“Prós e Contras”, de Antônio Torres

Mateus dos Passos Maba

Prós e Contras

Antônio Torres

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O consenso popular afirma que não devemos falar mal de gente morta. Por este motivo, a revista Mafuá optou, através desta seção de obras raras, por deixar que os mortos falem mal uns dos outros. O livro da vez é Prós e Contras (1922), terceira e última coletânea, publicada pela editora Castilho, das crônicas e artigos do panfletário Antônio Torres (1885 – 1934). E se tem algo que não falta neste livro, o leitor verá por si próprio, é maledicência das mais bem escritas. 

Tendo sido padre em Minas Gerais, jornalista no Rio de Janeiro e diplomata na Europa, Torres ficou conhecido pela ironia violenta de suas colunas na imprensa. Seus alvos favoritos eram figuras gabaritadas da política e da cultura brasileira: Hermes Fontes, Lauro Sodré, Antônio Austregésilo e Gilka Machado são alguns exemplos de seus desafetos. O panfletário também implicava com instituições e nacionalidades inteiras: a República, a Monarquia, os portugueses, a Academia Brasileira de Letras, os positivistas, etc. Aliás, o leitor notará que o positivismo e seus defensores são particularmente esculhambados no Prós e Contras, contando alguns textos em sua “homenagem”. Para dar uma palinha, na crônica intitulada “A estátua de Benjamin”, Torres descreveu o profeta da Velha República como “um tipo intermédio entre o militar pacato e o professor belicoso” (TORRES, p. 292, 1922). Também escreveu que Constant “era amigo e apaniguado do imperador D. Pedro II. Tão amigo que resolveu livrá-lo dos encargos do governo. Ficou assim provado que a melhor maneira de fundar uma República é ser amigo de um soberano” (ibid., p. 293).

Mas nem tudo em Prós e Contras são ataques e ironias. De vez em quando, o panfletário engaveta a sua verve e discorre sobre cultura, como no artigo “O Centenário de Wagner”, e sobre a violência efêmera das páginas policiais, como em “Os Cômicos Amores de João Costa”.

Agora, não deixa de ser curioso que, apesar do sucesso editorial dos volumes publicados pela Castilho (cf: BARBOSA, 2002, p.18) e da importância histórica de muitos de seus desafetos, a obra de Torres seja tão pouco lembrada. Isto é ainda mais estranho diante do novo interesse que tem ganhado o trabalho de João do Rio. Afinal, os dois escritores eram inimigos (sim, mais um desafeto de Torres) e a historiografia literária só teria a ganhar com a leitura comparada de suas obras. Com boa fortuna, a digitalização de Prós e Contras trará novos leitores para o ex-padre polemista e o reabilitará como um dos grandes panfletários da tradição brasileira. 

Sem mais apresentações, vamos ao que importa: nos divertir às custas dos pobres fantasmas da República Velha. 

 

Referências

BARBOSA, Raul de Sá. Introdução. In: Antônio Torres: Uma Antologia. Raul de Sá Barbosa (org.). Rio de Janeiro: Topbooks, 2002

TORRES, Antônio. Prós e Contras. Rio de Janeiro: Livraria Castilho, 1922.