O transbordar da escrita de Alê Motta: a literatura viva-potente-necessária

Maysa da Silva Monteiro

“Escrevo porque não consigo não escrever”. Nas palavras de Alê Motta, tem-se a concretude de algo muito bonito: viva a Literatura Contemporânea! Alê, nascida em São Fidélis, no interior do Rio de Janeiro, é arquiteta formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Participou da antologia 14 novos autores brasileiros, organizada pela escritora Adriana Lisboa. Assim, entre esse e outros atravessamentos-encontros lindos da vida, nasceram dois livros: Interrompidos (Reformatório, 2017) e Velhos (Reformatório, 2020).

Nesta entrevista, Alê Motta nos conta sobre o transbordar da escrita através de contos, em que a narrativa curta abre infinitas possibilidades de pensar-refletir sobre temáticas necessárias – e evitadas – na sociedade. Que a literatura continue nos sacudindo! Agora, com vocês, Alê Motta:

 

1. Entre os atravessamentos da vida, como surgiu a Alê escritora? Por que você escreve?

Desde criança, meu sonho era ser escritora. Fiz Arquitetura na UFRJ, atuei e atuo na área de execução de obras, mas nunca deixei de escrever.

Escrevo porque não consigo não escrever.

 

2. Ao abordar, em seus contos, questões importantíssimas da sociedade, você traz a realidade de forma crua e real. Tendo isso em vista, para você, o que é Literatura?

É arte, é condutora de emoções. Tem o poder de atrair, incomodar, alegrar e sacudir, remexer, desequilibrar.

 

3. Alê, como foi o processo de escolha/encontro com a temática de Velhos? Como foi seu processo criativo?

Meu VELHOS nasceu de um desafio. Eu estava tomando um café com o querido escritor Marcelino Freire, e ele comentou que eu deveria escrever sobre a velhice.

Um desafio do Marcelino não pode ser ignorado, não é mesmo? 😊

Cheguei em casa e criei uma pasta no computador: VELHOS. Durante muito tempo eu escrevia, e inseria os textos na pasta VELHOS. Demorei a perceber que tinha ali um livro.

Também demorei a notar que estava num processo de observação dos velhos, no dia a dia.

 

4. Nas palavras de Itamar Vieira Junior: “Em Velhos, sua nova coletânea que tem como tema a senilidade, as personagens não estão mergulhadas em reminiscências de uma vida passada, como quase sempre vemos na literatura. Antes de tudo, elas fazem de seu declínio atual matéria para nos contar boas histórias em textos que carregam em sua brevidade a marca humana”. Como você percebe essa temática e qual a importância de discutir esse assunto na sociedade atual?

Certos assuntos, que são repetidamente ignorados, precisam ser discutidos. A finitude da vida, o menosprezo aos mais velhos. Essa mania de invisibilizar quem não é jovem, e de evitar falar da morte ou das limitações é algo terrível.

São temas inevitáveis, e refletir sobre os mesmos pode ser transformador.

 

5. Tanto em Interrompidos quanto em Velhos você escancara as cicatrizes da humanidade por meio de narrativas curtas. Qual a sua relação com o conto? Conforme a sua experiência, como escrever um bom conto? Você tem interesse em escrever alguma forma de narrativa mais extensa?

Amo os contos, sou apaixonada pelo gênero.
Para mim, um bom conto tem que incomodar, atrair. Agarrar o leitor. As narrativas curtas têm esse poder.
Acredito que sempre escreverei de forma concisa, pois é algo que faço com alegria e é como gosto de lidar com a palavra. Não obrigatoriamente contos, mas textos que sejam curtos.

 

6. O livro Velhos está na lista de obras literárias para o vestibular 2024 da Universidade Federal de Santa Catarina. Nós, da Revista Mafuá, da UFSC, ficamos muito felizes por isso e pela boa literatura contemporânea estar circulando pela educação. Alê, como está sendo a recepção de seu livro no ensino médio?

Eu também fiquei muito feliz. Uma alegria imensa e crescente! 😊

A Literatura Contemporânea tem muito a oferecer.
A recepção do meu VELHOS no ensino médio tem sido fantástica. Retornos valiosos de estudantes lendo e analisando. Muitos que já são leitores e outros tantos que, afirmavam não gostar de ler, mas se sentiram atraídos pela micronarrativa. Isso é muito lindo!

 

7. Alê, para você, o processo de escrita é um salvamento de si mesma? Pois, para nós, sua sensibilidade e potência marcadas na escrita é um salvamento. Obrigada pela sua Literatura!

Eu que agradeço a leitura do meu VELHOS. 😊

O processo de escrita é um vai e vem de emoções, amor-ódio-alegria-insatisfação, ufa! É um transbordar.
Tem tudo a ver com a vida, concorda?

 

Alê Motta