (LISPECTOR, 2020, p. 71).
Na teoria do riso, Bergson (1983) descreve o efeito bola de neve como um conjunto de ações que com o decorrer do tempo piora cada vez mais e quanto mais a bola de neve rola, mais ela aumenta. Trazendo essa ideia ao texto, podemos ver esse efeito na vida do jovem rapaz que, primeiramente, tinha nojo da senhora, em seguida, se torna um rebelado e, por fim, ficou impotente, como temia, ou seja, quanto mais o tempo passava e mais encontros ele tinha com ela, mais a bola de neve se avolumava, mais nojo ele tinha da senhora, passando a não conseguir sair com mais nenhuma mulher:
Maria Angélica dava gritinhos na hora do amor. E Alexandre tendo que suportar com nojo, com revolta. Transformou-se num rebelado para o resto da vida. Tinha a impressão de que nunca mais ia poder dormir com uma mulher. O que aconteceria mesmo: aos vinte e sete anos ficou impotente (LISPECTOR, 2020, p. 71).
Outro ponto que podemos abordar no trecho acima é a inversão de papéis, que se trata de “Uma situação que se volta contra quem a criou” (BERGSON, 1983, p. 48). No conto em análise, ao invés da senhora de sessenta anos ter uma diminuição da libido, em virtude de sua idade avançada, o rapaz, no pico de seus dezenove anos, fica impotente por conta das situações criadas, ou seja, os papéis desses indivíduos são invertidos.
Não satisfeito com o carro, o jovem busca alimentar ainda mais sua vaidade, só que agora cuidando da pele e comprando roupas caras, sem falar que, por vergonha e repulsa, ele não morava com ela. Assim, logo ele escolhe um hotel de luxo para se instalar, deixa o emprego e passa a depender totalmente dos bens de Angélica, como uma forma de “recompensa” por ter se tornado amante de uma senhora sendo ele tão jovem:
E tornaram-se amantes. Ele, por causa dos vizinhos, não morava com ela. Quis morar num hotel de luxo: tomava café na cama. E logo abandonou o emprego. Comprou camisas caríssimas. Foi a um dermatologista e as espinhas despareceram (LISPECTOR, 2020, p. 71).
Outro ponto interessante a se observar é a presença do estereótipo sobre jovens que têm relação com pessoas mais velhas somente por interesse: “Pouco se importava com as criadas que quase riam na sua cara. Uma amiga advertiu-lhe: Maria Angélica, você não vê que o rapaz é um pilantra? Que está explorando você?” (LISPECTOR, 2020, p. 71). A amiga fala que ele a explora e, de fato, ele faz isso. Porém, ele não é o único explorador dessa relação, já que em troca de seus bens, ela o tem como amante: um rapaz muito jovem, belo e cheio de vitalidade, enquanto ela é apenas uma senhora e, talvez, por conta dessa relação ser verdadeiramente sustentada pelo interesse de ambas as partes é que ela não dava importância aos risos das empregadas e ao conselho da amiga, porque se via nessa situação.
Chegando ao fim do texto, vemos o recurso do exagero aparecer mais uma vez: “Cinco dias depois ele voltou, todo pimpão, todo alegre. Trouxe-lhe de presente uma lata de goiabada cascão. Ela foi comer e quebrou um dente. Teve que ir ao dentista para pôr um dente falso” (LISPECTOR, 2020, p. 72). Apesar do exagero, um ponto importante a se observar é que a goiabada, em si, é um alimento mole, o que nos mostra e enfatiza ainda mais a velhice de Maria Angélica, que é tanta a ponto de se quebrar um dente ao comer uma goiabada.
Além do exagero, quando se fala que ela quebrou um dente ao morder uma goiabada cascão, pode-se dizer, também, que o riso advém da insensibilidade que é um dos elementos fundamentais para que ele aconteça. Rimos de Maria ao quebrar um dente por estarmos anestesiados em relação ao nosso emocional, pois se nós nos compadecermos em relação a ela, ou se tivéssemos um grau de parentesco como de um filho ou neto, certamente não iríamos rir dessa situação. Essa insensibilidade é bem similar à neutralidade debatida por Freud (1977). Segundo ele, é essencial que não haja nenhum “[…] grau de benevolência ou uma espécie de neutralidade, uma ausência de qualquer fator que pudesse provocar sentimentos opostos ao propósito dos chistes” (FREUD, 1977, p. 168).
Sobre esse conto, podemos concluir que o cômico é utilizado, principalmente, como uma ferramenta de denúncia e crítica ao preconceito e à desigualdade de gênero, visto que na sociedade em que estamos inseridos o público feminino é mais estigmatizado em relação ao masculino, principalmente em casos como o de Maria Angélica. É possível ver a crítica sobre as relações de interesse, o rapaz se aproveitava dos bens de Maria ou ela se aproveitava da juventude dele? Além de mostrar que, enquanto humanos, independente da faixa etária, possuímos desejos, e este é um dos principais pontos aqui expostos.
Sendo assim, vemos que, em ambos os contos, o cômico foi o meio de expor os desejos reprimidos, de fazer denúncias, mas essas não são as únicas semelhanças entres os corpora. Como exemplo, podemos citar ainda a busca pela satisfação sexual das duas personagens, o protagonismo feminino e as narrativas de episódios únicos. Essas são apenas algumas das semelhanças que os contos compartilham entre si e que serão mais detalhadas adiante.
3. Contrapontos e semelhanças entre os contos
Assim como os célebres romances clariceanos, os textos em análise trazem como personagem principal uma figura feminina que rompe com os padrões das mulheres que eram apresentadas na literatura até o século XX. Nesse período, a mulher era sempre vista como a submissa, a esposa, mas em seu primeiro romance, Perto do coração selvagem (1944), Clarice já trouxe uma personagem que fugia dos padrões, por ser intensa, fria, por buscar se descobrir e ter liberdade, causando impacto, inclusive, na crítica. Assim como Joana, Madre Clara também rompe paradigmas, visto que a religião tem grande influência na sociedade, mas Clara vem, mostra seu íntimo e busca satisfazer seus desejos. Já Maria Angélica, também reformula estereótipos. Essa personagem de sessenta anos foi retratada como uma mulher que possuía desejos, vaidade, que era ativa, não uma senhora doente, rabugenta. Clarice traz nos dois contos a mulher como protagonista, mas, sobretudo, autêntica, que toma decisões, que busca a liberdade e a satisfação, fugindo ao padrão de submissão de então.
Essa revolução feminina, principalmente como personagem central nesses corpora, assim como nos contos “O corpo” e “Miss Algrave”, lançados em A via crucis do corpo (1974), é também uma descrição ousada dessa figura para aquela década, já que essas mulheres tomaram iniciativas para satisfazer seus desejos, principalmente os sexuais, que é um assunto tabu para a sociedade, mas que foi exposto de maneira sutil, mesmo nos momentos mais peculiares das narrativas, como no momento em que Maria Angélica mantinha relações sexuais com o jovem: “O que se passou em seguida foi horrível. Não é necessário saber. Maria Angélica – oh, meu Deus, tenha piedade de mim, me perdoe por ter que escrever isto! Maria Angélica dava gritinhos na hora do amor” (LISPECTOR, 2020, p. 71).
Os nomes dessas personagens merecem também um pouco de atenção, quanto aos significados ou ao que eles podem estar relacionados. Sendo assim, “Madre Clara” pode ser uma referência à Santa Clara. Esta foi uma mulher que entrou no convento mesmo sendo contra a vontade da família e seguiu na vida religiosa, enquanto aquela fez tudo completamente ao contrário: entrou no convento por imposição da família, mas acabou largando tudo e se casou. Clara pode ser, ainda, uma referência à clareza, inteligência, entendimento que a personagem possuía quanto as coisas que ela sentia e almejava. Já Maria Angélica pode ser uma alusão à Maria, a mãe de Jesus no cristianismo, e Angélica, como o próprio nome diz, uma associação aos anjos, ao que é puro e angelical. Essas escolhas chegam também a ser cômicas devido a ironia, que é um recuso cômico, pois as personagens são totalmente diferentes das figuras religiosas citadas.
Outro ponto que merece destaque são as epígrafes que Clarice coloca na primeira página de A via crucis do corpo:
“A minha alma está quebrada pelo teu desejo”.
(SALMOS 119:12)
“Eu, que entendo o corpo. E suas cruéis exigências. Sempre conheci o corpo. O seu vorteante. O Corpo grave”.
(Personagem meu ainda sem nome)
“Por essas cousas eu ando chorando. Os meus olhos destilam águas”.
(Lamentações de Jeremias)
“E bendiga toda a carne o seu santo nome para todo o sempre”.
(Salmo de David)
“Quem viu jamais vida amorosa que não a visse afogada nas lágrimas do desastre ou do arrependimento?”
(Não sei de quem é)
(apud LISPECTOR, 2020, p. 7).
De modo comum, as epígrafes focam no corpo e no desejo, que são uma das características principais das personagens analisadas, assim como outras personagens de outros contos desse livro, como é o exemplo de “Miss Algrave” e “O corpo”. Já o título do livro A via crucis do corpo pode ter como objetivo prenunciar o corpo nessas histórias e, provavelmente, contrapor o sofrimento de Cristo aos das personagens, sejam por motivos culturais criados pela sociedade e que as fazem sofrer, como é o preconceito que Maria Angélica sofre por ser mais velha, ou seja por motivos religiosos, que é o caso da Madre.
A parte final de “Mas vai chover” pode ser uma metáfora utilizada pela escritora para descrever a tristeza e o choro de Angélica ao ter sido abandonada pelo jovem: “Doía-lhe o corpo todo. Depois foi devagar sentar-se no sofá da sala. Parecia uma ferida de guerra. Mas não havia cruz vermelha que a socorresse. Estava quieta, muda. Sem palavra nenhuma a dizer. – Parece – pensou – Parece que vai chover” (LISPECTOR, 2020, p. 72). Além desse aspecto, essa parte final pode estar ligada as epígrafes de A via crucis do corpo, especificamente aos sentimentos de tristeza e desilusão amorosa.
As personagens dos contos em análise possuem a mesma “inquietação”, “conflito”, que é o desejo sexual, intensificado e desenvolvido de modo particular em cada narrativa. Sobre essa tensão, é importante destacar que a de Maria Angélica foi resolvida apenas temporariamente, já que ela não conseguiria manter sua relação com o rapaz de outra forma que não fosse “comprando-o”, enquanto seu dinheiro durasse, como de fato aconteceu. Já em “Melhor do que arder” a tensão conflitiva foi resolvida e a personagem teve um final feliz.
Ainda sobre a ideia de conflito, Nunes afirma que: “Na maioria dos contos da autora, o episódio único que serve de núcleo à narrativa é um momento de tensão conflitiva” (NUNES, 1995, p. 84, grifo do autor). Os corpora analisados possuem um episódio único e a tensão conflitiva que as personagens passam consiste no desejo sexual e nas ações que praticam para saírem desse conflito: “Assim, em certos contos, a tensão conflitiva se declara subitamente e estabelece uma ruptura do personagem com o mundo” (NUNES, 1995, p. 84). O conflito que se estabelece em “Melhor do que arder” rompe com o espaço social que Madre Clara ocupava na igreja. No entanto, ela construiu um espaço em que pôde viver sem o conflito, mostrando-nos, mais uma vez, a importância das obras dessa autora, das questões levantadas e dos significados trazidas por ela até nas entrelinhas.
Por tantos aspectos já debatidos e apontados, são evidentes o impacto e a relevância das produções de Clarice, que ocorre desde o lançamento de Perto do coração selvagem, que impressionou pelo rompimento e pela transgressão no estilo do romance. Para reafirmar isso, Nunes cita o crítico literário Cândido, a fim de demonstrar que essa escritora se aproxima de escritores como Mário de Andrade por possuir “O domínio da palavra sobre regiões mais complexas e mais inexprimíveis, ou fazer da ficção uma forma de conhecimento do mundo e das ideias” (NUNES, 1995, p. 11-12). As temáticas que cada corpus trouxe, como por exemplo, os desejos sexuais de uma madre e de uma senhora de terceira idade, são assuntos tabus na sociedade e exemplos claros de “regiões complexas e mais inexprimíveis” em que um escritor pode mergulhar e trazer à tona para a sociedade.
Considerações finais
Em ambos os contos, Clarice se utiliza bastante e de forma inteligente do cômico e de seus processos. Desse modo, concluímos que o cômico em “Melhor do que arder”, foi usado, principalmente, como uma ferramenta de denúncia e crítica às práticas religiosas ocultas de figuras religiosas, além de expor os desejos reprimidos desses indivíduos. Clarice buscou, por meio do cômico, trazer à tona um tema que é considerado tabu: os desejos de uma madre. Levando-nos, assim, a refletir sobre nossos desejos enquanto humanos, pois apesar da crença, do juramento e abdicações das pessoas, os desejos não são eliminados.
Em “Mas vai chover”, vemos o cômico sendo utilizado como uma ferramenta de denúncia e crítica ao preconceito e à desigualdade de gênero, pois se Maria Angélica fosse a mais nova da relação o texto seria menos estigmatizado e teria menos impacto. Como já foi mencionado, é possível ver a crítica aos estereótipos atribuídos às mulheres idosas e às relações de interesse. Em comum ao outro conto, vemos nessa narrativa nossas condições e desejos enquanto humanos, já que, independente da faixa etária, os possuímos, e este é um dos pontos crucias nesses enredos.
Por fim, é possível concluir que os processos cômicos não só nos permitem entender e caracterizar os personagens, como também nos aproximar deles, já que todos nós possuímos algum tipo de vaidade ou desejo reprimido, por exemplo. A comicidade nesses corpora é, por fim, um convite à reflexão e ao aprendizado para um novo olhar e perspectiva sobre as pessoas da sociedade e, sobretudo, sobre a figura feminina que, normalmente, é mais estigmatizada.
Referências
BERGSON, H. O riso: ensaio sobre a significação do cômico. 2ª ed. Tradução: Nathanael C. Caxeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.
LISPECTOR, C. A via crucis do corpo. Rio de Janeiro: Rocco, 2020.
FREUD, S. Os chistes e sua relação com o inconsciente. Tradução: Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1977. Vol. III.
JOLLES, A. O Chiste. In: JOLLES, A. Formas simples. Tradução: Álvaro Cabral. São Paulo: Cultrix, 1976. P. 205 – 216.
NUNES, B. O drama da linguagem. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1995.